São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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GUERRA À VISTA

Bagdá teria 7 dias para aceitar demandas; ainda sem apoio da ONU ao texto, Bush diz que pode não esperar aval

Resolução dos EUA dá prazo curto a Saddam

DA REDAÇÃO

A resolução que EUA e Reino Unido pretendem submeter à ONU pede à entidade que dê prazo de sete dias para que o ditador do Iraque, Saddam Hussein, aceite uma lista de demandas, que vão de abrir seus programas de armas de destruição em massa a permitir a inspeção de todos os locais exigidos, inclusive palácios presidenciais, informaram ontem fontes diplomáticas americanas.
Bagdá teria então 30 dias para apresentar detalhadamente seus planos de desenvolvimento de armas químicas, biológicas e nucleares.
O ultimato seria seguido de um aviso de que "todos os meios necessários" seriam usados contra o Iraque no caso de uma atitude de desafio por parte de Bagdá.
Esse é o trecho que causa apreensão entre os outros integrantes do Conselho de Segurança (CS) com direito a veto -França, Rússia e China. Ao não atrelar a ameaça a nenhuma demanda específica, daria aos EUA a possibilidade de julgar quando o ataque deveria ser desfechado.
O documento só circulará oficialmente na segunda-feira e deverá sofrer alterações.

Bush impaciente
O presidente George W. Bush voltou a apelar ao CS que aja rapidamente. Ele sugeriu que os EUA poderão atuar por conta própria se isso não acontecer.
Bush iniciou um novo esforço diplomático -telefonou para o presidente da França, Jacques Chirac, e mandou um enviado a Paris-, mas ouviu novas restrições a seus planos. Chirac disse a Bush que quer primeiro uma resolução da ONU sobre as inspeções de armas e depois uma outra, estabelecendo punições caso o Iraque não cumpra a primeira.
Mostrando irritação, Bush afirmou, em discurso, que o ditador Saddam Hussein e o CS têm uma escolha. "Ele [Saddam" pode se livrar de seus armamentos e a ONU podem agir, ou os EUA liderarão uma coalizão para desarmar esse homem", afirmou Bush.
"Eu quero dar uma chance para que a paz funcione. Quero que a ONU atue. Quero que ele [Saddam" faça o que disse que faria. Mas, pelo bem do nosso futuro, a hora é agora", disse.
O Iraque anunciou na semana passada a permissão para o retorno das inspeções de armamentos da ONU ao país, mas Bush diz não confiar na proposta e deseja uma autorização para uma ação militar o mais rápido possível.
As inspeções da ONU foram determinadas após a Guerra do Golfo (1991), mas foram interrompidas em 1998, após o Iraque acusar os inspetores de espionar para os EUA. Washington acusa Saddam de desenvolver armas de destruição em massa e de colaborar com terroristas. O Iraque nega.
Para aprovar uma resolução, é necessário o apoio de ao menos nove dos 15 membros do CS. Ontem, foram eleitos cinco novos membros -Angola, Chile, Alemanha, Paquistão e Espanha-, para substituir outros cinco cujos mandatos de dois anos terminaram -Colômbia, Irlanda, Ilhas Maurício, Noruega e Cingapura.
A China, que até agora vinha mantendo distância do assunto, também criticou ontem a posição americana. O premiê chinês, Zhu Rongji, disse que a ONU deve pressionar o Iraque pela volta das inspeções, mas também deve respeitar sua soberania. "Se as inspeções não acontecerem, se não tivermos provas claras e se não tivermos autorização do Conselho de Segurança, não podemos lançar um ataque militar ao Iraque. Senão, haveria consequências incalculáveis", disse Zhu.
A Rússia também alega que as resoluções já existentes são suficientes para impedir o Iraque de desenvolver armas de destruição em massa.


Com agências internacionais

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