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Nos subúrbios, voto de protesto favorece candidata socialista
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Os habitantes da periferia
parisiense fizeram do primeiro
turno um plebiscito contra o
candidato de direita Nicolas
Sarkozy. O fenômeno deve se
repetir ainda mais intensamente no segundo turno.
Depois de uma campanha
marcada pela mobilização de
ativistas comunitários para fazer os habitantes dos subúrbios
votarem, foi a candidata socialista, Ségolène Royal, que saiu
vitoriosa: sua porcentagem média de votos nessas regiões ficou em torno de 40%, contra
28,5% da média nacional.
Em Clichy-sous-Bois, periferia parisiense que foi o estopim
da onda de violência de 2005,
Ségolène obteve 41,6% contra
24,5% de Sarkozy. Segundo dados da associação AC le Feu, o
número de inscritos para as
eleições deste ano passou de
7.000, em 2005, para cerca de
10 mil, numa população de
28.700 habitantes. "Não fizemos campanha para nenhum
candidato em especial, mas o
nosso voto foi pensado para ser
um voto contra Sarkozy", afirmou Samir Mihi, um dos fundadores da associação.
As políticas dos dois candidatos para essas regiões se voltam
para os problemas que os próprios moradores identificam
como cruciais: emprego, habitação e segurança.
Em relação ao mercado de
trabalho, Ségolène e Sarkozy
acenam com políticas de estímulo à formação profissional
dos jovens e de aumento nos
postos de trabalho para o primeiro emprego. Sobre a moradia, ambos fazem coro em favor
da ampliação da construção de
residências populares. No caso
de Sarkozy, há a nuance da ênfase à ampliação do acesso à
propriedade.
Em visita à cidade de Aulnay-sous-Bois, ao norte de Paris, a
reportagem da Folha viu uma
paisagem urbana típica das periferias francesas: grandes conjuntos habitacionais, os
"HML" (sigla em francês que
significa algo como habitação
com aluguel moderado), com
paredes descascadas e problemas de iluminação.
A prefeitura de Aulnay-sous-Bois, cujo prefeito é da UMP
(União por um Movimento Popular), partido de Sarkozy, afirma que o orçamento para a renovação dos HML é de 260
milhões. A construção das novas moradias está em andamento, mas ainda é visível a cisão entre a parte norte de Aulnay, repleta dos grandes conjuntos, e a parte sul, mais rica,
com sobradinhos. Apesar de
seu partido estar na prefeitura,
Sarkozy também foi batido por
Ségolène: 33,8% contra 28,9%.
Fosso na segurança
No quesito segurança, há um
fosso entre os programas de Ségolène e Sarkozy. Uma das propostas principais do candidato
da UMP, que ocupou o Ministério do Interior por cinco anos, é
endurecer a ação policial.
Na periferia, há o temor de
que um aumento de batidas policiais vise, especialmente, os
jovens descendentes de imigrantes. Não é raro encontrar
os cartazes de campanha de
Sarkozy com pichações de um
bigode à la Hitler.
Ségolène propõe a criação de
uma polícia de vizinhança para
estreitar os laços com os habitantes locais. Segundo a candidata, uma força policial conhecida dos moradores seria um
instrumento de prevenção de
atos violentos.
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