São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2000


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AIDS
Segundo relatório da ONU, síndrome matará um terço dos jovens de 15 anos nos 10 países com maiores taxas de infecção
HIV dizima jovens na África subsaariana

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

Se a epidemia do vírus HIV na África subsaariana não for contida, 1 em cada 3 jovens que têm hoje 15 anos morrerá em consequência da Aids nos dez países com os maiores índices de contaminação, de acordo com um relatório divulgado ontem pelo Unaids (Programa das Nações Unidas para a Aids).
A síndrome provocou a morte de 2,2 milhões de pessoas na região no ano passado, contra 600 mil no resto do mundo. O total de mortes no mundo desde 1983 atingiu 18,8 milhões em 1999.
Enquanto os índices de contaminação permaneceram estáveis no resto do mundo, na África subsaariana eles continuaram crescendo. No ano passado, mais de 4 milhões de pessoas foram infectadas na região. Segundo o relatório do Unaids, dos 34,3 milhões de portadores do vírus HIV em todo o mundo, 24,5 milhões (mais de 70%) estão na região.
Em Botsuana, país que tem a maior taxa de contaminação pelo HIV no mundo (35,8% da população adulta tem o vírus), dois terços dos jovens que têm 15 anos hoje morrerão em consequência da Aids ao longo da vida.
Na África do Sul e no Zimbábue, onde entre um quinto e um quarto da população adulta está contaminada, a Aids deverá provocar a morte de metade dos jovens nessa faixa etária.
Em 16 países da região os portadores do vírus da Aids são mais de 10% da população adulta. No Brasil, o índice de infecção na população adulta é de 0,57%, abaixo da média mundial, que é de 1,07%, mas pouco acima da média latino-americana -0,49%.
A consequência desses dados na África é devastadora, numa região já bastante carente. "A Aids está agravando a pobreza na região, afetando o tecido econômico e social", disse ontem o diretor-executivo do Unaids, Peter Piot, durante a divulgação do relatório.
"O HIV tirará a vida de mais de um terço dos adultos jovens nos países onde está mais disseminado. Apesar disso a resposta mundial segue sendo somente uma fração do que poderia ser. Precisamos responder à crise numa escala muito maior do que vem sendo feito até agora", disse Piot.

Impacto econômico
O relatório aponta ainda o papel da Aids na redução da população economicamente ativa, provocando um grande impacto econômico. Em Botsuana, por exemplo, haverá em 20 anos mais idosos acima de 60 anos que adultos entre 40 e 50 anos.
A Aids está afetando também o sistema escolar nos países da África subsaariana. Além de provocar a redução de verbas aplicadas na educação, com a alocação de verbas para tratamento, o HIV também está tirando a vida de grande parte dos professores.
Na Zâmbia, 1.300 professores morreram nos primeiros dez meses de 1998, o equivalente a dois terços dos novos professores treinados em um ano. Na Costa do Marfim, 70% das mortes de professores são decorrentes da Aids.
O diretor-executivo do Unaids defendeu o perdão das dívidas dos países mais pobres como forma de auxiliar no combate à Aids. "Está na hora de se fazer uma conexão entre a redução da dívida e a redução da epidemia", disse.
"Os países africanos estão gastando hoje quatro vezes mais com o serviço de suas dívidas do que gastam com saúde e educação. Se a comunidade internacional perdoar parte da dívida, eles poderão investir na redução da pobreza e na contenção do vírus HIV. Senão, a pobreza continuará a alimentar a epidemia", disse Piot.


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