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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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Lei deve conter ódio na mídia, diz especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

A Royal Television Society é uma entidade que tem entre suas atribuições avaliar a qualidade e a equidade da TV no Reino Unido. Ela enviou recentemente uma missão ao Iraque, também ocupado por tropas britânicas.
Stephen Claypole, pesquisador e chefe da missão, afirma que, diante da recém-adquirida liberdade de imprensa, é necessária uma legislação que impeça a transformação de jornais, revistas e emissoras TV em instrumentos de incitação ao ódio.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Claypole concedeu à Folha. (JBN)

Folha - Os jornalistas iraquianos ficaram anos sob censura ferrenha. Como lidar agora com seus próprios enfoques sobre o noticiário?
Stephen Claypole -
Creio que seja o que agora realmente acontece. Há um grande esforço a ser feito. Mas as coisas já se definem com certa rapidez. De 12 jornais que passaram a ser publicados em Bagdá logo após a queda de Saddam Hussein, só dois não tinham linhas editoriais muito nítidas. Os demais aparentemente sabiam que tipo de orientação deveriam seguir.

Folha - Como é que de uma hora para outra surgiram tantas gráficas, e de onde vem o papel?
Claypole -
Há muito papel que entra hoje no Iraque pela Jordânia e também pelo Irã. Os iranianos são fornecedores preferenciais de regiões controladas pelos xiitas, embora outra parcela das importações venha de empresas iranianas só interessadas em ganhar dinheiro e que vendem para qualquer comunidade muçulmana.

Folha - E quanto às gráficas?
Claypole -
Essas centenas de pequenos jornais de que se fala são na verdade improvisados e têm uma circulação muito reduzida. O que me surpreendeu, no entanto, foram dois ou três jornais com projeto gráfico sofisticado e com muitas páginas em cores. Apenas em Bagdá há quatro gráficas muito bem equipadas. Elas foram subutilizadas nos últimos anos de Saddam pela carência de papel e tinta, provocada pelo embargo.

Folha - No Iraque só trabalha como jornalista quem tem diploma de jornalismo. Isso bastaria para a qualificação da mão-de-obra?
Claypole -
A sociedade iraquiana é em geral sofisticada. Há muitos jornalistas formados por lá, e também na Europa e Estados Unidos. Quanto à qualificação, eu daria um exemplo menor. Nas semanas antes da guerra uma quantidade imensa de jornalistas estrangeiros se instalou em Bagdá. Parte dessas equipes contratou iraquianos. Esses contratados se acostumaram a um tipo de equipamento e a formas de trabalho que serão úteis a partir de agora.

Folha - Os iraquianos têm condições de enfrentar a concorrência de audiência com TVs e emissoras de rádio de outros países árabes?
Claypole -
Tão logo Saddam caiu, caminhões carregados de antenas parabólicas começaram a chegar da Jordânia. Mas não foi para sintonizar apenas outros canais árabes. O que eles também querem é sintonizar canais britânicos, italianos ou espanhóis que transmitam partidas de futebol, uma paixão nacional no Iraque.

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