São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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DIREITOS DAS CRIANÇAS

Situações como as encontradas nas plantações de banana do Equador se repetem no continente

Trabalho infantil continua a desafiar América Latina

JUAN FORERO
DO "THE NEW YORK TIMES"

Na fazenda Los Alamos, parece que nenhuma despesa é poupada para produzir as bananas da marca Bonita, vendidas nos EUA.
A moderna fazenda de 1.200 hectares no Equador é uma das mais eficientes da América Latina e emprega 1.300 pessoas para cuidar de bananeiras irrigadas por um sistema de ponta.
O dono é Alvaro Noboa, o homem mais rico do Equador. Ele se tornou o candidato a presidente mais popular com a ajuda de uma campanha de marketing impecável que o retrata como amigo dos pobres. "Eu amo os trabalhadores de Los Alamos", disse Noboa ao anunciar sua candidatura.
Mas, em entrevistas, uma dezena de crianças e muitos adultos falaram que há trabalho infantil em Los Alamos. Esteban Menendez, 10, está entre eles. "Eu venho para cá depois da escola e trabalho o dia inteiro", diz. "Tenho de trabalhar para ajudar meu pai."
A presença de crianças na plantação de um homem que pode vencer a eleição presidencial do Equador em outubro é um dos exemplos mais gritantes de quão duradouro o uso de trabalho infantil permanece na América Latina, onde se estima que cerca de 42 milhões de crianças de 5 a 14 anos trabalham.
O trabalho infantil é geralmente utilizado em propriedades agrícolas, grandes ou pequenas.
Por dois anos, Esteban e sua família dizem, o menino vem cuidando de bananeiras de mais de 4 m de altura, amarrando cordas cheias de inseticida para estabilizar troncos que poderiam ser derrubados pelo peso do produto que está por trás da fortuna de mais de US$ 1 bilhão de Noboa.
Ele trabalha de graça para evitar que o pagamento de seu pai, que cuida de 40 hectares, seja cortado.
O problema do Equador é menos grave do que o de outros países da região. Mesmo assim, a Organização Internacional do Trabalho estimou que 69 mil crianças de 10 a 14 anos e 325 mil jovens de 15 a 19 anos estavam trabalhando aqui em 1999.
Apenas um aumento significativo de salários -na melhor das hipóteses, uma perspectiva distante em um país onde o trabalhador médio ganha US$ 5,74 por dia- vai evitar que famílias enviem seus filhos às fazendas, dizem defensores dos direitos das crianças.
Mas a situação das crianças está longe de ser simples.
Quando muitas fazendas, temendo chamar atenção, mandaram embora seus trabalhadores mirins depois de um desastroso relatório de 114 páginas da Human Rights Watch, a medida foi tomada como uma catástrofe pelas famílias do sul do Equador.
"Eles mandaram todas as crianças embora, mas o trabalho que elas faziam nos ajudava", disse Maria Narvaez, 31, cujos filhos, Nestor,12, e Luis, 13, foram demitidos de uma propriedade onde ganhavam US$ 3 por dia.
Apesar de ninguém saber exatamente quantas crianças trabalham nas grandes plantações do Equador, Sergio Seminario, analista e ex-presidente da Associação dos Exportadores de Banana, estima que haja 6.000, além de outros milhares trabalhando em pequenas propriedades familiares.
O Ministério do Trabalho sabe há muito do problema na indústria, responsável por 20% das exportações do Equador. Mas Alberto Montalvo, o funcionário de mais alto escalão nesta região, diz que é difícil de ser eliminado. "Temos de reconhecer que todos os membros das famílias têm de trabalhar para poder pagar por artigos básicos."
A existência do trabalho infantil em plantações é um produto da aritmética simples e de exploração anormal. Os chefes de família aqui dizem que ganham entre US$ 6 e US$ 7 por dia trabalhando na plantação, mas frequentemente precisam trabalhar seis ou sete dias por semana, sem ganhar as horas extras garantidas por lei. O salário mínimo é de US$ 128 por mês no Equador. Mas a quantia que ganham é menor do que os US$ 220 mensais que o governo afirma serem necessários para cobrir as despesas básicas de uma família de quatro pessoas, então as crianças vão trabalhar.


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