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EUA
Em séria derrota para o presidente, Miers, sua advogada, renuncia à indicação; conservadores republicanos não confiavam nela
Indicada por Bush desiste da Suprema Corte
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Diante da forte oposição conservadora e das crescentes dificuldades políticas da Casa Branca, a
advogada pessoal de George W.
Bush, Harriet Miers, desistiu ontem de sua indicação para a Suprema Corte. Foi uma séria derrota política para o presidente.
Com a eliminação dessa frente
na guerra travada pelo governo,
Bush terá agora de se recompor
com as lideranças no Congresso.
Na carta em que comunica a
Bush sua decisão, Miers citou como motivo a confidencialidade
entre advogado e cliente. O Senado vem solicitando à Casa Branca
cópia de arquivos relativos aos
contatos de Bush e Miers. O presidente reluta em divulgar tais dados, amparando-se no sigilo assegurado pela Constituição.
"Preocupo-me porque o processo de confirmação gera dificuldade para a Casa Branca e para
nosso pessoal, o que não atende
aos maiores interesses de nosso
país", disse Miers na carta.
Curiosamente, Miers seguirá influenciando Bush na escolha para
a Suprema Corte como conselheira para Assuntos Jurídicos.
Em breve discurso, Bush disse
que aceitava "relutantemente" a
desistência de Miers. Elogiou sua
"devoção ao país" e informou que
anunciará o novo indicado "no
tempo apropriado". O presidente
reiterou que concorda com os
motivos dados por sua advogada.
Congressistas esperavam obter
informações, por exemplo, sobre
a reação de Miers em casos de tortura de suspeitos de terrorismo,
suspensão temporária de históricos direitos civis nos EUA, eutanásia e outros temas polêmicos
que envolvem o governo Bush.
Para Miers, repassar tal material
para o Congresso significaria contrariar a independência entre os
Poderes, além da munição política de que a oposição disporia durante os próximos três anos de
mandato do presidente.
Bush saiu derrotado e desgastado do episódio. Acreditou que o
Senado, onde os republicanos
têm maioria, acataria sua escolha,
sem respaldo social. Parte do eleitorado e dos políticos conservadores questionava a nomeação de
Miers. Ela não tem experiência
como juíza nem conhecimentos
profundos sobre direito constitucional. Além disso, nunca explicitou oposição ao aborto ou adesão
à pena de morte.
Agora, Bush terá a liberdade de
nomear outra pessoa, acalmando
sua base conservadora e reatando
laços com a bancada republicana
do Senado, que vinha desafiando
sua indicação e atacando Miers
por sua falta de experiência.
Desde sua primeira campanha
para a Casa Branca, em 2000,
Bush afirma que baseia sua escolha dos futuros juízes no conservadorismo. Para ele, isso significa
que os nove integrantes da Suprema Corte devem "atuar em uma
linha de rígida interpretação da
Constituição", em vez mudar as
leis ao "legislar do tribunal".
Os juristas mais liberais costumam se definir como "inovadores", por uma interpretação mais
ampla dos conceitos estabelecidos na lei, por exemplo.
A situação é ainda mais delicada
porque a pessoa a ser nomeada
por Bush substituirá Sandra Day
O'Connor, primeira mulher no
cargo e considerada uma "swing
vote", porque vota ora com os
mais conservadores, ora com os
mais liberais. Como a composição atual da corte equilibra os
dois grupos, geralmente O'Connor fica com o voto de Minerva,
de onde a importância ainda
maior dada por republicanos e
democratas a seu substituto.
Miers foi indicada para a Suprema Corte no dia 3 de outubro.
A última pessoa a desistir da nomeação ao Supremo foi Douglas
Ginsburg, escolhido por Ronald
Reagan em 1987, que desistiu do
cargo ao vir à tona que ele havia
usado maconha. Além de Ginsburg, outros três indicados abriram mão da indicação na história
moderna do tribunal máximo
americano.
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