São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Americanos violaram malas de diplomatas brasileiros

Bagagens, que possuem passagem livre em alfândegas, tiveram lacres rompidos

DE BRASÍLIA

Os telegramas sigilosos do Itamaraty obtidos pela Folha narram frequentes ataques das autoridades alfandegárias norte-americanas à incolumidade das malas diplomáticas do Consulado do Brasil em Miami (EUA) e da Embaixada brasileira em Havana.
Esse tipo de bagagem tem livre passagem pelas alfândegas dos aeroportos no trânsito entre países com acordos de reciprocidade. As malas podem conter documentos sigilosos que, se revelados, poderiam gerar incidentes diplomáticos internacionais.
Entre 1992 e 1993, lacres metálicos foram rompidos e as autoridades alfandegárias norte-americanas em Miami tentaram submeter as malas diplomáticas brasileiras a análises de raio-x, incluindo uma remessa proveniente da embaixada em Havana.
As primeiras violações foram verificadas em 1992. Em 16 de julho, a mala recebida pelo consulado em Miami "teve o arame de fechamento rompido próximo ao lacre, e seu lacre interno também está aberto", segundo telegrama expedido pelo Itamaraty.
Em novembro, o consulado informou que o secretário Fernando Vidal, do correio diplomático de Havana, "foi retido por funcionário da alfândega norte-americana para averiguações" sobre a bagagem que trazia de Cuba em avião de carreira.
A alfândega "levantou suspeitas sobre o caráter da missão, as características da mala e seu conteúdo, e ordenou que a mesma fosse objeto de revista em raio-x". Vidal ameaçou chamar o consulado, o que fez os americanos desistirem da ideia.

PEDIDO DE APURAÇÃO
Em 1992, o Brasil exigiu que as violações fossem apuradas pelos EUA. Em outubro, o Departamento de Estado informou ter solicitado uma "minuciosa investigação".
Não houve resposta por mais de oito meses. Em julho de 1993, o Itamaraty pediu que a embaixada verificasse se as investigações "acerca dos casos de violação das malas diplomáticas já teriam sido concluídas".
A Embaixada brasileira em Washington cobrou os americanos, mas, novamente, não houve resposta.
O ex-chanceler Celso Lafer disse à Folha que, passados quase 20 anos dos incidentes, não se recordava dos problemas em Miami.
Além das violações e de extravios rotineiros, a remessa de malas também foi ameaçada por falta de recursos para quitar dívidas com companhias aéreas responsáveis pelo transporte dos documentos, quadro relatado em dois telegramas enviados pelo consulado em Miami.
Em resposta aos apelos, o Itamaraty informou que, mesmo sem aprovação orçamentária, conseguiu antecipar US$ 5 mil para atender "os compromissos financeiros com o processamento de malas diplomáticas".


Texto Anterior: Telegramas diplomáticos inéditos revelam tensão entre Brasil e EUA
Próximo Texto: Questionário para obter visto é 'humilhante', relatou Amorim
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.