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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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AMÉRICA LATINA

Ameaçado de afastamento pelo Congresso, Nazareno alega "motivos pessoais" para renúncia, que encerra processo

Presidente do Supremo argentino renuncia

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

Ameaçado de afastamento pelo Congresso, o presidente da Suprema Corte de Justiça da Argentina, Julio Nazareno, renunciou ontem ao cargo. Na carta encaminhada ao presidente Néstor Kirchner, Nazareno alegou "motivos pessoais" para o seu afastamento, mas o seu advogado, Gregorio Badeni, disse que o juiz tomou a decisão por considerar que não teria direito à defesa nas investigações que a Câmara dos Deputados havia iniciado contra ele.
"O juiz entendia que não poderia se defender das acusações, que tinham características e motivação exclusivamente políticas", afirmou Badeni. Nazareno, 67, era alvo de 22 processos conduzidos pela Câmara dos Deputados, que pretendia pedir seu afastamento.
A maioria das acusações era relacionada a decisões que teriam sido tomadas pelo juiz em benefício próprio durante os 13 anos em que esteve na instituição. Nazareno, advogado, também era amigo pessoal do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999). Os dois estudaram juntos na Faculdade de Direito de Córdoba e foram sócios de uma advocacia em La Rioja.
Por essa proximidade, o ministro enfrentava a oposição do presidente Néstor Kirchner, que pediu, em cadeia nacional de rádio e televisão, no início do mês, que o Congresso iniciasse um processo de "impeachment" que poderia culminar com a sua saída da Corte. Esse seria o primeiro caso de afastamento de juiz da Suprema Corte na história argentina.
A renúncia de Nazareno também havia sido pedida pelo ministro do Supremo Juan Carlos Maqueda, magistrado ligado a Kirchner. Com a renúncia, Nazareno evita o processo e mantém privilégios que são concedidos aos ministros da Corte, como aposentadoria especial.
Pela legislação argentina, com a renúncia do presidente, assume o cargo o atual vice-presidente, Eduardo O'Connor. Ele, como Nazareno, integra a chamada "maioria automática" da Corte.
A ala é composta por outros três ministros que foram nomeados na gestão de Menem. Ficou assim conhecida porque sempre apoiavam os pedidos encaminhados pelo ex-presidente. A expectativa agora é que o Congresso inicie uma nova ofensiva de processos contra os integrantes da maioria automática.
Ao todo, a Suprema Corte argentina tem nove ministros. Os outros quatro são: Juan Carlos Maqueda -nomeado no governo Eduardo Duhalde e único politicamente ligado a Kirchner- e outros três considerados independentes (Enrique Petracchi, Augusto Belluscio e Carlos Fayt).
Kirchner não fez comentários sobre o caso, mas o ministro da Justiça, Gustavo Beliz, disse que a renúncia de Nazareno foi "um passo muito importante" para melhorar o funcionamento do Poder Judiciário do país. Disse ainda que o juiz não está isento de investigações e que, agora, poderá enfrentar acusações penais na Justiça argentina.
"[A renúncia] é um triunfo da democracia. Nazareno representava o que havia de mais retrógrado na Justiça argentina", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Advogados, José Maria Pizzorno.
Alguns nomes já começaram a ser cotados para assumir a vaga de Nazareno na Suprema Corte. O mais indicado, segundo especialistas em direito constitucional ouvidos pela Folha, é o do ex-magistrado Eugenio Zaffaroni, especialista em direito penal.
Outros nomes que estavam numa lista que circulou ontem pelo Congresso argentino são o do atual secretário para assuntos legais da Presidência, Carlos Zanini, e o do vice-ministro da Justiça, Abel Ortiz de Rosas. Figuram ainda na lista o juiz Martín Silva Garretón e os advogados constitucionalistas Daniel Sabsay e Ricardo Monner Sans.


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