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AMÉRICA LATINA
Ameaçado de afastamento pelo Congresso, Nazareno alega "motivos pessoais" para renúncia, que encerra processo
Presidente do Supremo argentino renuncia
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
Ameaçado de afastamento pelo
Congresso, o presidente da Suprema Corte de Justiça da Argentina,
Julio Nazareno, renunciou ontem
ao cargo. Na carta encaminhada
ao presidente Néstor Kirchner,
Nazareno alegou "motivos pessoais" para o seu afastamento,
mas o seu advogado, Gregorio Badeni, disse que o juiz tomou a decisão por considerar que não teria
direito à defesa nas investigações
que a Câmara dos Deputados havia iniciado contra ele.
"O juiz entendia que não poderia se defender das acusações, que
tinham características e motivação exclusivamente políticas",
afirmou Badeni. Nazareno, 67, era
alvo de 22 processos conduzidos
pela Câmara dos Deputados, que
pretendia pedir seu afastamento.
A maioria das acusações era relacionada a decisões que teriam sido tomadas pelo juiz em benefício
próprio durante os 13 anos em que
esteve na instituição. Nazareno,
advogado, também era amigo pessoal do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999). Os dois estudaram juntos na Faculdade de Direito de Córdoba e foram sócios de
uma advocacia em La Rioja.
Por essa proximidade, o ministro enfrentava a oposição do presidente Néstor Kirchner, que pediu,
em cadeia nacional de rádio e televisão, no início do mês, que o Congresso iniciasse um processo de
"impeachment" que poderia culminar com a sua saída da Corte.
Esse seria o primeiro caso de afastamento de juiz da Suprema Corte
na história argentina.
A renúncia de Nazareno também havia sido pedida pelo ministro do Supremo Juan Carlos Maqueda, magistrado ligado a Kirchner. Com a renúncia, Nazareno
evita o processo e mantém privilégios que são concedidos aos ministros da Corte, como aposentadoria especial.
Pela legislação argentina, com a
renúncia do presidente, assume o
cargo o atual vice-presidente,
Eduardo O'Connor. Ele, como
Nazareno, integra a chamada
"maioria automática" da Corte.
A ala é composta por outros três
ministros que foram nomeados na
gestão de Menem. Ficou assim conhecida porque sempre apoiavam
os pedidos encaminhados pelo ex-presidente. A expectativa agora é
que o Congresso inicie uma nova
ofensiva de processos contra os integrantes da maioria automática.
Ao todo, a Suprema Corte argentina tem nove ministros. Os
outros quatro são: Juan Carlos
Maqueda -nomeado no governo
Eduardo Duhalde e único politicamente ligado a Kirchner- e outros três considerados independentes (Enrique Petracchi, Augusto Belluscio e Carlos Fayt).
Kirchner não fez comentários
sobre o caso, mas o ministro da
Justiça, Gustavo Beliz, disse que a
renúncia de Nazareno foi "um
passo muito importante" para
melhorar o funcionamento do Poder Judiciário do país. Disse ainda
que o juiz não está isento de investigações e que, agora, poderá enfrentar acusações penais na Justiça
argentina.
"[A renúncia] é um triunfo da
democracia. Nazareno representava o que havia de mais retrógrado na Justiça argentina", afirmou
o presidente da Associação Nacional dos Advogados, José Maria
Pizzorno.
Alguns nomes já começaram a
ser cotados para assumir a vaga de
Nazareno na Suprema Corte. O
mais indicado, segundo especialistas em direito constitucional ouvidos pela Folha, é o do ex-magistrado Eugenio Zaffaroni, especialista em direito penal.
Outros nomes que estavam numa lista que circulou ontem pelo
Congresso argentino são o do
atual secretário para assuntos legais da Presidência, Carlos Zanini,
e o do vice-ministro da Justiça,
Abel Ortiz de Rosas. Figuram ainda na lista o juiz Martín Silva Garretón e os advogados constitucionalistas Daniel Sabsay e Ricardo
Monner Sans.
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