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Obama põe "Afe-Paqui" no foco dos EUA
Expressão resume estratégia antiterror que vê presença de radicais no Afeganistão e no Paquistão como problema único
Novo plano prevê ampliar contingente militar em 21 mil, negociar com o Taleban, envolver países da região e aumentar auxílio financeiro
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Depois de dois meses de revisão de estratégia militar, o presidente Barack Obama anunciou seu novo plano para a
Guerra do Afeganistão, conflito
que herdou de George W. Bush
e que sempre defendeu como
central no combate ao terrorismo. Desde ontem, os EUA deslocam oficialmente o foco de
sua ação militar global do Iraque para a fronteira entre Afeganistão e Paquistão.
O plano de Obama muda o
objetivo principal, de uma
guerra global contra o terrorismo que envolvia tentar implantar o modelo ocidental de democracia numa sociedade milenar e multifacetada, para um
alvo específico: a destruição da
liderança do grupo terrorista Al
Qaeda e de sua associação nem
sempre clara nem calma com a
liderança do Taleban e parte do
serviço de inteligência paquistanês. Essa ocorre sobretudo
na área porosa entre os países.
Para tanto, lançará mão mesmo de negociações com a ala
mais moderada do Taleban, o
grupo extremista que em 2001
comandava o país e dava abrigo
a Osama bin Laden e aos radicais da Al Qaeda quando do ataque de 11 de Setembro, a origem
do conflito. A avaliação obamista é que há uma "franja" de
militantes coagidos a participar
do grupo que estariam dispostos a abandonar o movimento.
A nova estratégia prevê uma
escalada militar (termo que o
democrata evitou usar, para se
distanciar de Bush) e promete
um salto nos gastos em geral
que ainda tem de ser aprovado
pelo Congresso, num momento
em que os EUA e o mundo lutam com a crise econômica.
Prevê ainda maior engajamento dos países da região, inclusive o Irã, com quem os
americanos não têm relação, e
também da Índia e da China.
Outras metas são a participação mais efetiva de organismos
multinacionais como Otan,
ONU e FMI e o aumento de
funcionários civis e diplomatas.
Além dos 17 mil soldados
anunciados em fevereiro, os
EUA enviarão 4.000 treinadores militares, elevando o total
de tropas ocidentais no país para 91 mil, sendo que dois terços
de americanos. A função dos
treinadores será aumentar o
efetivo militar e policial afegão
e recrutar milicianos do Taleban arrependidos. A tática é similar à usada na contra-insurgência iraquiana em 2006 e
2007 e tem o mesmo autor, o
general David Petraeus, hoje
chefe do Comando Central.
Obama anunciou que pedirá
ao Senado que triplique o auxílio não militar para US$ 1,5 bilhão anuais pelos próximos cinco anos. Se aprovado, o valor
será três vezes mais do que o
destinado ao Plano Colômbia e
supera todo o dinheiro destinado ao combate antidrogas no
México e na América Central.
"Afe-Paqui"
Ao detalhar seu plano ontem,
tendo ao fundo a secretária de
Estado, Hillary Clinton, o general Petraeus e o enviado especial à região, Richard Holbrooke, Obama citou sempre o nome dos dois países juntos, reforçando o conceito de uma nova entidade que a mídia local
apelidou de "Afe-Paqui".
"A Al Qaeda e seus aliados, os
terroristas que planejaram e
apoiaram os ataques do 11 de
Setembro, estão no Afeganistão
e no Paquistão", disse. "O futuro do Afeganistão está inextricavelmente ligado ao de seu vizinho, o Paquistão."
Já na campanha à Presidência, Obama defendia ação mais
dura quanto ao Paquistão, governo aliado de Washington
mas de atuação dúbia em relação aos extremistas. O primeiro
ataque autorizado pela gestão
democrata foi a uma aldeia no
país, bombardeada por avião
controlado à distância.
Ontem, ele retomou aquela
retórica, embora tenha evitado
dizer explicitamente que autorizará uma ação militar maior
no país. Depois de qualificar a
Al Qaeda e seus aliados extremistas de "câncer que arrisca
matar o Paquistão por dentro",
o democrata disse que o aumento de auxílio não será "um
cheque em branco".
"O Paquistão tem de demonstrar seu comprometimento em expulsar a Al Qaeda
e seus extremistas violentos de
suas fronteiras", afirmou. "E
nós insistiremos para que a
ação seja tomada -de um jeito
ou de outro- quando tivermos
inteligência sobre alvos terroristas de alto nível."
Diferentemente do que fez
em relação ao conflito no Iraque, que tratou sempre como
uma aventura pessoal de Bush
e do qual anunciou uma saída
escalonada tão logo assumiu o
cargo, Obama toma a Guerra do
Afeganistão para si. O sucesso
ou o fracasso da missão ajudará
a determinar o sucesso ou o fracasso de sua Presidência.
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