São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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ÁSIA

Em documento, partido diz que combate aos desvios é "questão de vida ou morte" para sua autoridade

PC chinês admite que corrupção mina seu poder

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O Partido Comunista da China reconheceu que a corrupção pode colocar em risco sua própria sobrevivência no poder e colocou o combate às irregularidades como um dos principais pontos de sua atuação no futuro, segundo documento aprovado na reunião do Comitê Central, entre os dias 16 e 19 de setembro, divulgado ontem.
O combate à corrupção é uma "questão de vida ou morte para o partido", afirma o texto. O documento de 36 páginas faz um balanço dos 55 anos de história comunista na China e aponta os desafios que os dirigentes terão de enfrentar no futuro.
"Quanto mais o partido ficar no poder, mais árdua será a tarefa de combater a corrupção e mais necessário será para o partido manter a guerra contra a corrupção e reforçar sua capacidade para preveni-la", afirma o texto. "Esses problemas vão minar a eficácia do partido no governo. Eles têm de receber grande atenção e ser resolvidos de maneira apropriada."
O texto ressalta que o regime não sobreviverá "para sempre se o partido não fizer nada para mantê-lo".
"Não houve mudança na estratégia de forças hostis para impor a ocidentalização e a divisão entre nós", diz o parágrafo inicial do documento, que tem como tema o aperfeiçoamento da capacidade dirigente do partido. "Nós ainda enfrentamos pressão de países desenvolvidos que têm vantagens competitivas em aspectos econômicos e de desenvolvimento tecnológico em relação a nós."
Os dirigentes comunistas ressaltaram a necessidade de manutenção de altos índices de crescimento econômico e reafirmaram o princípio do controle dos meios de comunicação pelo Estado.
"O princípio de que o partido controla a mídia deve ser mantido, para fortalecer a capacidade de guiar a opinião pública", ressalta o documento. Ontem, completaram-se dez dias da prisão do repórter assistente do "New York Times" em Pequim, o chinês Zhao Yan, sem que seu advogado ou membros de sua família pudessem entrar em contato com ele. Zhao foi detido no dia 17 sob a acusação de revelar "segredo de Estado" a estrangeiros, sem especificar qual. Ontem, os EUA protestaram formalmente.
A suposição mais forte é que a acusação esteja relacionada à reportagem que o "New York Times" publicou no dia 7 de setembro, segundo a qual o ex-presidente Jiang Zemin iria renunciar ao comando militar do país, o que se confirmou no último dia da reunião do Comitê Central.
"Zhao e seu advogado têm o direito de saber qual acusação está sendo apresentada contra ele. Ele deve ter a chance de se defender contra as alegações, de uma maneira que mostre ao mundo que a Justiça foi feita. Qualquer coisa menos que isso não apenas violaria seus direitos fundamentais. Também prejudicaria a imagem internacional da China, em um momento em que o mundo está buscando sinais de progresso social", afirma editorial do jornal independente de Hong Kong "South China Morning Post".


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