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É o fim de Arafat, diz negociador
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ativo negociador do lado israelense nos acordos de paz de Oslo,
Uri Savir diz que hoje iria mais rápido, mas não havia alternativa
em 93. Para ele, o palestino Iasser
Arafat "poderia ter sido Mandela
ou Fidel Castro". "Ele preferiu ser
Fidel", disse. Savir esteve em São
Paulo para tratar de assuntos da
entidade que preside, o Glocal Forum, cujo objetivo é promover a
paz por meio de negociações entre cidades (daí o nome Glocal, de
global e local).
Folha - O senhor foi um dos principais negociadores dos acordos de
paz de Oslo, em 1993. Dez anos depois, o que deu errado?
Savir - O que deu errado foi a implementação. Os acordos foram
certos, e, quando um dia chegarmos à paz, será exatamente como
estava previsto em Oslo.
Folha - A lógica dos acordos, com
pequenos passos para atingir as
grandes questões, estava errada?
Savir - A questão é irrelevante,
porque não havia alternativa. É
óbvio que, se é possível fazer mais
rápido, todo mundo prefere. Fizemos o máximo que podíamos.
Nosso primeiro-ministro foi
morto por causa desses acordos
[Yitzhak Rabin, assassinado em
1995]. Arafat quase perdeu o controle por causa desses acordos.
Infelizmente, quando tivermos
um acordo, nós provavelmente
vamos dizer que Oslo precisava
de uma crise. Porque a mudança
que foi colocada na mesa foi uma
mudança muito radical. O conflito israelo-palestino era um conflito existencial. Um dizia ao outro:
não permito que você exista.
Hoje Ariel Sharon [premiê israelense] fala como eu falava há
dez anos. Sobre Oslo, hoje, eu diria: vamos rápido. Um dia haverá
paz entre israelenses e palestinos,
e posso escrever para você exatamente como será o acordo. A tragédia é que, nesse meio tempo, a
única questão é: quantas pessoas
vão morrer até lá?
Folha - Em 1998, o senhor disse
que para o então premiê, Binyamin
Netanyahu, a paz era apenas a continuação do conflito por outros
meios. O senhor acha que Sharon
também encara a paz desse modo?
Savir - Sinceramente não sei.
Mas acho que não. Acho que Sharon vê a paz como um alvo estratégico, mas politicamente e ideologicamente ele não está pronto
para pagar o preço.
Folha - O senhor acredita que a
paz virá com Sharon?
Savir - Não. Acho que pode haver progresso. Os palestinos realmente perderam uma oportunidade com Clinton. Arafat poderia
ter sido Mandela ou Fidel Castro.
Ele foi mais Fidel, e ainda assim
não um verdadeiro Fidel. Ele realmente poderia ter sido Mandela.
Folha - Mas seu tempo passou.
Savir - Ele está acabado.
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