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ANÁLISE
Oposicionista nas eleições do Peru acreditava ter o apoio incondicional dos EUA quando ameaçava sair da disputa
Toledo errou ao abandonar candidatura
DO ENVIADO ESPECIAL
Um erro de avaliação fez com
que Alejandro Toledo -um descendente de índios formado em
economia em Harvard (EUA)-
adiasse seus planos de chegar à
Presidência do Peru.
Toledo avaliou que teria o apoio
incondicional dos Estados Unidos na estratégia de ameaçar retirar sua candidatura em protesto
contra as fraudes no processo
eleitoral.
O suporte dos EUA, acreditava
Toledo, levaria o governo peruano a ceder, permitindo que a disputa se desse em condições mais
equitativas. A avaliação se mostrou errada em vários pontos.
No segundo turno, Toledo passou boa parte do tempo fora do
país buscando apoio externo. Viajou a Washington e a Nova York
para se encontrar com dirigentes
do FMI (Fundo Monetário Internacional), do Banco Mundial e do
BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) e com banqueiros norte-americanos.
Depois foi à Argentina se encontrar com o presidente Fernando de la Rúa, que o apoiava.
Durante esse período deu seguidas declarações de que não disputaria o segundo turno caso não
fossem corrigidas as falhas no sistema eleitoral que permitiram a
realização de fraudes em favor de
Fujimori na primeira etapa do
processo.
Embalado pelas manifestações
antifraude, que chegaram a reunir
50 mil pessoas no primeiro turno,
Toledo também contava com o
apoio das massas. Entretanto, no
segundo turno, não conseguiu
reunir mais que 10 mil pessoas em
seus comícios.
A posição de Toledo acabou
sendo malvista pelo eleitorado
peruano. Pesquisas do instituto
Apoyo indicam que o candidato
oposicionista perdeu pontos preciosos ao passar uma imagem de
insegurança aos eleitores.
Toledo e Fujimori iniciaram a
campanha no segundo turno empatados tecnicamente nas pesquisas de intenção de voto. Depois, o
adversário do presidente peruano
começou a cair nas pesquisas, até
atingir 36% das intenções de voto
contra 51% de Fujimori.
O golpe final contra Toledo foi
dado pelo presidente dos EUA,
Bill Clinton, que, na semana passada, criticou sua decisão de se retirar da disputa caso o segundo
turno não fosse adiado.
"Deploramos tanto a decisão
unilateral do candidato oposicionista de retirar-se da disputa como a decisão apressada da comissão eleitoral de rejeitar um possível adiamento da data do segundo
turno", afirmou o porta-voz do
Departamento de Estado norte-americano.
O governo peruano -que controla a Justiça eleitoral- terminou por não ceder às pressões de
Toledo e manteve a data do segundo turno.
"Posição dúbia"
"Toledo deixou de enviar uma
mensagem clara a seus adeptos ao
assumir uma posição dúbia com
relação à sua candidatura, pregando a abstenção e o voto nulo
no segundo turno. Em quase nenhuma parte do mundo esse tipo
de proposta teve êxito", afirmou o
analista político peruano Fernando Tuesta.
Nos últimos dias, a Justiça eleitoral fez uma pesada campanha
publicitária informando que os
eleitores que deixassem de votar
seriam multados ao equivalente a
US$ 33.
Mesmo com a pressão das instituições peruanas, leais a Fujimori,
o candidato oposicionista não
voltou atrás e se deixou levar pelos seus assessores mais radicais,
mantendo a decisão de não disputar o segundo turno hoje.
Toledo acreditava que Fujimori
não teria coragem de disputar sozinho a eleição por não contar
com o aval da comunidade internacional.
Entretanto, depois das críticas
do governo norte-americano, até
a OEA (Organização dos Estados
Americanos) passou a assumir
posição mais flexível, buscando
um acordo que somente permitisse o adiamento do segundo turno,
sem exigir mais mudanças no sistema eleitoral.
Toledo passou a bombardear a
OEA, anunciando que não bastava a simples postergação do segundo turno, mas sim uma reforma completa no processo eleitoral.
Partidários da coligação que o
apóia (frente Peru Possível) chegaram a exigir que todos os parlamentares de oposição eleitos em
abril passado renunciassem em
protesto contra as fraudes.
A posição de Toledo acabou por
isolá-lo ainda mais, e ele foi perdendo apoio dos EUA e da OEA.
Fujimori decidiu então bancar a
manutenção do segundo turno
para hoje, independentemente
das críticas da comunidade internacional.
O presidente peruano jogou
com dois fatos: o que mais interessa aos EUA é a manutenção da
política econômica liberal adotada no Peru e a aliança que o país
tem com os norte-americanos na
luta contra o narcotráfico.
Toledo agora aposta que o presidente Fujimori não terminará
seu mandato com o previsível aumento da pressão popular no país
por causa da aguda recessão pela
qual passa o Peru. Resta saber se,
dessa vez, fez a avaliação correta.
(LF)
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