São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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Presidente diz apenas responder aos ataques


DA ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

"Eles me mandam chumbo, eu respondo com chumbo. O que eles querem, que eu fique de braços cruzados?", diz o presidente venezuelano, Hugo Chávez, a uma multidão reunida na praça Simón Bolívar, no que seria o último comício da campanha em Caracas, na última quarta-feira, antes do adiamento das eleições marcadas inicialmente para hoje.
O alvo da sua artilharia verbal são os meios de comunicação, com quem mantém relações no mínimo complicadas.
Na quinta-feira, antes de iniciar uma entrevista coletiva em um hotel da capital, cumprimentou vários jornalistas pelo nome, prometeu entrevistas e atendeu, com muita simpatia, o pedido de uma das jornalistas: que fosse liberado o equipamento da TV local Globovisión, que havia sido retido.
O canal é chamado pelo presidente de "Plomovisión", por ser um dos meios que lhe "lançam chumbo". De fato, a programação da Globovisión não faz concessões a Chávez. O tom crítico é a tônica, os apresentadores fazem comentários geralmente desabonadores ao governo. Em alguns programas de entrevistas, o presidente "leva chumbo" do entrevistado e do entrevistador.
O discurso do governo, por sua vez, estimula agressões aos jornalistas, afirmam associações de imprensa como o Colegiado Nacional de Jornalistas, segundo o qual repórteres vêm denunciando agressões físicas e verbais.
Segundo a entidade, os profissionais temem por sua integridade física e resistem a cobrir eventos relacionados a movimentos políticos, especialmente os do partido do presidente.

"Inimigos do povo"
Membros do governo chegaram a afirmar que os jornais prejudicavam o país ao publicar notícias sobre o crescimento da violência. Segundo pesquisas, 90% da população desaprova o tratamento dado ao governo em relação à questão da segurança.
"Infelizmente, o discurso do presidente Hugo Chávez nos apresenta como inimigos do povo e até nos dá a impressão de sentir vergonha de nossa profissão, ao termos de esconder o crachá na rua para que as pessoas não nos identifiquem", afirma o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa, Gregorio Salazar.
O governo, no entanto, nega que haja pressões e afirma que "nunca houve um governo que respeitasse tanto a liberdade de expressão como o bolivariano", como disse Chávez, no mesmo comício. "É totalmente falso que eu esteja em enfrentamento com a imprensa", disse ao público, enviando saudações aos jornalistas presentes ao evento.
"O governo lhes garante respeito à liberdade de expressão e de crítica. Os meios de comunicação devem se pôr a serviço dos interesses nacionais, divulgar programas educativos. Não que as novelas não sejam boas, mas por que não passar um bom programa de folclore venezuelano?" (LP)

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