São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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Cidade dividida vive clima de tensão

DIDIER FRANÇOIS
do "Libération", em Mitrovica

Os soldados franceses se inquietam. No sul de Mitrovica, junto às ruínas de um bairro albanês, manifestantes que promovem ato a favor do retorno de mais refugiados albaneses a Kosovo parecem querer transpor a demarcação que, há duas semanas, divide etnicamente a cidade em duas zonas.
No norte, nacionalistas sérvios tentam dispersar, à força, essa marcha pacífica, classificada por seu líder como "uma provocação terrorista" do Exército de Libertação de Kosovo (ELK).
A tensão aumenta. Diante da mesquita, um pequeno grupo de soldados tenta controlar a situação. Desconfortáveis com seu novo papel, empurram cerca de cem extremistas iugoslavos, alguns carregando armas.
Do lado albanês, o movimento separatista controla bem suas tropas. Após minutos de empurra-empurra diante de câmeras de TV, manifestantes pró-independência estimam ter alcançado seu objetivo e diminuem a agitação.
O primeiro-ministro do governo provisório do ELK, Hashim Thaci, pede calma aos albaneses e defende o perdão para "todos os sérvios que não têm sangue nas mãos".
O brasileiro Sérgio Vieira de Mello, enviado especial da ONU a Kosovo, diz que "essa marcha poderia virar um desastre".
O contingente francês, que controla a região, ficou preocupado quando o comando local do ELK disse que queria organizar uma manifestação.
O dirigente separatista exigiu uma visita ao hospital de Mitrovica, localizado no lado norte da cidade. Uma intromissão, segundo os sérvios, que procuram limitar o acesso da população albanesa a essa parte da cidade. Thaci atravessou o rio Ibri acompanhado por tropas francesas.
Surpreso, o diretor do hospital recebe a delegação sem conseguir disfarçar seu embaraço. Sua posição não é das mais confortáveis. Médico sérvio, casado com uma albanesa, ele já era acusado de complacência.
Seus compatriotas se opõem à visita. "Aceitamos retomar o trabalho com nossos colegas. Não com o ELK", diz uma médica. Na véspera, os sérvios haviam aceito a reintegração progressiva dos funcionários albaneses.






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