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"Estratégia repete Bush, e até neocons a achariam napoleônica", diz conservador
DE WASHINGTON
Para o analista militar conservador Edward Luttwak, do
Center for Strategic and International Studies (CSIS), de
Washington, o plano de Barack
Obama para o Afeganistão é o
que faria seu antecessor, o republicano George W. Bush, e
não deve funcionar:
(SD)
FOLHA - O que o sr. achou do plano
anunciado por Obama?
EDWARD LUTTWAK - É formulado
pelos chefes militares, ou seja,
pelo general David Petraeus, e é
essencialmente o mesmo plano
que George W. Bush faria. A
ambição maior do plano não é
derrotar o Taleban, mas mudar
o Afeganistão, um projeto que
mesmo os neoconservadores
chamariam de movediço e napoleônico.
FOLHA - Por quê?
LUTTWAK - A começar pelo número de soldados a ser enviado.
Um contingente viável no Afeganistão é necessariamente
menor, pelas características logísticas do país -não há porto e
o transporte aéreo é limitado. O
acordo de transporte entre
Rússia e EUA é importante,
mas só contempla suprimentos
não usados no combate, ou seja,
nada de soldados nem armas.
Já o número de soldados treinadores é puro Petraeus, pois
ele viu que deu certo no Iraque
e imagina que dará certo no
Afeganistão. Não vai dar, por
conta das divisões étnicas do
país, que são diferentes e mais
profundas. Basicamente, os
afegãos treináveis não são do
Taleban, e os do Taleban dispostos a colaborar com os americanos não são treináveis.
A parte napoleônica é querer
mandar um exército de civis
americanos, da Otan e da ONU
para aldeias afegãs e paquistanesas para mudar mentes, incluindo a noção de direitos das
mulheres e meninas. O centro
da ideologia extremista islâmica do Taleban tem a ver com
um hipermachismo, a glorificação do homem ao tornar as mulheres animais domésticos.
Mudar isso é como ir ao Brasil e dizer: "A partir de agora,
estão proibidos o cafezinho, a
feijoada e o Carnaval". Para
eles, a mulher oprimida é o centro. Toda vez que o Taleban faz
acordo, como no vale do Swat,
recentemente, essa é a demanda número um, que não se mexa com os costumes das mulheres. É uma obsessão que reflete
tanto o islamismo mais radical
como os costumes locais afegãos, que precedem a religião.
Por fim, [o assessor de Segurança Nacional] James Jones,
[a secretária de Estado] Hillary
Clinton e [o enviado especial]
Richard Holbrooke estão basicamente fazendo o que Bush
faria, com uma diferença: os
aliados serão convocados a participar mais. Na Europa, onde
Obama foi apoiado sobretudo
por suas posições mais esquerdistas, prevejo decepção.
FOLHA - Em geral, o sr. acha que o
plano vai dar certo?
LUTTWAK - Acho que vai custar
muito dinheiro e muito capital
político presidencial, isso sim.
E vai custar a Obama a perda do
apoio dos progressistas. Muita
gente votou nele achando que
ele não faria esse tipo de intervenção militar. E o presidente
descobriu que há uma intervenção militar porque não há
alternativa no Afeganistão.
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