São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TERROR

Controverso ex-secretário de Estado vai liderar comissão independente que examinará os atentados; "não aceitarei restrições", diz

Bush põe Kissinger para investigar o 11 de setembro

DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, assinou ontem uma lei que cria uma comissão independente para investigar os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e nomeou o ex-secretário de Estado Henry Kissinger (1973-1977) para chefiá-la.
"Essa comissão nos ajudará a entender os métodos dos inimigos da América e a natureza das ameaças que enfrentamos", declarou Bush durante a cerimônia organizada para celebrar a assinatura do texto. Deputados, sobreviventes dos atentados e familiares das cerca de 3.000 vítimas também participaram do evento.
"Essa comissão deverá examinar todas as pistas com cuidado e elucidar todos os fatos. Deveremos descobrir todos os detalhes e aprender todas as lições da tragédia de 11 de setembro", acrescentou o presidente.
"Kissinger fará uso de toda a sua experiência, de sua clareza de pensamento e de seu julgamento cuidadoso nessa tarefa. Devemos ficar contentes por ele ter voltado ao serviço público."
Kissinger, por sua vez, prometeu que a comissão irá "aonde os fatos a levarem". "Não haverá restrições a nosso trabalho, pois não aceitaremos nenhuma restrição", afirmou o ex-secretário.
"Não se trata de uma questão que diz respeito a Nova York exclusivamente. Trata-se de um problema de toda a América", acrescentou Kissinger, que conversou com familiares das vítimas dos atentados de 11 de setembro antes de dar entrevistas. Ele viveu vários anos em Nova York.
"No que se refere aos familiares das vítimas dos atentados, nada poderá ser feito a respeito das perdas que eles sofreram, mas deveremos fazer o que estiver a nosso alcance para evitar que outras tragédias ocorram", disse.
Kissinger, 79, que nasceu na Alemanha, foi um dos diplomatas mais célebres do século passado, mas ainda é uma figura controversa. Ele foi secretário de Estado durante os governos de Richard Nixon e de Gerald Ford. Recebeu o Nobel da Paz em 1973 -ao lado do norte-vietnamita Le Duc Tho- devido às negociações de paz na Guerra do Vietnã.
Mas, segundo seus críticos, ele é um criminoso de guerra por causa de seu papel na Guerra do Vietnã e em outras zonas de conflito mundiais, pois, em algumas oportunidades, trabalhou ao lado de governos corruptos para defender os interesses americanos. O juiz espanhol Baltazar Garzón, o mesmo do caso do general Augusto Pinochet, tentou interrogá-lo, mas foi impedido pela diplomacia americana.
Em seu ensaio "O Caso contra Henry Kissinger", o escritor britânico Christopher Hitchens argumenta que o ex-secretário foi responsável por crimes diversos durante a Guerra do Vietnã, a queda do regime de Salvador Allende no Chile, a invasão de Chipre pelo governo turco e a invasão de Timor Leste pelo regime indonésio do ex-ditador Suharto.

Mandato amplo
A comissão tem um mandato bastante amplo, devendo utilizar dados já descobertos pelas comissões de investigação do Senado e da Câmara. Ela terá 18 meses para estudar assuntos ligados à aviação civil e ao controle das fronteiras, além de examinar os serviços de inteligência americanos -que foram criticados após os ataques.
Bush não afirmou que a comissão deverá descobrir erros cometidos pelas agências do governo. Em vez disso, ele disse que ela deverá ajudar a administração a entender as táticas e as motivações dos terroristas.


Com agências internacionais


Texto Anterior: EUA devem ter pilotos armados a partir de março
Próximo Texto: Bin Laden falou em "atacar" EUA, diz testemunha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.