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ARTIGO
A fome está à espreita nos EUA
CHRIS BRYANT
DO "FINANCIAL TIMES", EM
WASHINGTON
Milhões de pobres americanos correm o risco de passar fome se os preços dos alimentos
continuarem a subir e as agências de alimentos tiverem dificuldade em enfrentar a alta dos
custos, a redução dos recursos e
o aumento na demanda.
Mais e mais pessoas pobres
nos EUA já estão recorrendo à
beneficência e à ajuda do governo em sua luta para fazer frente
aos custos crescentes dos alimentos e à alta das tarifas dos
combustíveis. Na última semana o preço do arroz alcançou
um novo pico, e algumas lojas
estão limitando as compras
atacadistas do grão.
Laurie True, diretora executiva da Associação de Programas da Califórnia para Mulheres e Crianças, disse que as agências locais estão relatando
um aumento acentuado no número de novos cadastrados.
"São pessoas que normalmente
não pediriam ajuda à Previdência Social", disse ela.
O Escritório Orçamentário
do Congresso previu que no
próximo ano os americanos
que recebem ajuda alimentar
do governo chegarão a 28 milhões, o maior número desde
que o programa de selos alimentares começou, mais de 40
anos atrás.
James Weill, presidente do
Centro de Pesquisas e Ação Alimentares, disse que o número
real provavelmente será muito
maior, porque já chegara a 27,7
milhões em janeiro, um acréscimo de mais de 1,3 milhão de
pessoas no último ano. Essa cifra não abrange todas as pessoas necessitadas, já que apenas cerca de 65% das pessoas
que têm direito a pedir os selos
de alimentação se candidatam
a essa ajuda.
O impacto será sentido mais
agudamente pelos 35 milhões
de americanos -10,9% das famílias do país- que já enfrentam dificuldade em colocar comida suficiente na mesa todos
os anos. Acredita-se que cerca
de 11 milhões dessas pessoas tenham "segurança alimentar
muito baixa", o que significa
que algum membro de suas famílias passou fome por falta de
dinheiro, segundo cifras governamentais de 2006.
Os responsáveis pelas campanhas de alimentação temem
que a situação dos alimentos
possa se deteriorar mais ainda
se os negociadores na Câmara e
no Senado não conseguirem fazer aprovar uma verba adicional de US$ 10 bilhões para os
programas nacionais de assistência alimentar.
As medidas para ampliar as
condições para que as pessoas
possam candidatar-se a selos
alimentares e para aumentar o
estoque emergencial de alimentos estão contidas num
projeto de lei agrícola no valor
de US$ 288 bilhões que está parado há meses por divergências
sobre aumentos no orçamento.
Na semana passada, o Senado
aprovou a extensão de uma semana da lei de 2002, para que
as negociações continuem.
"Não sei o que faremos se a
lei não for aprovada", disse Anne Goodman, diretora-executiva do Banco de Alimentos de
Cleveland. "Já temos uma tragédia crescente aqui que está
sendo exacerbada pela alta nos
custos dos alimentos e combustíveis."
O custo dos alimentos que a
população americana pobre
tende a comprar vem subindo
mais rapidamente que o dos
produtos comprados por seus
vizinhos mais ricos. Os preços
dos alimentos tiveram alta média de 5,1% entre fevereiro de
2007 e fevereiro de 2008, mas o
custo de uma cesta básica, usada como referência para os selos alimentícios, subiu 6,5% no
mesmo período.
Bob Dolgan, porta-voz do
Depósito Alimentar da Grande
Chicago, disse que a alta dos
preços dos alimentos está afetando "as pessoas que já vivem
às margens, sobrevivendo mês
a mês de seus salários".
Os espaços em que o governo
não atua são preenchidos por
uma rede de 200 bancos regionais de alimentos que distribuem comida a 30 mil igrejas e
refeitórios beneficentes espalhados pelo país. O organismo
que supervisiona a rede, America's Second Harvest (Segunda
Colheita da América), estima
que o número de pessoas que
procuram sua ajuda aumentou
25% no último ano.
Cerca de 40% dos 13 milhões
de adultos em idade economicamente ativa assistidos pela
organização vêm de famílias
em que pelo menos uma pessoa
tem emprego, disse a diretora
Vicki Escarra. "O rosto da pobreza e da fome mudou nos últimos anos. A idéia de que a fome atinge apenas os sem-teto é
falsa."
Os recursos das agências alimentares estão apertados porque a alta dos preços dos combustíveis elevou os custos do
transporte dos alimentos e
também porque as doações,
tanto públicas quanto privadas,
começaram a diminuir. No passado o governo comprava grande quantidade de commodities
agrícolas excedentes para respaldar os preços de mercado e
os distribuía entre os bancos de
alimentos. Com a alta dos preços nos últimos quatro anos,
essas doações tiveram uma
queda de 75%, deixando os
bancos de alimentos em dificuldades.
"Os estoques estão bastante
vazios neste momento", disse
Lindsey Buss, presidente da organização de beneficência alimentar Martha's Table, em
Washington. "Ao mesmo tempo em que a demanda aumenta,
o custo para satisfazê-la também aumenta."
Tradução de CLARA ALLAIN
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