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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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É o fim de Arafat, diz negociador

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ativo negociador do lado israelense nos acordos de paz de Oslo, Uri Savir diz que hoje iria mais rápido, mas não havia alternativa em 93. Para ele, o palestino Iasser Arafat "poderia ter sido Mandela ou Fidel Castro". "Ele preferiu ser Fidel", disse. Savir esteve em São Paulo para tratar de assuntos da entidade que preside, o Glocal Forum, cujo objetivo é promover a paz por meio de negociações entre cidades (daí o nome Glocal, de global e local).
 

Folha - O senhor foi um dos principais negociadores dos acordos de paz de Oslo, em 1993. Dez anos depois, o que deu errado?
Savir -
O que deu errado foi a implementação. Os acordos foram certos, e, quando um dia chegarmos à paz, será exatamente como estava previsto em Oslo.

Folha - A lógica dos acordos, com pequenos passos para atingir as grandes questões, estava errada?
Savir -
A questão é irrelevante, porque não havia alternativa. É óbvio que, se é possível fazer mais rápido, todo mundo prefere. Fizemos o máximo que podíamos. Nosso primeiro-ministro foi morto por causa desses acordos [Yitzhak Rabin, assassinado em 1995]. Arafat quase perdeu o controle por causa desses acordos.
Infelizmente, quando tivermos um acordo, nós provavelmente vamos dizer que Oslo precisava de uma crise. Porque a mudança que foi colocada na mesa foi uma mudança muito radical. O conflito israelo-palestino era um conflito existencial. Um dizia ao outro: não permito que você exista.
Hoje Ariel Sharon [premiê israelense] fala como eu falava há dez anos. Sobre Oslo, hoje, eu diria: vamos rápido. Um dia haverá paz entre israelenses e palestinos, e posso escrever para você exatamente como será o acordo. A tragédia é que, nesse meio tempo, a única questão é: quantas pessoas vão morrer até lá?

Folha - Em 1998, o senhor disse que para o então premiê, Binyamin Netanyahu, a paz era apenas a continuação do conflito por outros meios. O senhor acha que Sharon também encara a paz desse modo?
Savir -
Sinceramente não sei. Mas acho que não. Acho que Sharon vê a paz como um alvo estratégico, mas politicamente e ideologicamente ele não está pronto para pagar o preço.

Folha - O senhor acredita que a paz virá com Sharon?
Savir -
Não. Acho que pode haver progresso. Os palestinos realmente perderam uma oportunidade com Clinton. Arafat poderia ter sido Mandela ou Fidel Castro. Ele foi mais Fidel, e ainda assim não um verdadeiro Fidel. Ele realmente poderia ter sido Mandela.

Folha - Mas seu tempo passou.
Savir -
Ele está acabado.


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