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EUA
Caso Miers se soma a outros, como vazamento do nome de espiã, que afetam força do presidente e prejudicam suas iniciativas
Renúncia mina ações de Bush, dizem analistas
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A renúncia de Harriet Miers à
sua indicação à Suprema Corte
constitui mais um percalço para o
governo americano num momento repleto de problemas para
George W. Bush, que deverá ter
repercussões doméstica -e, certamente, eleitoral- e externa.
Internamente, a crise em que está mergulhada a atual administração americana por várias razões
-que vão do atoleiro em que se
transformou a Guerra do Iraque
ao vazamento do nome de uma
agente da CIA que poderá colocar
Karl Rove, a eminência parda do
governo, no banco dos réus- solapará as principais iniciativas
que o presidente pretendia privilegiar em seu segundo mandato.
Assim, a reforma da Previdência Social, à qual se opõem diversos setores da sociedade americana (da esquerda à direita -por
razões distintas, obviamente), a
nomeação do novo juiz da Suprema Corte e mudanças no sistema
educacional estão em sério risco.
"Bush está bastante enfraquecido. Nem mesmo alguns de seus
colegas republicanos ou conservadores o poupam nos últimos
tempos, sobretudo em virtude da
indicação de Miers. Com isso,
suas esperanças de realizar uma
verdadeira reforma da Previdência ou de alterar ainda mais o sistema educacional são vãs. Afinal,
não há clima político para mais
enfrentamentos com o Congresso", disse à Folha Diana Owen, da
Universidade de Georgetown.
"Esse quadro também deverá
refletir-se na eleição legislativa de
2006, que renovará a Câmara e
parte do Senado. Embora não seja
fácil derrotar candidatos que buscam a reeleição no sistema distrital dos EUA, os democratas poderão recuperar a maioria em uma
das Casas ou, se fizerem uma boa
campanha, até nas duas com uma
pequena margem", acrescentou.
Trent England, da Fundação
Heritage -influente centro de
pesquisas conservador-, concorda com Owen no que se refere
à capacidade do governo Bush de
introduzir reformas, porém discorda de sua análise eleitoral.
"É claro que os problema que
Bush enfrenta atualmente minam
a governabilidade, embora sua
posição pessoal não esteja em risco no momento. Ele pode ter tomado posições desajeitadas em
relação a Miers ou a [John] Bolton
[embaixador dos EUA na ONU],
mas não cometeu nenhum deslize
grave", avaliou England.
"Por outro lado, não creio que
os republicanos percam a maioria
no Congresso no próximo ano,
pois os eleitores americanos tendem a separar questões ligadas ao
Executivo de outras relacionadas
ao Legislativo. Mesmo assim, os
três próximos anos não reservam
perspectivas brilhantes para o
presidente", afirmou o analista.
Para Owen, contudo, o comportamento do eleitorado poderá
mudar rapidamente se ele cansar-se do modo como o governo conduz a cena política americana.
"Não se deve descartar a possibilidade de mudanças inesperadas."
Cena internacional
Na esfera internacional, Bush
deverá ter dificuldade em manter
o mesmo nível de comprometimento com a estabilização e com
a reconstrução do Iraque por conta da crise política doméstica.
"Vários setores conservadores
já pedem o início da retirada das
tropas, visto que o argumento segundo o qual o Iraque está no
centro da guerra ao terror não
"cola" mais. Assim, o desejo do
presidente de manter um grande
contingente no Iraque se verá cada vez mais atacado nos próximos
meses. E a situação ficará ainda
pior se o número de soldados
mortos continuar a crescer no ritmo atual", apontou England.
Com efeito, vários analistas
conservadores e conceituados,
como Brent Scowcroft, general da
reserva que foi assessor para Assuntos de Segurança Nacional dos
presidentes republicanos Gerald
Ford (1974-77) e George Bush
(1989-93), e Anthony Cordesman,
especialista em questões de segurança global do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais,
vêm criticando as políticas de
Bush nos últimos tempos.
Owen e England ressaltaram,
todavia, que a situação poderia
mudar positivamente para Bush
se houvesse "um caso extremo"
nos EUA. "A ocorrência de um
novo atentado terrorista em solo
americano, por exemplo, não seria utilizada contra o presidente.
Na verdade, é trágico, mas ela poderia dar novo alento à sua administração", indicou Owen.
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