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Cidade dividida vive clima de tensão
DIDIER FRANÇOIS
do "Libération", em Mitrovica
Os soldados franceses se inquietam. No sul de Mitrovica, junto às
ruínas de um bairro albanês, manifestantes que promovem ato a
favor do retorno de mais refugiados albaneses a Kosovo parecem
querer transpor a demarcação que,
há duas semanas, divide etnicamente a cidade em duas zonas.
No norte, nacionalistas sérvios
tentam dispersar, à força, essa
marcha pacífica, classificada por
seu líder como "uma provocação
terrorista" do Exército de Libertação de Kosovo (ELK).
A tensão aumenta. Diante da
mesquita, um pequeno grupo de
soldados tenta controlar a situação. Desconfortáveis com seu novo papel, empurram cerca de cem
extremistas iugoslavos, alguns carregando armas.
Do lado albanês, o movimento
separatista controla bem suas tropas. Após minutos de empurra-empurra diante de câmeras de TV,
manifestantes pró-independência
estimam ter alcançado seu objetivo e diminuem a agitação.
O primeiro-ministro do governo
provisório do ELK, Hashim Thaci,
pede calma aos albaneses e defende o perdão para "todos os sérvios
que não têm sangue nas mãos".
O brasileiro Sérgio Vieira de Mello, enviado especial da ONU a Kosovo, diz que "essa marcha poderia
virar um desastre".
O contingente francês, que controla a região, ficou preocupado
quando o comando local do ELK
disse que queria organizar uma
manifestação.
O dirigente separatista exigiu
uma visita ao hospital de Mitrovica, localizado no lado norte da cidade. Uma intromissão, segundo
os sérvios, que procuram limitar o
acesso da população albanesa a essa parte da cidade. Thaci atravessou o rio Ibri acompanhado por
tropas francesas.
Surpreso, o diretor do hospital
recebe a delegação sem conseguir
disfarçar seu embaraço. Sua posição não é das mais confortáveis.
Médico sérvio, casado com uma
albanesa, ele já era acusado de
complacência.
Seus compatriotas se opõem à visita. "Aceitamos retomar o trabalho com nossos colegas. Não com o
ELK", diz uma médica. Na véspera, os sérvios haviam aceito a reintegração progressiva dos funcionários albaneses.
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