São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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Embaixada brasileira em Washington foi grampeada

Diplomata relatou interceptação em telefones em despacho de 2001

Rubens Barbosa afirma que informou situação ao Departamento de Estado americano, mas que não houve reação

DE BRASÍLIA

Em março de 2001, a poucos dias de uma visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao colega recém-eleito George Bush, os telefones da Embaixada do Brasil em Washington (EUA) começaram a ter uma "sensível perda de qualidade" e ficaram "praticamente" mudos.
O embaixador brasileiro à época, Rubens Antonio Barbosa, encomendou uma varredura nos telefones.
Técnicos lhe disseram que problemas semelhantes vinham ocorrendo em outras embaixadas, sempre às vésperas de visitas de presidentes e autoridades dos países.
A primeira checagem nos aparelhos não encontrou sinais de grampo. Mas, dois meses depois, uma nova inspeção confirmou as suspeitas do embaixador.
Em um telegrama confidencial enviado a Brasília em 24 de maio de 2001, Barbosa diz ter "certeza de grampo nas linhas telefônicas".
O embaixador contou, em recado para o então ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, que "descobriu-se o que pareceria ser uma ligação telefônica direta entre o prédio da Chancelaria [brasileira] e o Departamento de Defesa norte-americano".
"A ligação opera à semelhança de um ramal interno, isto é, ao se discar o dígito '0' atende uma telefonista daquele órgão do governo dos EUA", relata Barbosa.
Dez anos depois da interceptação, Barbosa revelou à Folha ter levado o assunto ao Departamento de Estado norte-americano. A reação, segundo ele, foi de silêncio absoluto. "Nunca ninguém passou recibo de quem era o autor, do que queriam ou o que estavam querendo de nós."
O ex-chanceler Lafer disse não se recordar dos avisos sobre a suspeita de grampos, mas lembrou que a "a recomendação era não falar ao telefone o que não se queria que fosse sabido".

CRIPTOGRAFIA
Em setembro de 1994, por meio de telegrama enviado do Brasil, o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima foi informado que dois funcionários do Itamaraty iriam instalar "telefone cripto e rever o sistema de comunicações".
Dias antes da criptografia, o Brasil havia reagido negativamente à possibilidade de o governo dos EUA ter acesso ao conteúdo de informações por meio de um programa de computador. O parecer foi feito pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, ligada à Presidência.
No mesmo documento, é discutida a "inevitabilidade" da internet. Ao falar que os EUA buscam tomar a iniciativa sobre o assunto, o telegrama diz que o "acesso a informações comerciais, militares, diplomáticas, industriais e de pesquisa traria ao seu detentor uma vantagem econômica e estratégica".


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