São Paulo, sábado, 28 de abril de 2007

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Ségolène e Bayrou fazem dupla para barrar Sarkozy

Segunda e terceiro colocado no 1º turno conseguem pôr no ar "debate" de hoje

Centrista acusa candidato da direita de pressionar TV que cancelou transmissão; Sarkozy se diz vítima de "processos de Moscou"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O segundo turno da eleição presidencial, em qualquer lugar do mundo, é um mano-a-mano, um contra um. Menos na França-2007, em que estabeleceu-se nitidamente um dois contra um, a partir do momento em que o centrista François Bayrou, terceiro colocado, mas com 18% dos votos, "conseguiu colocar seus talheres à mesa do segundo turno, à qual ele evidentemente não foi convidado", como ironiza o editorial de ontem do vespertino "Le Monde".
Bayrou alinhou seus talheres do lado esquerdo da mesa, junto à candidata socialista Ségolène Royal ou, o que acaba dando na mesma, contra o candidato da direita, Nicolas Sarkozy, o primeiro colocado, um pouco mais de cinco pontos percentuais à frente de Royal.
Hoje, aliás, a mesa será ocupada pelo intruso Bayrou e por Royal, em debate que foge completamente da lógica de um segundo turno e que virou uma novela, finalmente vencida pelo duo Bayrou/Royal.
A socialista convidara Bayrou para um debate, de preferência diante das câmeras de TV. O centrista aceitou e o encontro chegou a ser marcado para o Canal+, que, no entanto, recuou depois alegando que violaria a regra que obriga a dar aos dois finalistas rigorosamente o mesmo tempo de exposição na TV.
O recuo do Canal+ foi o suficiente para que Bayrou retomasse suas duras críticas a Sarkozy, que "representa um risco para a França", segundo o centrista. Para ele, não houve uma decisão espontânea do canal, mas pressão do seu adversário, "por meio de toda uma série de redes, que aproximam grandes potências financeiras e midiáticas de Nicolas Sarkozy".
Ségolène Royal correu atrás de Bayrou e comprou sua tese, ao dizer: "São métodos de outra era. Eles dizem muito sobre um certo número de conivências com um potente sistema midiático-financeiro".

Reação irritada
Sarkozy reagiu com ironia, mas temperada pela irritação com que trata o tema do convidado inesperado à mesa do turno final. "O Canal+ me obedece, eis uma boa notícia", afirmou. Depois atacou o que chamou de "processos de Moscou", supostamente armados contra ele por Bayrou e Royal (alusão aos expurgos comuns na antiga União Soviética).
A novela terminou com um canal de economia e uma rádio aceitando a idéia de um debate entre Royal e Bayrou, sempre no sábado. É difícil dizer, ante o inusitado da situação, quem ganha mais com o encontro da segunda com o terceiro colocado, se Bayrou ou Royal.
O centrista se mantém sob todos os holofotes, embora esteja eliminado, o que é bom para o partido cuja criação ele anunciou na quarta-feira, o Partido Democrata, que substituirá a UDF (União pela Democracia Francesa).
Mas não fica claro se é bom também para os futuros candidatos do partido às eleições legislativas de junho. Afinal, dois terços dos atuais deputados da UDF (são 29) já anunciaram que ficam com a candidatura Sarkozy, o que indica que temem perder espaço em seus distritos.
Royal de todo modo também terá algum lucro, na medida em que o tom de Bayrou contra Sarkozy faz crer que ele não será tão pesado nas críticas à socialista durante o debate de hoje, o que a ajuda a obter uma fatia dos votos centristas.
Ajuda vital na medida em que a mais recente pesquisa indica que a maioria relativa dos eleitores de Bayrou (38%) prefere abster-se no segundo turno, porcentagem que subiu 12 pontos em apenas dois dias. Os 39% que, na quarta-feira, diziam que votariam pela socialista agora são apenas 34%. De todo modo, seis pontos mais que os 28% que apoiarão Sarkozy (eram 35%).
De todo modo, a definição mais abrangente do eleitorado deve dar-se apenas depois do outro debate, o verdadeiro (entre Sarkozy e Royal), marcado para o dia 2.


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