São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ataques marcam final da disputa eleitoral mexicana

Em eleição acirrada sem segundo turno, presidenciáveis recorrem a acusações

Para analistas, a corrida em curso é a mais "suja" da história do país; 60% dos mexicanos temem crise econômica após eleição


Victor R. Caivano/Associated Press
Milhares de pessoas esperam o último comício do candidato a presidente Roberto Madrazo, do PRI, ontem, na Cidade do México


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Candidatos que fazem muitas promessas ou que lustram suas biografias ficaram em segundo plano na campanha presidencial mexicana. A tônica da propaganda na televisão foi a dos ataques aos adversários, em que os favoritos mal aparecem. O medo venceu a esperança na cabeça dos marqueteiros mexicanos.
"Essa é a campanha mais suja que já tivemos aqui", diz Enrique Alduncin, dono de um dos mais respeitados institutos de pesquisa do México e que há 30 anos investiga a cabeça do eleitor no país. "Como os demais latinos, sempre achamos que a crítica era mal vista e que se voltava contra quem a fez. Só que os partidos foram inundados por consultores americanos. Importamos os ataques, comuns por lá." A votação está marcada para domingo, dia 2.
A estratégia foi iniciada em março pelo candidato conservador Felipe Calderón. Ele não aparece em boa parte de seus anúncios, que focalizam o esquerdista Andrés Manuel López Obrador em momentos iracundos, comparando-o ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, "um perigo para o México".
"A outra opção promete aumento de salários como passe de mágica. Mas nos lembramos de governos que fizeram isso e depois desvalorizavam a moeda, a dívida triplicou, e sofremos com a inflação", disse Calderón no encerramento de sua campanha, nesta semana.
López Obrador, conhecido por suas iniciais (AMLO), adotou a mesma estratégia. Na propaganda que é exibida nesta semana nas TVs mexicanas, AMLO não dá as caras. Mas há imagens de Calderón e Roberto Madrazo (terceiro lugar nas pesquisas, do PRI), sob a palavra "crise" em letras grandes.
O locutor fala do "efeito tequila", da desvalorização do peso em 1994 e do Fobaproa, espécie de Proer mexicano, que socorreu os bancos do país com bilhões de dólares para evitar a quebradeira do sistema financeiro local. O PRI estava no poder, mas Calderón, como deputado federal, votou a favor do socorro aos bancos.

Cunhado
Outro golpe baixo do esquerdista foi o de acusar Calderón de beneficiar seu cunhado com polpudos contratos quando foi ministro da Energia. A denúncia foi feita no debate dos presidenciáveis.
Calderón exigiu provas e Obrador apresentou, dias depois, várias caixas enormes com supostos dossiês. Dentro delas, alguns poucos folders e números que não batiam com suas acusações. AMLO admitiu depois não ter provas "exatas" da corrupção do conservador, "mas precisava levantar o tema".
O troco chegou logo. A campanha de Calderón usou vídeos de uma violenta greve de professores em Oaxaca, no sul do país. Em câmera lenta, são destacadas as presenças de candidatos a deputado e líderes do PRD, partido do esquerdista, na passeata. "A violência pode voltar", diz a campanha de Calderón, insinuando que a eleição de AMLO traria o caos.

Medo
O medo contagiou a população. Segundo pesquisa do instituto Alduncin & Associados, 60% dos mexicanos temem uma crise econômica depois das eleições, e 40% temem que haja distúrbios a partir dos resultados.
Apesar desse temor, a economia cresceu 6% no primeiro quadrimestre, e o risco-país (que mede a expectativa dos investidores de que um governo salde suas dívidas) mexicano é menos da metade do brasileiro.
A ultima eleição com esse "clima" foi a de 1994, quando o candidato do PRI, Luis Donaldo Colosio, foi assassinado, além de ter havido o levante liderado pelo subcomandante Marcos em Chiapas e a desvalorização do peso, com o famoso "efeito tequila".


Texto Anterior: Saddam será julgado por genocídio em agosto
Próximo Texto: Campanha de Madrazo acaba melancólica
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.