São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bush infla balanço de guerra ao terror

DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush tem inflado, durante a campanha eleitoral, o balanço da guerra aberta de seu governo contra a rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden, de acordo com especialistas em terrorismo internacional consultados pela Folha.
No debate de 13 de outubro último, Bush reiterou que sua administração já tinha matado ou capturado 75% dos líderes da rede terrorista responsável pelo 11 de Setembro. Cerca de 3.000 pessoas morreram nos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono.
"Bush utiliza os números mais convenientes para seus propósitos eleitorais atuais. Se o que conta é a liderança da Al Qaeda à época dos atentados, em 2001, é possível que ele tenha razão. E, ainda assim, não posso afirmar isso com certeza porque nenhum analista ocidental conhece realmente o organograma da estrutura de comando da Al Qaeda", avaliou Olivier Roy, autor de "Réseaux Islamiques" (redes islâmicas).
"Por outro lado, se ele se refere à atualidade ou mesmo ao ano passado, sua declaração não corresponde à realidade. Afinal, por conta do caráter fluido da rede, que é composta por células quase autônomas, ela é capaz de reestruturar-se num curto espaço de tempo. Com isso, seus dirigentes presos ou mortos são rapidamente substituídos por outras pessoas", acrescentou o pesquisador.
Vale ressaltar, todavia, que alguns dos principais líderes da rede foram capturados ou mortos pelas forças americanas. Ramzi Ben al Shaiba, um dos supostos coordenadores do 11 de Setembro, e o terceiro na cadeia de comando da organização, Khalid Sheik Mohammed, estão entre os altos dirigentes da Al Qaeda que estão nas mãos dos americanos.
Se não foram mortas, no Afeganistão, em algum bombardeio e não ficaram enterradas sob toneladas de escombros em alguma caverna erma nas montanhas afegãs, contudo, as figuras de ponta da Al Qaeda, Bin Laden e seu braço direito -Ayman al Zawahiri-, permanecem em liberdade.
"A guerra ao terror deve ser algo dinâmico, já que as redes ilegais contam com sua agilidade para despistar as forças que as perseguem. Na prática, a Al Qaeda nunca ficará sem líderes ativos enquanto existir", analisou Magnus Ranstorp, diretor do Centro de Estudos sobre Terrorismo e Violência Política da Universidade de St. Andrews (Reino Unido).
"Ademais, seu estilo de comando, que já era bastante fragmentado antes dos atentados nos EUA, tornou-se ainda mais frouxo por conta da guerra ao terror. Finalmente, deve-se salientar que a Guerra do Iraque contribuiu para aumentar a atratividade da Al Qaeda entre os extremistas islâmicos, facilitando seus esforços de recrutamento", completou.
Washington mantém por volta de 18 mil militares no sul e no leste do Afeganistão para combater membros da Al Qaeda.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)


Texto Anterior: Presidente é favorito nas apostas em Bolsas
Próximo Texto: EUA não praticam o que pregam, afirma Anistia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.