São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Bush recebe embaixador em rancho e promete consultar Arábia Saudita e outros países sobre ataque ao Iraque

EUA buscam reaproximação com sauditas

DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, recebeu ontem o embaixador saudita em seu rancho no Texas (sul). A reunião faz parte de uma ofensiva diplomática americana para melhorar as relações com a Arábia Saudita, maior produtor mundial de petróleo e aliada estratégica de Washington.
O príncipe Bandar bin Sultan, acompanhado de sua família, foi recebido pelo presidente para um encontro informal. Bush prometeu a ele "consultar a Arábia Saudita e outras nações sobre os passos a serem tomados com relação ao Iraque", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.
Horas antes, Bush telefonou ao príncipe Abdullah, líder máximo saudita em atividade, para reafirmar a sua intenção de fortalecer a aliança bilateral. Os laços de cooperação foram abalados nos últimos meses por diversos fatores, que seriam discutidos ontem.
Riad -assim como o restante do mundo árabe- se nega a apoiar o projeto de Bush de forçar a deposição do regime de Saddam Hussein. Diz que não vai autorizar a utilização de bases aéreas dos EUA em seu território para missões contra Bagdá.
A monarquia saudita tampouco concorda com a política americana com relação ao conflito israelo-palestino, baseada no isolamento do líder palestino Iasser Arafat e no apoio às ações antiterrorismo do governo de Israel.
Além disso, autoridades americanas criticam a Arábia Saudita pela falta de empenho no combate às atividades de militantes extremistas islâmicos anti-EUA.
Ao menos 15 dos 19 sequestradores dos aviões usados nos atentados de 11 de setembro eram sauditas. Dentre os mais de 500 acusados de ligação com a rede terrorista Al Qaeda detidos no Afeganistão e transferidos à base de Guantánamo (Cuba), 125 são da Arábia Saudita.
Há relatos de que os sauditas, temendo represálias, estariam transferindo seu dinheiro dos EUA para a Europa. Cerca de US$ 200 bilhões teriam sido movimentados. Riad nega. Parentes de vítimas dos atentados entraram com ação na Justiça dos EUA pedindo indenização de US$ 1 trilhão a membros da família real saudita e empresas do país.
A agência de notícias oficial Saudi Press Agency publicou detalhes da conversa de ontem entre Bush e Abdullah. Afirmou que o presidente dos EUA teria minimizado a importância de comentários hostis à Arábia Saudita feitos em Washington. "Esses comentários não refletem a força e a solidez do relacionamento", teria declarado Bush. Ele estaria se referindo a uma apresentação feita por um analista no Pentágono na qual o palestrante argumentou que os sauditas deveriam passar a ser vistos como inimigos. "A Arábia Saudita apóia os nossos inimigos e ataca os nossos aliados", disse o analista da Rand, instituto de estudos estratégicos que ajuda a formular a política americana.
Bush teria explicado que o pensamento da Casa Branca difere da visão proposta pelo analista.
Um exemplo do estado das relações diplomáticas foi dado em editorial do diário saudita "Riyadh": "É preciso lançar um diálogo nacional sobre o futuro de nossos vínculos com os EUA porque estamos recebendo repetidos sinais de Washington de que eles não enxergam mais nossas relações da mesma forma".

Iraque
As divergências sobre uma possível ação contra o Iraque são o tema mais urgente da agenda. Riad tem dado sinais de insatisfação com os "falcões" do governo Bush, que defendem uma ofensiva contra Saddam mesmo que os EUA tenham de agir sozinhos.
Para a monarquia saudita -e para outros regimes autoritários da região apoiados pelos EUA- uma guerra poderia radicalizar a opinião pública árabe e ameaçar a estabilidade política regional.


Com agências internacionais

Próximo Texto: Bagdá afirma não temer ameaças americanas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.