São Paulo, sábado, 28 de março de 2009

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Obama põe "Afe-Paqui" no foco dos EUA

Expressão resume estratégia antiterror que vê presença de radicais no Afeganistão e no Paquistão como problema único

Novo plano prevê ampliar contingente militar em 21 mil, negociar com o Taleban, envolver países da região e aumentar auxílio financeiro

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Depois de dois meses de revisão de estratégia militar, o presidente Barack Obama anunciou seu novo plano para a Guerra do Afeganistão, conflito que herdou de George W. Bush e que sempre defendeu como central no combate ao terrorismo. Desde ontem, os EUA deslocam oficialmente o foco de sua ação militar global do Iraque para a fronteira entre Afeganistão e Paquistão.
O plano de Obama muda o objetivo principal, de uma guerra global contra o terrorismo que envolvia tentar implantar o modelo ocidental de democracia numa sociedade milenar e multifacetada, para um alvo específico: a destruição da liderança do grupo terrorista Al Qaeda e de sua associação nem sempre clara nem calma com a liderança do Taleban e parte do serviço de inteligência paquistanês. Essa ocorre sobretudo na área porosa entre os países.
Para tanto, lançará mão mesmo de negociações com a ala mais moderada do Taleban, o grupo extremista que em 2001 comandava o país e dava abrigo a Osama bin Laden e aos radicais da Al Qaeda quando do ataque de 11 de Setembro, a origem do conflito. A avaliação obamista é que há uma "franja" de militantes coagidos a participar do grupo que estariam dispostos a abandonar o movimento.
A nova estratégia prevê uma escalada militar (termo que o democrata evitou usar, para se distanciar de Bush) e promete um salto nos gastos em geral que ainda tem de ser aprovado pelo Congresso, num momento em que os EUA e o mundo lutam com a crise econômica.
Prevê ainda maior engajamento dos países da região, inclusive o Irã, com quem os americanos não têm relação, e também da Índia e da China. Outras metas são a participação mais efetiva de organismos multinacionais como Otan, ONU e FMI e o aumento de funcionários civis e diplomatas.
Além dos 17 mil soldados anunciados em fevereiro, os EUA enviarão 4.000 treinadores militares, elevando o total de tropas ocidentais no país para 91 mil, sendo que dois terços de americanos. A função dos treinadores será aumentar o efetivo militar e policial afegão e recrutar milicianos do Taleban arrependidos. A tática é similar à usada na contra-insurgência iraquiana em 2006 e 2007 e tem o mesmo autor, o general David Petraeus, hoje chefe do Comando Central.
Obama anunciou que pedirá ao Senado que triplique o auxílio não militar para US$ 1,5 bilhão anuais pelos próximos cinco anos. Se aprovado, o valor será três vezes mais do que o destinado ao Plano Colômbia e supera todo o dinheiro destinado ao combate antidrogas no México e na América Central.

"Afe-Paqui"
Ao detalhar seu plano ontem, tendo ao fundo a secretária de Estado, Hillary Clinton, o general Petraeus e o enviado especial à região, Richard Holbrooke, Obama citou sempre o nome dos dois países juntos, reforçando o conceito de uma nova entidade que a mídia local apelidou de "Afe-Paqui".
"A Al Qaeda e seus aliados, os terroristas que planejaram e apoiaram os ataques do 11 de Setembro, estão no Afeganistão e no Paquistão", disse. "O futuro do Afeganistão está inextricavelmente ligado ao de seu vizinho, o Paquistão."
Já na campanha à Presidência, Obama defendia ação mais dura quanto ao Paquistão, governo aliado de Washington mas de atuação dúbia em relação aos extremistas. O primeiro ataque autorizado pela gestão democrata foi a uma aldeia no país, bombardeada por avião controlado à distância.
Ontem, ele retomou aquela retórica, embora tenha evitado dizer explicitamente que autorizará uma ação militar maior no país. Depois de qualificar a Al Qaeda e seus aliados extremistas de "câncer que arrisca matar o Paquistão por dentro", o democrata disse que o aumento de auxílio não será "um cheque em branco".
"O Paquistão tem de demonstrar seu comprometimento em expulsar a Al Qaeda e seus extremistas violentos de suas fronteiras", afirmou. "E nós insistiremos para que a ação seja tomada -de um jeito ou de outro- quando tivermos inteligência sobre alvos terroristas de alto nível."
Diferentemente do que fez em relação ao conflito no Iraque, que tratou sempre como uma aventura pessoal de Bush e do qual anunciou uma saída escalonada tão logo assumiu o cargo, Obama toma a Guerra do Afeganistão para si. O sucesso ou o fracasso da missão ajudará a determinar o sucesso ou o fracasso de sua Presidência.


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