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ATAQUE À IUGOSLÁVIA
Especialista fala sobre o clima de tensão na região e sobre a possibilidade de a guerra se alastrar
Conflito pode tomar Bálcãs, diz estudioso
ISABEL CLEMENTE
de Londres
Berço da Primeira Guerra
Mundial, os Bálcãs levam o estigma de poder
deflagrar uma
nova guerra generalizada, que
arraste os vizinhos da Iugoslávia.
"A possibilidade sempre existiu",
diz Spyros Economides, estudioso
de Bálcãs da London School of
Economics.
Formada hoje por apenas duas
Repúblicas (Sérvia e Montenegro),
a Iugoslávia continua sendo o epicentro de um movimento separatista, em Kosovo, que pode contagiar os albaneses espalhados por
países, como a Macedônia.
É difícil apontar quando os conflitos atuais na região dos Bálcãs
começaram, mas a morte do presidente comunista da antiga Iugoslávia, Josip Broz Tito, em 80, abriu
caminho para o desmantelamento
do país, explica Economides.
Folha - Quais os riscos de a atual
guerra evoluir e envolver os países
vizinhos à Iugoslávia?
Economides - É sempre uma possibilidade devido ao grande número de minorias étnicas e religiosas
espalhadas pela região. Mas, levando em conta as recentes atitudes dos países vizinhos a Kosovo,
percebe-se que têm evitado se envolver com a crise. A Albânia deixou claro que, apesar de preocupada com o que está ocorrendo, não
vai tomar nenhuma medida agora.
O perigo, obviamente, é a Macedônia (que fazia parte da Iugoslávia e ficou independente em 91),
onde, pelo menos, 20% ou 25% da
população é de origem albanesa.
Se refugiados de Kosovo (também
de origem albanesa) começarem a
transpor as fronteiras, como já
vem acontecendo, é possível que a
maioria eslava reaja novamente,
como fez em 97, para evitar a entrada desses grupos. O argumento
é: "já temos bastante problema
com minorias e não temos meios
econômicos para sustentá-las".
A outra possibilidade é os sérvios
partirem para ações contra as tropas da Otan baseadas na Macedônia e na Bósnia, como uma retaliação formal ao ataque. O conflito
poderia se espalhar pela região.
Folha - É possível apontar um
evento que tenha deflagrado ou
intensificado o conflito na região?
Economides - Neste século, é difícil apontar um único evento. Analisando a forma como a ex-Iugoslávia foi criada, em 1945, por Tito,
já se vê uma série de compromissos que nunca viraram realidade.
Tito estava tentando fundar um
país unindo uma variedade de grupos étnicos, oferecendo-lhes poder, mas não o suficiente para se
tornarem independentes.
Ele era uma figura carismática e,
enquanto esteve vivo, conseguiu
manter essa união pouco provável.
Com sua morte, em 1980, as várias
repúblicas passaram a competir
para ver quem controlaria a Iugoslávia. Sendo a Sérvia a maior e mais
poderosa, ela tomou o governo e
reduziu a autonomia das outras.
Os problemas começaram aí.
Folha - Em que extensão o conflito iugoslavo afeta países vizinhos?
Economides - Os vizinhos eram
muito preocupados com o desmantelamento da Iugoslávia por
várias razões. Alguns deles eram
mais felizes quando a velha Iugoslávia existia porque isso lhes poupava problemas. É o caso dos búlgaros e dos gregos, que não tinham
que se deparar com os problemas
que a Macedônia vem lhes causando, como a entrada maciça de refugiados, o potencial contágio de
uma guerra que também os envolva e os pesados custos da imposição de sanções econômicas.
Folha - Esse conflito interno da
Iugoslávia causa, aos vizinhos, prejuízo, que tenderá a aumentar com
o bombardeio da Otan.
Economides - Claro. Búlgaros e
romenos sofreram prejuízos de bilhões de dólares por ano com a imposição de sanções econômicas à
Iugoslávia pela ONU, iniciadas em
92. As rotas comerciais de Bulgária
e Romênia passam pela Iugoslávia.
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