São Paulo, sábado, 28 de março de 2009

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"Estratégia repete Bush, e até neocons a achariam napoleônica", diz conservador

DE WASHINGTON

Para o analista militar conservador Edward Luttwak, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), de Washington, o plano de Barack Obama para o Afeganistão é o que faria seu antecessor, o republicano George W. Bush, e não deve funcionar: (SD)

 

FOLHA - O que o sr. achou do plano anunciado por Obama?
EDWARD LUTTWAK
- É formulado pelos chefes militares, ou seja, pelo general David Petraeus, e é essencialmente o mesmo plano que George W. Bush faria. A ambição maior do plano não é derrotar o Taleban, mas mudar o Afeganistão, um projeto que mesmo os neoconservadores chamariam de movediço e napoleônico.

FOLHA - Por quê?
LUTTWAK
- A começar pelo número de soldados a ser enviado. Um contingente viável no Afeganistão é necessariamente menor, pelas características logísticas do país -não há porto e o transporte aéreo é limitado. O acordo de transporte entre Rússia e EUA é importante, mas só contempla suprimentos não usados no combate, ou seja, nada de soldados nem armas. Já o número de soldados treinadores é puro Petraeus, pois ele viu que deu certo no Iraque e imagina que dará certo no Afeganistão. Não vai dar, por conta das divisões étnicas do país, que são diferentes e mais profundas. Basicamente, os afegãos treináveis não são do Taleban, e os do Taleban dispostos a colaborar com os americanos não são treináveis. A parte napoleônica é querer mandar um exército de civis americanos, da Otan e da ONU para aldeias afegãs e paquistanesas para mudar mentes, incluindo a noção de direitos das mulheres e meninas. O centro da ideologia extremista islâmica do Taleban tem a ver com um hipermachismo, a glorificação do homem ao tornar as mulheres animais domésticos. Mudar isso é como ir ao Brasil e dizer: "A partir de agora, estão proibidos o cafezinho, a feijoada e o Carnaval". Para eles, a mulher oprimida é o centro. Toda vez que o Taleban faz acordo, como no vale do Swat, recentemente, essa é a demanda número um, que não se mexa com os costumes das mulheres. É uma obsessão que reflete tanto o islamismo mais radical como os costumes locais afegãos, que precedem a religião. Por fim, [o assessor de Segurança Nacional] James Jones, [a secretária de Estado] Hillary Clinton e [o enviado especial] Richard Holbrooke estão basicamente fazendo o que Bush faria, com uma diferença: os aliados serão convocados a participar mais. Na Europa, onde Obama foi apoiado sobretudo por suas posições mais esquerdistas, prevejo decepção.

FOLHA - Em geral, o sr. acha que o plano vai dar certo?
LUTTWAK
- Acho que vai custar muito dinheiro e muito capital político presidencial, isso sim. E vai custar a Obama a perda do apoio dos progressistas. Muita gente votou nele achando que ele não faria esse tipo de intervenção militar. E o presidente descobriu que há uma intervenção militar porque não há alternativa no Afeganistão.


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