São Paulo, sábado, 28 de abril de 2007

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Nos subúrbios, voto de protesto favorece candidata socialista

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Os habitantes da periferia parisiense fizeram do primeiro turno um plebiscito contra o candidato de direita Nicolas Sarkozy. O fenômeno deve se repetir ainda mais intensamente no segundo turno.
Depois de uma campanha marcada pela mobilização de ativistas comunitários para fazer os habitantes dos subúrbios votarem, foi a candidata socialista, Ségolène Royal, que saiu vitoriosa: sua porcentagem média de votos nessas regiões ficou em torno de 40%, contra 28,5% da média nacional.
Em Clichy-sous-Bois, periferia parisiense que foi o estopim da onda de violência de 2005, Ségolène obteve 41,6% contra 24,5% de Sarkozy. Segundo dados da associação AC le Feu, o número de inscritos para as eleições deste ano passou de 7.000, em 2005, para cerca de 10 mil, numa população de 28.700 habitantes. "Não fizemos campanha para nenhum candidato em especial, mas o nosso voto foi pensado para ser um voto contra Sarkozy", afirmou Samir Mihi, um dos fundadores da associação.
As políticas dos dois candidatos para essas regiões se voltam para os problemas que os próprios moradores identificam como cruciais: emprego, habitação e segurança.
Em relação ao mercado de trabalho, Ségolène e Sarkozy acenam com políticas de estímulo à formação profissional dos jovens e de aumento nos postos de trabalho para o primeiro emprego. Sobre a moradia, ambos fazem coro em favor da ampliação da construção de residências populares. No caso de Sarkozy, há a nuance da ênfase à ampliação do acesso à propriedade.
Em visita à cidade de Aulnay-sous-Bois, ao norte de Paris, a reportagem da Folha viu uma paisagem urbana típica das periferias francesas: grandes conjuntos habitacionais, os "HML" (sigla em francês que significa algo como habitação com aluguel moderado), com paredes descascadas e problemas de iluminação.
A prefeitura de Aulnay-sous-Bois, cujo prefeito é da UMP (União por um Movimento Popular), partido de Sarkozy, afirma que o orçamento para a renovação dos HML é de 260 milhões. A construção das novas moradias está em andamento, mas ainda é visível a cisão entre a parte norte de Aulnay, repleta dos grandes conjuntos, e a parte sul, mais rica, com sobradinhos. Apesar de seu partido estar na prefeitura, Sarkozy também foi batido por Ségolène: 33,8% contra 28,9%.

Fosso na segurança
No quesito segurança, há um fosso entre os programas de Ségolène e Sarkozy. Uma das propostas principais do candidato da UMP, que ocupou o Ministério do Interior por cinco anos, é endurecer a ação policial.
Na periferia, há o temor de que um aumento de batidas policiais vise, especialmente, os jovens descendentes de imigrantes. Não é raro encontrar os cartazes de campanha de Sarkozy com pichações de um bigode à la Hitler.
Ségolène propõe a criação de uma polícia de vizinhança para estreitar os laços com os habitantes locais. Segundo a candidata, uma força policial conhecida dos moradores seria um instrumento de prevenção de atos violentos.


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