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IRAQUE OCUPADO
Garner se reúne hoje com líderes iraquianos para debater governo interino e reconstrução
EUA prendem "prefeito autoproclamado" de Bagdá
DA REDAÇÃO
Trocando o discurso pela ação
quase três semanas após a derrubada do ex-ditador Saddam Hussein, a administração provisória
americana no Iraque prendeu ontem o prefeito autoproclamado
de Bagdá e reuniu-se com membros do regime deposto e líderes
locais para restabelecer os serviços básicos na capital.
Hoje, o general americano da
reserva Jay Garner, chefe da administração provisória dos EUA,
deve se reunir com cerca de 400 líderes iraquianos -o quádruplo
dos participantes de outra reunião, no dia 15- para debater a
reorganização política do país.
A preocupação americana é cobrir, o mais rápido possível, o vácuo de poder deixado pelo fim
dos 24 anos de ditadura de Saddam e não permitir a ascensão de
líderes não-alinhados, como Mohammed Mohsen Zubaidi, que
no início de abril se autoproclamou prefeito de Bagdá e passou a
despachar em um hotel da cidade.
Zubaidi foi detido ontem pelas
forças americanas, após advertências prévias, sob acusação de
"exercer uma autoridade a qual
ele não possui" e "obstruir os esforços de reconstrução do país".
Nas três semanas em que tentou
estabelecer um governo em Bagdá, ele nomeou um vice-prefeito,
um comissário de polícia e 22 encarregados de comitês de reconstrução, incluindo para o petróleo.
Os militares americanos também o acusam de conduzir reuniões com autoridades locais paralelas às da coalizão, por vezes
emitindo contra-ordens. Simpatizantes do líder bagdali pediram
sua soltura imediata.
"Zubaidi foi detido e removido
de Bagdá para evitar sua insistente representação distorcida de autoridade como prefeito de Bagdá
após a derrubada do regime [de
Saddam". Não houve feridos", declarou o Comando Central Americano (CCA) no Kuait.
Também ontem, as forças americanas depuseram um clérigo xiita que havia se intitulado prefeito
de Kut (leste), firmando sua autoridade sobre a cidade estratégica.
Diferentemente de Zubaidi, Sayed Abbas Fadhil deixou a prefeitura e a cidade passivamente após
receber ameaça de prisão dos militares americanos.
"A coalizão continuará a agir
com firmeza contra qualquer grupo ou indivíduo que exerça ou
reivindique autoridade política
fora da coalizão", disse o CCA.
Mãos à obra
Para preencher o vácuo no poder, as forças ocupadoras tentam
reunir sob sua égide facções tão
díspares como ex-membros da
ditadura, líderes religiosos xiitas,
representantes curdos e exilados
iraquianos, na tentativa de pincelar com cores locais a administração que, pelo menos durante os
próximos meses, estará submetida a Washington.
Com uma série de conferências
da qual a de hoje é a segunda, os
EUA buscam um consenso com
os iraquianos sobre uma "autoridade interina" que deve substituir
Garner. Esta governaria o país por
cerca de dois anos, até haver condições, segundo Washington, para a promulgação de uma Constituição e eleições democráticas,
em um modelo similar ao que está
em andamento no Afeganistão.
"Estarei aqui por pouco tempo,
para ajudar as coisas a voltarem
ao normal", disse o general Garner em um comunicado televisionado ontem aos iraquianos. "Seu
novo governo será aberto e honesto. Este é o sonho de vocês, o
meu sonho, o sonho do mundo."
Entre as cerca de 400 autoridades iraquianas que participam da
reunião com Garner hoje, devem
estar membros do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica
no Iraque -grupo xiita com sede
no Irã. Ontem, o grupo disse que
sua participação era provável,
mas exigiu que seja discutida a escolha direta de um governo pelo
povo iraquiano.
O grupo tem se abstido de trabalhar com a administração americana, defendendo um modelo
de governo islâmico para o Iraque
semelhante ao que vigora no Irã,
algo que os EUA rechaçam veementemente. Os xiitas perfazem
cerca de 60% dos 23 milhões de
iraquianos, e suas manifestações
eram coibidas durante a ditadura
laica de Saddam, um sunita.
As forças ocupadoras pretendem aproveitar inicialmente parte da estrutura administrativa do
regime de Saddam, ainda que
muitas pessoas ligadas à ditadura
sejam procuradas pelos EUA.
"Inicialmente, é óbvio que [a
administração" terá a participação de gente com experiência e
qualificação técnica que já administrou os serviços desta cidade",
declarou a diplomata Barbara Bodine, coordenadora dos EUA para a região central do Iraque.
Membros da autoridade provisória, chefiados por Bodine, se
reuniram ontem com líderes iraquianos para discutir o restabelecimento do fornecimento de
água, dos serviços de esgoto e da
coleta de lixo em Bagdá, interrompidos total ou parcialmente.
Não há, no momento, planos para
escolha de um prefeito ou administrador para a capital, disse ela.
Em Madri, após uma cúpula de
três dias, um grupo de exilados
iraquianos divulgou ontem uma
carta com mais de cem assinaturas na qual diz que o Iraque "precisa ser reconstruído como uma
democracia federal pluralista, que
respeite a diversidade política e
religiosa", e pede o julgamento de
Saddam, foragido desde o dia 9.
Com agências internacionais
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