São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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DEMOCRACIA À PERUANA
Presidente, no poder desde 1990, é único candidato nas eleições de hoje, após saída de Toledo
3º mandato de Fujimori deve ser turbulento

Reuters - 21.mai.2000
Fujimori acena para o público durante comício na capital Lima


LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

A provável segunda reeleição do presidente do Peru, Alberto Fujimori, fará com que surja um novo foco de instabilidade política e social na América Latina. Fujimori disputa hoje o segundo turno das eleições presidenciais sem adversário e sem o aval da comunidade internacional.
Há dez anos à frente da Presidência, Fujimori deverá conquistar mais um mandato de cinco anos, após a desistência do candidato de oposição Alejandro Toledo (centro-direita), que se retirou da disputa em protesto pelas irregularidades no processo eleitoral.
Sem o apoio dos Estados Unidos e da União Européia, que consideram o processo eleitoral peruano viciado, Fujimori enfrentará, no seu terceiro mandato consecutivo, um previsível aumento da tensão social no país.
Há dois anos, o governo peruano vem assistindo ao crescimento das demonstrações de insatisfação popular. Agora, os opositores internos à política de Fujimori devem ganhar mais força ainda com o isolamento do governo no cenário internacional.

Tensão no campo
Desde que foi eleito pela primeira vez, em 1990, Fujimori privilegia a estabilização da economia em detrimento do crescimento do país. Com isso, conseguiu derrotar a hiperinflação anual de mais de 7.000%, mas fez com que o Peru mergulhasse numa profunda crise social.
Uma das áreas mais atingidas pela política econômica do governo, o setor agrícola dá demonstrações de que continuará sendo um dos principais focos de oposição ao governo.
No último dia 17, no auge da disputa eleitoral para o segundo turno, cerca de 4.000 pequenos produtores rurais de Cuzco (centro do país) iniciaram uma mobilização para exigir atenção do governo com relação a seus problemas.
Os pequenos produtores rurais estão promovendo manifestações em várias cidades da região, exigindo mais crédito oficial e alterações na política de preços para que possam competir com as importações, que entram no país livremente.
A mobilização contra Fujimori no campo também é verificada nos centros urbanos. Trabalhadores filiados à CGTP (maior central sindical peruana) têm radicalizado nas manifestações contra o governo.
No início do ano, manifestantes quase invadiram o palácio presidencial e só foram contidos depois de um confronto com a polícia no qual várias pessoas saíram feridas.

Eleição folgada
Cerca de 14,5 milhões de eleitores votam hoje. O processo eleitoral chega ao fim marcado por mais de 600 denúncias de fraudes.
O economista Alejandro Toledo se retirou da disputa, de forma unilateral, e prega a abstenção na votação ou o voto nulo.
A Justiça eleitoral não reconheceu a renúncia do adversário de Fujimori e manteve a data do segundo turno, contrariando pedidos do governo dos Estados Unidos, da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da comunidade européia. Com a desistência de Toledo, pesquisas de intenção de voto indicam que o presidente peruano conseguirá seu terceiro mandato com folga.
Após o término da votação (18h em Brasília), está programada uma manifestação anti-Fujimori. As Forças Armadas e a Polícia Nacional anunciaram que vão colocar 100 mil homens nas ruas para manter a ordem.


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