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Ségolène e Bayrou fazem dupla para barrar Sarkozy
Segunda e terceiro colocado no 1º turno conseguem pôr no ar "debate" de hoje
Centrista acusa candidato da direita de pressionar TV que cancelou transmissão; Sarkozy se diz vítima de "processos de Moscou"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O segundo turno da eleição
presidencial, em qualquer lugar do mundo, é um mano-a-mano, um contra um. Menos
na França-2007, em que estabeleceu-se nitidamente um
dois contra um, a partir do momento em que o centrista François Bayrou, terceiro colocado,
mas com 18% dos votos, "conseguiu colocar seus talheres à
mesa do segundo turno, à qual
ele evidentemente não foi convidado", como ironiza o editorial de ontem do vespertino "Le
Monde".
Bayrou alinhou seus talheres
do lado esquerdo da mesa, junto à candidata socialista Ségolène Royal ou, o que acaba dando
na mesma, contra o candidato
da direita, Nicolas Sarkozy, o
primeiro colocado, um pouco
mais de cinco pontos percentuais à frente de Royal.
Hoje, aliás, a mesa será ocupada pelo intruso Bayrou e por
Royal, em debate que foge completamente da lógica de um segundo turno e que virou uma
novela, finalmente vencida pelo duo Bayrou/Royal.
A socialista convidara Bayrou para um debate, de preferência diante das câmeras de
TV. O centrista aceitou e o encontro chegou a ser marcado
para o Canal+, que, no entanto,
recuou depois alegando que
violaria a regra que obriga a dar
aos dois finalistas rigorosamente o mesmo tempo de exposição na TV.
O recuo do Canal+ foi o suficiente para que Bayrou retomasse suas duras críticas a Sarkozy, que "representa um risco
para a França", segundo o centrista. Para ele, não houve uma
decisão espontânea do canal,
mas pressão do seu adversário,
"por meio de toda uma série de
redes, que aproximam grandes
potências financeiras e midiáticas de Nicolas Sarkozy".
Ségolène Royal correu atrás
de Bayrou e comprou sua tese,
ao dizer: "São métodos de outra
era. Eles dizem muito sobre um
certo número de conivências
com um potente sistema midiático-financeiro".
Reação irritada
Sarkozy reagiu com ironia,
mas temperada pela irritação
com que trata o tema do convidado inesperado à mesa do turno final. "O Canal+ me obedece,
eis uma boa notícia", afirmou.
Depois atacou o que chamou de
"processos de Moscou", supostamente armados contra ele
por Bayrou e Royal (alusão aos
expurgos comuns na antiga
União Soviética).
A novela terminou com um
canal de economia e uma rádio
aceitando a idéia de um debate
entre Royal e Bayrou, sempre
no sábado. É difícil dizer, ante o
inusitado da situação, quem ganha mais com o encontro da segunda com o terceiro colocado,
se Bayrou ou Royal.
O centrista se mantém sob
todos os holofotes, embora esteja eliminado, o que é bom para o partido cuja criação ele
anunciou na quarta-feira, o
Partido Democrata, que substituirá a UDF (União pela Democracia Francesa).
Mas não fica claro se é bom
também para os futuros candidatos do partido às eleições legislativas de junho. Afinal, dois
terços dos atuais deputados da
UDF (são 29) já anunciaram
que ficam com a candidatura
Sarkozy, o que indica que temem perder espaço em seus
distritos.
Royal de todo modo também
terá algum lucro, na medida em
que o tom de Bayrou contra
Sarkozy faz crer que ele não será tão pesado nas críticas à socialista durante o debate de hoje, o que a ajuda a obter uma fatia dos votos centristas.
Ajuda vital na medida em que
a mais recente pesquisa indica
que a maioria relativa dos eleitores de Bayrou (38%) prefere
abster-se no segundo turno,
porcentagem que subiu 12 pontos em apenas dois dias. Os 39%
que, na quarta-feira, diziam
que votariam pela socialista
agora são apenas 34%. De todo
modo, seis pontos mais que os
28% que apoiarão Sarkozy
(eram 35%).
De todo modo, a definição
mais abrangente do eleitorado
deve dar-se apenas depois do
outro debate, o verdadeiro (entre Sarkozy e Royal), marcado
para o dia 2.
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