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VISÃO AMERICANA
Presidente consegue usar mídia com habilidade
Clinton usa ataques
para limpar imagem
MARCIO AITH
de Washington
Com um sufocante bombardeio aos meios
de comunicação, o presidente Bill Clinton
está usando o
ataque militar à
Iugoslávia para purificar sua imagem junto à população norte-americana.
Há seis semanas, ele escapou de
um processo de impeachment que
não lhe tirou o cargo, mas ameaçava marcar seu legado político.
Desde terça-feira passada, quando a Otan deu o sinal verde para os
bombardeios a posições militares
sérvias, o presidente e seus principais assessores civis e militares exibem ininterruptamente na televisão, em discursos e entrevistas,
imagens alusivas a conflitos militares históricos e ao Holocausto da
Segunda Guerra Mundial.
Preparados com requinte de detalhes e elogiados por praticamente todos os estrategistas políticos
em Washington, os discursos retratam Clinton como uma nova estirpe de estadista; o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, como um novo Adolf Hitler.
Os primeiros efeitos foram sentidos de maneira intensa na oposição republicana, que se retraiu.
Oficialmente, como no último ataque militar ao Iraque e nos bombardeios dos EUA a supostos alvos
terroristas no Sudão e no Afeganistão (em 1998), o Congresso controlado pelos republicanos manteve
seu padrão de comportamento:
apoiou as tropas americanas e
mostrou reservas quanto aos resultados da política de Clinton.
A timidez dos republicanos começou com o primeiro "ataque"
de Clinton, na terça-feira passada.
Munido de um mapa da região do
conflito, o presidente conseguiu
ser didático e épico.
"Sarajevo, capital da Bósnia, é
onde a Primeira Guerra Mundial
começou. A Segunda Guerra Mundial e o Holocausto envolveram essa região. Em ambas as guerras a
Europa foi lenta em reconhecer os
perigos, e os EUA esperaram ainda
mais para entrar nos conflitos.
Apenas imagine se os líderes de então tivessem agido com mais sabedoria e previamente, quantas vidas
poderiam ter sido salvas, quantos
americanos não teriam morrido".
Foi somente o começo. Pesquisas
encomendadas pela Casa Branca
revelavam que a imensa maioria
da população desconhecia o presidente Slobodan Milosevic e a região de Kosovo.
Clinton foi à rede nacional de TV
na noite do primeiro bombardeio,
quarta-feira, e repetiu o tom histórico de seu primeiro discurso.
O presidente voltou à cena em
conversas informais com jornalistas e por meio de um vídeo gravado dirigido ao povo sérvio e transmitido via satélite pela inteligência
militar norte-americana aos lares
iugoslavos.
Ironicamente, esse vídeo foi visto
somente pelos norte-americanos,
exibido à exaustão pelas redes de
TV do país. O vídeo teve como
ponto alto a participação especial
da secretária de Estado, Madeleine
Albright, que falou aos iugoslavos
na língua servo-croata. Quando
criança, Albright morou em Belgrado acompanhando seu pai numa missão diplomática.
Apesar da intensidade, os efeitos
da campanha de Clinton sobre sua
popularidade ainda são incertos.
Pesquisa divulgada na quinta-feira à noite indica que uma maioria pouco expressiva apóia a participação dos Estados Unidos nos
bombardeios da Otan.
A pesquisa, da rede de televisão
"CNN", do instituto Gallup e do
jornal "USA Today", revelou que
50% dos americanos aprovam a
participação dos EUA no ataque;
39% desaprovam e 11% não têm
opinião a respeito.
A pesquisa mostrou ainda que a
maioria (50%) dos entrevistados
acredita que a crise em Kosovo não
tem relação com os interesses norte-americanos. O presidente Bill
Clinton recebeu 58% de aprovação
por sua atuação na crise.
Os ataques militares a posições
sérvias também atiçaram o vice-presidente e candidato à sucessão
de Clinton, Al Gore, que quis aproveitar politicamente o conflito.
Com baixos índices de popularidade, Gore chamou Milosevic de
"ditador com sangue literalmente
pingando de suas mãos".
Segundo uma pesquisa divulgada em 15 de março pelo "The Washington Post", Gore perderia as
eleições presidenciais para o governador republicano do Texas,
George W. Bush: 68% dos entrevistados acham que Bush tem a liderança necessária para exercer a
Presidência. Apenas 41% acham
que Gore tem a capacidade de comandar os EUA.
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