São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2006 |
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Ataques marcam final da disputa eleitoral mexicana
Em eleição acirrada sem segundo turno, presidenciáveis recorrem a acusações
RAUL JUSTE LORES ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO Candidatos que fazem muitas promessas ou que lustram suas biografias ficaram em segundo plano na campanha presidencial mexicana. A tônica da propaganda na televisão foi a dos ataques aos adversários, em que os favoritos mal aparecem. O medo venceu a esperança na cabeça dos marqueteiros mexicanos. "Essa é a campanha mais suja que já tivemos aqui", diz Enrique Alduncin, dono de um dos mais respeitados institutos de pesquisa do México e que há 30 anos investiga a cabeça do eleitor no país. "Como os demais latinos, sempre achamos que a crítica era mal vista e que se voltava contra quem a fez. Só que os partidos foram inundados por consultores americanos. Importamos os ataques, comuns por lá." A votação está marcada para domingo, dia 2. A estratégia foi iniciada em março pelo candidato conservador Felipe Calderón. Ele não aparece em boa parte de seus anúncios, que focalizam o esquerdista Andrés Manuel López Obrador em momentos iracundos, comparando-o ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, "um perigo para o México". "A outra opção promete aumento de salários como passe de mágica. Mas nos lembramos de governos que fizeram isso e depois desvalorizavam a moeda, a dívida triplicou, e sofremos com a inflação", disse Calderón no encerramento de sua campanha, nesta semana. López Obrador, conhecido por suas iniciais (AMLO), adotou a mesma estratégia. Na propaganda que é exibida nesta semana nas TVs mexicanas, AMLO não dá as caras. Mas há imagens de Calderón e Roberto Madrazo (terceiro lugar nas pesquisas, do PRI), sob a palavra "crise" em letras grandes. O locutor fala do "efeito tequila", da desvalorização do peso em 1994 e do Fobaproa, espécie de Proer mexicano, que socorreu os bancos do país com bilhões de dólares para evitar a quebradeira do sistema financeiro local. O PRI estava no poder, mas Calderón, como deputado federal, votou a favor do socorro aos bancos. Cunhado Outro golpe baixo do esquerdista foi o de acusar Calderón de beneficiar seu cunhado com polpudos contratos quando foi ministro da Energia. A denúncia foi feita no debate dos presidenciáveis. Calderón exigiu provas e Obrador apresentou, dias depois, várias caixas enormes com supostos dossiês. Dentro delas, alguns poucos folders e números que não batiam com suas acusações. AMLO admitiu depois não ter provas "exatas" da corrupção do conservador, "mas precisava levantar o tema". O troco chegou logo. A campanha de Calderón usou vídeos de uma violenta greve de professores em Oaxaca, no sul do país. Em câmera lenta, são destacadas as presenças de candidatos a deputado e líderes do PRD, partido do esquerdista, na passeata. "A violência pode voltar", diz a campanha de Calderón, insinuando que a eleição de AMLO traria o caos. Medo O medo contagiou a população. Segundo pesquisa do instituto Alduncin & Associados, 60% dos mexicanos temem uma crise econômica depois das eleições, e 40% temem que haja distúrbios a partir dos resultados. Apesar desse temor, a economia cresceu 6% no primeiro quadrimestre, e o risco-país (que mede a expectativa dos investidores de que um governo salde suas dívidas) mexicano é menos da metade do brasileiro. A ultima eleição com esse "clima" foi a de 1994, quando o candidato do PRI, Luis Donaldo Colosio, foi assassinado, além de ter havido o levante liderado pelo subcomandante Marcos em Chiapas e a desvalorização do peso, com o famoso "efeito tequila". Texto Anterior: Saddam será julgado por genocídio em agosto Próximo Texto: Campanha de Madrazo acaba melancólica Índice |
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