São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Briga com campo custa interior aos Kirchner

Governo deve sofrer derrotas para opositores e dissidentes em Córdoba, Mendoza e Santa Fé, além da capital argentina

Resultados podem alavancar candidaturas à Presidência do vice de Cristina, Julio Cobos, e do prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri

DE BUENOS AIRES

Embora tenha entrado em fogo baixo durante a eleição, com os líderes ruralistas ocupados promovendo os 300 "agrocandidatos" que agora buscam cargos legislativos, o conflito tributário do governo com o campo explica o retrocesso do kirchnerismo no interior rural do país.
Os dias de locaute e bloqueios de estradas em 2008, auge da disputa ainda inconclusa, são a causa da provável derrota do governo nas três maiores Províncias do interior -Santa Fé, Córdoba e Mendoza- e da estratégia oficial que concentrou forças na Província de Buenos Aires para compensar esse revés.
"O conflito rural foi o maior erro do governo. Gerou rechaço em distritos-chave, e Cristina não recuperou sua imagem positiva", diz Orlando D'Adamo, do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano.
Em Santa Fé e em Córdoba, agrícolas por excelência, o senador Carlos Reutemann e o governador Juan Schiaretti, líderes peronistas rompidos com o kirchnerismo durante o conflito e que ajudaram a aportar votos a Cristina em 2007, lançaram candidatos próprios e ensaiam consolidar um novo eixo do partido.
Com o peronismo dividido em ao menos 15 dos 24 distritos eleitorais, com listas pró e contra o governo, a eleição de hoje assume caráter de "primária aberta", de reacomodação de forças rumo à sucessão presidencial de 2011.
"Há um fim de ciclo do kirchnerismo, sobretudo porque, dentro do peronismo, quando o líder dá sinal de debilidade, é trocado", diz o historiador Luis Alberto Romero. Além de candidato, Kirchner preside o Partido Justicialista (peronista).

Afastamento
Em Santa Fé, o conflito rural marcou o distanciamento de Reutemann, que se recusou a integrar listas com o líder do governo na Câmara. Se vencer sua disputa contra os candidatos do governador socialista Hermes Binner, cotado para concorrer à Presidência pela oposição, se cacifará como opção peronista não kirchnerista para a sucessão.
Mas Reutemann, líder nas pesquisas, perdeu fôlego na reta final, atingido pela estratégia socialista de associá-lo a Kirchner. "Com a liderança de Kirchner em decadência, uma derrota de Reutemann trará mais conflitividade na luta do peronismo", diz a analista Graciela Römer.
Em Córdoba, o rompimento com Schiaretti deve reduzir pela metade a votação em candidatos dos Kirchner. "Jamais vão colocar a Província de joelhos, por mais poderosos que sejam", disse o governador em maio, ao lançar sua lista.

Prévia da oposição
A eleição de hoje também define lideranças dentro da oposição. Em Mendoza, por exemplo, está em jogo o futuro do vice-presidente Julio Cobos, que governou a Província de 2003 a 2007.
Ex-integrante da UCR (União Cívica Radical), Cobos rompeu com o governo em julho de 2008, após seu voto de minerva derrubar no Senado o projeto oficial que desatou o conflito com o campo. Desde então, é um dos políticos com melhor imagem no país.
Seus candidatos enfrentam o grupo do governador peronista Celso Jaque, aliado do governo. "Uma vitória posiciona Cobos na linha de frente para 2011", afirma o analista Fabian Perechodnik. Em reaproximação com a UCR, Cobos, o governador Binner e Elisa Carrió, segunda colocada nas eleições presidenciais de 2007, são cotados como os principais candidatos da centro-esquerda opositora para 2011.
Na capital, as pesquisas apontam vitória do PRO, partido do prefeito, Mauricio Macri, de centro-direita. O triunfo de sua lista abre caminho para sua postulação à Presidência. (TG)



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