São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Kennedy, guerra deve ser última opção

DA REDAÇÃO

A tentativa do presidente dos EUA, George W. Bush, de conseguir uma resolução do Congresso permitindo o uso da força contra o Iraque ganhou mais um opositor de peso entre os democratas: o senador Edward Kennedy. "Há alternativas realistas entre nada fazer e declarar unilateralmente uma guerra imediata", disse o senador. "A guerra deve ser a última alternativa, não a primeira."
Kennedy disse que Bush não conseguiu justificar de modo consistente a necessidade de um ataque preventivo ao Iraque.
O Senado deve discutir uma resolução nesse sentido na semana que vem. A Casa Branca tem expressado confiança de que ela será aprovada, apesar dos democratas, que são maioria na Casa, terem se mostrado céticos quanto aos apelos do governo.
Para Kennedy, um ataque unilateral dos EUA poderia fragilizar a posição política do país no Oriente Médio e no mundo.
"As pessoas boas e decentes dos dois lados desse debate estão todas comprometidas com a segurança nacional, mas podem ficar de lados opostos em relação a essa decisão (de atacar)", disse.
A frase de Kennedy foi uma referência óbvia, embora oblíqua, aos confrontos verbais entre a Casa Branca e os líderes do Partido Democrata no Congresso durante esta semana.
As críticas a Kennedy não tardaram: o deputado Tom Delay, republicano do Texas, disse que o argumento de Kennedy equivalia a dar às Nações Unidas um "subcontrato" para tomar conta da segurança nacional dos EUA.
O senador democrata diverge essencialmente de dois argumentos usados por Bush para justificar um ataque: um é o de que derrubar Saddam seria parte da campanha antiterrorista movida pelos EUA; outro é o de que há inegáveis ligações entre Bagdá e a rede terrorista Al Qaeda.
"Creio que uma ação contra o Iraque que não contasse com um sério apoio internacional fragilizaria nossos esforços em assegurar que os terroristas da Al Qaeda nunca mais voltem a ameaçar vidas americanas de novo", disse.
Quanto aos laços entre Bagdá e a Al Qaeda, Kennedy disse "não há evidências convincentes das relações dos iraquianos com a rede terrorista ou com o Taleban".

Jesse Jackson
O reverendo e ex-senador democrata Jesse Jackson atacou ontem as pretensões do presidente George W. Bush de invadir o Iraque. Disse que a atitude poderia motivar outros conflitos, como, por exemplo, entre Índia e Paquistão e entre China e Taiwan.
Segundo o reverendo, que esteve ontem no Rio com a governadora Benedita da Silva, os EUA "vão gastar muito dinheiro" com a guerra. Esses recursos, disse, poderiam ser usados para abater parte da dívida externa de países pobres ou para alimentar pessoas ou ainda combater a Aids.
"Uma guerra fará com que os EUA percam sua autoridade moral e o seus valores", disse.
Para Jackson, o objetivo de depor Saddam Hussein só será atingido com a sua morte, o que "custará a vida de muitos inocentes".
A guerra contra o Iraque, afirmou, não atingirá o ponto central, que é o combate ao terrorismo. Isso porque muitos integrantes da rede terrorista Al Qaeda continuam soltos, alguns até mesmo em território americano, disse.
Jackson afirmou que Bush fez "uma grave ameaça" ao Senado americano na semana passada, ao dizer que quem está contra a guerra está contra os EUA.


Com agências internacionais, "The New York Times" e Sucursal do Rio


Texto Anterior: EUA só querem derrubar Saddam, diz Rumsfeld
Próximo Texto: Visita polêmica
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.