São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006
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Na internet, aiatolá esclarece dúvidas e dá conselhos DO ENVIADO A QOM
"Aiatolá Saanei: estou pensando em fazer uma lipoaspiração. Estarei infringindo a lei islâmica?" A cada dia, o website
www.saanei.org recebe centenas de mensagens como essa,
de jovens religiosos que querem saber até que ponto os costumes do mundo moderno são
tolerados pelo islã. Eles sabem
que podem contar com o aiatolá Yusuf Saanei, esse "marjae
taghlid" também conhecido como o "aiatolá da Internet".
"Marjae taghlid" é um termo
em persa que quer dizer "fonte
de imitação" e é uma exigência
que o islã faz a seus seguidores:
que eles escolham um aiatolá
ou líder religioso que tenha essa qualificação e se mirem no
exemplo dele e em seus escritos. Enfim, que tenham um
mentor. Para se qualificar, tal
líder deve ser um expert nas
leis islâmicas e ter publicado livros a respeito. Saanei responde a ambos requisitos.
Tem um a mais. É um dos
mais vocais críticos do regime e
tem o que os locais chamam de
"cabeça aberta" em relação à
religião, o que o faz muito popular entre os jovens mais tradicionais, preocupados em não
infringir a sharia, a lei islâmica.
"Agora, contamos com 20
pessoas trabalhando em nosso
site, mas, se eu tivesse orçamento maior, precisaríamos de
cem para responder a todas as
perguntas que chegam", conta
à Folha o aiatolá.
Todos os dias, alguém de sua
jovem equipe imprime as principais questões, que o líder xiita, 68 anos, considerado pelo
aiatolá Khomeini (1902-1989)
um dos novos talentos revelados pela Revolução Islâmica de
1979, examina. Depois do almoço, fecha-se em sua biblioteca de mais de 3.000 livros para então preparar sua resposta,
que será enviada por e-mail no
dia seguinte.
Leia sua entrevista.
(SD)
FOLHA - Islã combina com Internet, blog, e-mail? YSUF SAANEI - O islamismo nunca se opôs à ciência, à tecnologia, ao progresso. Sempre foi conhecido como a religião dos cientistas. Além disso, a nova mídia é boa para divulgar a religião entre os jovens. FOLHA - Quais são as perguntas mais freqüentes e de onde vêm? SAANEI - A maioria é sobre a relação entre o islamismo e assuntos modernos, mas também questões políticas. A maior parte vem do Irã, mas temos internautas do mundo inteiro [calcula-se que no mundo haja 120 milhões de xiitas, facção do islamismo predominante no Irã]. FOLHA - A sharia, a lei islâmica, não é ultrapassada ou muito dura e difícil de ser seguida pelos jovens hoje? SAANEI - O islã que eu conheço é fácil de obedecer. Alguns homens no poder ou pessoas sem conhecimento é que dão essa imagem de que é difícil. FOLHA - O sr. acha que os ideais da Revolução Islâmica ainda falam ao coração dos jovens ou eles quererão fazer a sua própria revolução? SAANEI - Os jovens amavam a Revolução quando o imã Khomeini (1902-1989) estava vivo, mas depois disso tivemos problemas. E sei que os jovens não gostam desses problemas. FOLHA - E como isso vai acabar? SAANEI - Se os homens do poder se comportarem direito com os estudantes das universidades, como o imã Khomeini fazia em sua época, quando eu era estudante, tudo vai acabar bem. Do jeito que alguns deles estão se comportando é um problema... FOLHA - O presidente Mahmoud
Ahmadinejad escreveu uma carta
ao presidente dos EUA, George W.
Bush, ainda sem resposta. Se fosse o
sr., o que escreveria?
SAANEI - Esses problemas dos
homens no poder são muito específicos, eu tenho outros mais
importantes para tratar. Os homens no poder deveriam se limitar à política. Os políticos deveriam falar somente de política, e deixar o trabalho religioso
conosco. |
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