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DIPLOMACIA
Ditador líbio faz visita histórica à Europa, em mais um passo na reaproximação com o Ocidente
União Européia recebe o ex-pária Gaddafi
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
Dezesseis anos depois do maior
atentado terrorista cometido na
Europa, condenado em cortes internacionais por ter sido o mandante desse ataque, o ditador líbio, Muammar Gaddafi, literalmente montou ontem sua tenda
de beduíno em Bruxelas.
Agentes do serviço secreto de
Gaddafi cometeram o atentado de
Lockerbie (Escócia), em 1988,
quando uma bomba derrubou
um jato de PanAm e causou a
morte de 270 pessoas. Em 2003, o
ditador aceitou indenizar as famílias dos mortos, iniciando um
processo de degelo nas suas relações com o Ocidente, a ponto de
ter renunciado a seu programa de
armas de destruição em massa.
A partir dessas atitudes, líderes
europeus começaram uma corrida à Líbia, que já foi visitada pelo
britânico Tony Blair e pelo espanhol José María Aznar, depois
derrotado nas eleições. Antes deles, o brasileiro Luiz Inácio Lula
da Silva já estivera na Líbia, sob
uma barragem de críticas.
O fato de o tapete vermelho ter
sido estendido para Gaddafi em
Bruxelas, com direito até a trazer
sua tenda de beduíno para montá-la nos jardins de Val Duchesse,
a residência oficial de visitantes
estrangeiros, não foi suficiente
para matar as polêmicas que o ditador líbio sempre desperta.
Foi recebido, à porta do edifício
que abriga a Comissão Européia,
por tambores africanos de apoio,
mas também por gritos de "assassino". A Anistia Internacional,
coincidência ou não, divulgou relatório em que diz que as violações aos direitos humanos continuam numa Líbia que veio em
busca de "normalização" de suas
relações com a União Européia.
Por mais gestos que Gaddafi tenha feito, parece evidente que sua
aceitação no coração da Europa
revela o interesse pela promessa
de abrir a economia e desestatizá-la, o que é sempre sinal de gordos
lucros para empresas ocidentais.
O novo Gaddafi deu-se ao luxo
de apontar o dedo para o Ocidente: "Esperamos não ser forçados
algum dia a voltar aos tempos em
que púnhamos bombas em nossos carros ou usávamos um cinto
com explosivos nas nossas camas
e em torno de nossas mulheres
para evitar que fôssemos molestados em nossos quartos e casas, como está acontecendo agora no
Iraque e na Palestina".
O ditador líbio prometeu aos
europeus cooperar na luta contra
o terror. Há quem acredite: Kadisha Mohsen-Finan, especialista em
mundo árabe do Instituto Francês de Relações Internacionais,
diz que, como ofereceu campos
de treinamento a terroristas no
passado, Gaddafi tem informações sobre eles.
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