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VENEZUELA
Ex-apresentador de TV acusa governo de ameaçá-lo de morte e diz que presidente estimula o ódio aos meios de comunicação
Chávez persegue a imprensa, diz jornalista
LARISSA PURVINNI
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
O jornalista venezuelano Napoleón Bravo, 52, ex-apresentador
do programa matinal "24 horas",
transmitido pelo canal de TV Venevisión, afirma ser uma das vítimas da atitude agressiva do governo do presidente Hugo Chávez
em relação à imprensa.
Bravo diz ter sido obrigado a
abandonar o programa após receber ameaças de morte. Ao rastrearem as chamadas, diz, descobriu-se que vinham de telefones dos
órgãos de segurança do Estado.
Dias depois, "24 horas", programa mais popular em seu horário
(6h45-8h) era substituído por desenhos animados e a TV anunciava que ele havia sido promovido e
trabalharia em um canal internacional da empresa. As acusações
de ameaças e cerceamento da liberdade de imprensa são reiteradamente negadas pelo governo.
Com o fim do programa, diz
Bravo, cessaram os telefonemas.
"Conseguiram o que queriam",
afirma. Leia trechos da entrevista
à Folha.
Folha - Como é a relação do presidente Chávez com a imprensa?
Napoleón Bravo - Os novos intolerantes descobriram que, além
de um golpe de Estado, podem
chegar ao poder por meio do justo
ódio do povo diante do fracasso
dos partidos em que acreditavam.
Enquanto têm popularidade, fazem a maior quantidade de votações possível para apoderar-se
não apenas do Congresso, mas da
Justiça, do Conselho Eleitoral,
"muito democraticamente", para
fazer ditaduras constitucionais.
Quanto mais poder conseguem,
mais intolerantes se tornam, porque se sentem mais fortes.
Na Venezuela, as três únicas
frentes que enfrentam Chávez são
a igreja, as Forças Armadas e os
meios de comunicação.
Folha - De que maneira o presidente agride os meios de comunicação nos discursos?
Bravo - Chama o principal canal
de notícias, Globovisión, de "Plomovisión" (chumbovisão), refere-se a Gustavo Cisneros, proprietário de uma das principais redes
de comunicação da América Latina, como oligarca. Diz que está
manipulando a população. Pinta
os jornalistas como inimigos do
que ele chama "a revolução".
Folha - Por que o sr. recebeu
ameaças?
Bravo - O programa que eu dirigia nos últimos três anos estava
em primeiro lugar em seu horário. Quando o dirigente é totalitário e está num processo eleitoral
em que sua popularidade está baixando, não aceita a divergência.
Na Semana Santa, a imprensa
mostra quais foram as figuras políticas mais queimadas como Judas, que foram Chávez e o candidato da oposição Francisco Arias.
Como as únicas imagens que tínhamos eram de crianças queimando o presidente, decidimos
não transmiti-las. Mas passamos
uma pesquisa em que um dos entrevistados dizia que escolheria o
presidente como Judas.
Depois, Chávez afirmou que havia sido queimado na TV como
Judas. Afirmamos que não havíamos mostrado essas imagens,
mas que agora as mostraríamos.
Em outro episódio, convidamos
os três candidatos à Presidência
para entrevistas. Quando Arias
viu o anúncio do convite a Chávez, afirmou que o presidente não
viria por ser covarde.
Em um pronunciamento no Estado de Vargas o presidente atacou o proprietário do canal. "Estão afirmando que irei a esse canal, mas nem sequer me convidaram. Não permitam que se manipule o povo. Senhor Cisneros, não
tenho medo nem de todos os entrevistadores juntos. Não me importam as mentiras dos oligarcas.
Chumbo também para vocês."
Folha - Que tipo de ameaça houve
após esses episódios?
Bravo - Tanto minha família
quanto outra, também relacionada ao canal, receberam chamadas
com ameaças de morte. Uma
companhia de segurança gravou e
rastreou as chamadas telefônicas
e descobriu que todas as chamadas vinham de dois telefones do
corpo de segurança do Estado. Os
grupos armados que integram o
partido de Chávez agridem os jornalistas. Batem nos profissionais,
tentam tirar-lhes as câmeras ou os
chamam de vendidos.
Folha - Chávez chegou a ser entrevistado em seu programa?
Bravo - Muitas vezes. Sua mulher também participou. Chegamos a fazer reportagens de duas
horas sobre coisas positivas que
fez o governo. Por exemplo, nos
primeiros meses, o Exército renovou hospitais e escolas. O governo
promoveu a redação de uma nova
Constituição, que, com seus altos
e baixos, é melhor que a anterior.
Isso uma pessoa imparcial, ainda
que magoada como eu, tem de reconhecer.
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