São Paulo, Quarta-feira, 28 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Medida é política, diz criminologista

da Reportagem Local


Para o criminologista mexicano Rafael Ruiz Harrell, a transferência de militares para a Polícia Federal Preventiva é política.
"O governo está preocupado com as eleições presidenciais do ano que vem. E a formação de quadros para a PFP demorará no mínimo um ano", diz Ruiz, professor da Universidade Nacional, na Cidade do México.
Ele questiona também os objetivos da nova polícia: "O governo não quer coordenar (a política de segurança), mas mandar. Mas o México é uma federação. Cada Estado tem sua própria polícia".
Segundo ele, a PFP só poderá combater crimes federais, como o narcotráfico. A delinquência comum, principal problema do país, estaria fora de seu alcance.
A criminalidade no México cresceu após a crise financeira que atingiu o país em 1994. Em 93, houve cerca de 137,5 mil delitos denunciados na capital mexicana (com cerca de 17 milhões de habitantes). Em 97, foram cerca de 255,5 mil e, em 98, 237,8 mil.
"No ano passado, os roubos representaram 63% dos delitos denunciados. Os crimes que trazem algum lucro para o criminoso foram os que mais cresceram, uma consequência direta da crise econômica", diz Rafael Ruiz Harrell.

Intervenções no Brasil
O Exército brasileiro já participou de operações de segurança pública em circunstâncias especiais, como durante a Eco 92, e no final de 94, quando houve ocupação de morros e favelas.
Mas, segundo o cientista político brasileiro Paulo de Mesquita Neto, 37, isso deve ser evitado.
"Os militares não devem atuar no combate à criminalidade porque são treinados para combater um inimigo externo e não cidadãos de seu próprio país", diz Mesquita Neto, do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
"A lógica da ação militar não é a mesma da ação policial. O militar é preparado para lidar com forças inimigas de outro país. Já a criminalidade é um fenômeno que se manifesta entre pessoas da mesma comunidade", diz.
"Para combatê-la, a polícia depende da cooperação da comunidade. Se atuar com a lógica militar, não terá cooperação, porque o inimigo não coopera." (OD)


Texto Anterior: Polêmica: México usa Exército contra crime
Próximo Texto: Esporte radical: Acidente mata 18 praticantes de canyoning
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.