São Paulo, sábado, 28 de maio de 2005

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EUROPA

Os premiês espanhol e alemão unem-se a socialistas na França em esforço final pela aprovação da Carta européia amanhã

Zapatero e Schröder pedem "sim" francês

MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O premiê socialista espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero, e seu colega alemão, o social-democrata Gerhard Schröder, uniram-se ontem a líderes da esquerda da França num esforço final para convencer os franceses a aprovar a Constituição da União Européia no plebiscito de amanhã.
"Na Alemanha, nós dissemos "sim" com todo nosso coração. Pedimos aos franceses que digam "sim" com seu coração e sua cabeça", afirmou Schröder em Toulouse (sudoeste da França) -cujo evento se conectou via satélite a outro ato socialista em Lille (norte), onde estava Zapatero.
Schröder, que discursou em alemão, encerrou em francês: "Vive la France! Vive l'Europe!". O Parlamento alemão aprovou ontem a Constituição.
Zapatero, por sua vez, pediu que os franceses não se deixassem levar por seu descontentamento com o presidente conservador Jacques Chirac -para muitos analistas, a impopularidade do atual governo está influenciando a decisão dos eleitores.
Segundo a última pesquisa, o "não" continua à frente na França, com 55%, mas ainda há entre 20% e 24% de indecisos.
A campanha pelo "sim" marcou o retorno à cena política, ao menos publicamente, do ex-premiê socialista Lionel Jospin (1997-2002). Desde o fiasco na eleição presidencial de 2002, Jospin se mantinha longe dos holofotes.
Ele disse ainda que é preciso que os franceses aprovem o tratado constitucional para que a Europa não fique "enfraquecida" e para que a França não acabe "isolada" no seio do bloco.
No último domingo, várias figuras de ponta do PS afirmaram que o engajamento de Jospin na campanha era "desejável". Hollande e Strauss-Kahn afirmaram que a intervenção televisiva do ex-premiê seria "útil" a alguns dias da consulta popular.
Alguns analistas crêem que Jospin possa ser candidato a presidente em 2007. "Suas intervenções na televisão foram corretas no que tange a seu conteúdo, porém ele continua bem pouco carismático", analisou o sociólogo Dominique Wolton.
François Hollande, líder do Partido Socialista, apareceu em várias redes de TV e de rádio para afirmar que "não existe plano B" e que os eleitores não devem esquecer o 21 de abril [de 2002].
Foi uma referência ao primeiro turno da última eleição presidencial, em que Jospin foi derrotado por Chirac (centro-direita) e por Jean-Marie Le Pen, líder da extrema direita. O baixo comparecimento dos socialistas às urnas ajudou a impedir que ele fosse ao segundo turno.
Dominique Strauss-Kahn, ex-ministro socialista da Economia, insistiu em que a Constituição "não é liberal demais", pois leva em conta "os anseios das populações européias e os ganhos obtidos no passado". O prefeito de Paris, o também socialista Bertrand Delanoë, terminou uma turnê por boa parte do país, em que buscou "unir as forças progressistas de esquerda em torno do ideal europeu" e exortou os eleitores a não misturar a política doméstica com a européia.
As divisões no PS têm alimentado o campo do "não". Afinal, o número 2 do partido, Laurent Fabius, é contrário à adoção da Constituição. Segundo Hollande, ele pensa em "eleições futuras" ao defender essa posição. A vitória do "não" amanhã poderá, portanto, fortalecê-lo internamente. A derrota, por outro lado, poderá levá-lo ao ostracismo.


Com agências internacionais

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