São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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Unasul também racha sobre eleição sob golpistas

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou ontem em Quito que a divisão dos países americanos a respeito do reconhecimento das eleições em Honduras "enfraquece" a OEA (Organização dos Estados Americanos) e fortalece o organismo sul-americano. Mas a visão não contemplava a realidade de racha da própria Unasul: o chanceler do Peru, José Antonio García Belaúnde, reiterou que Lima reconhecerá a eleição "se tudo correr bem", posição compartilhada pela Colômbia.
As afirmações foram feitas durante a cúpula extraordinária de chanceleres do órgão, que ocorreu ontem em Quito.
A questão divide o continente para além da Unasul. Chama a atenção um silêncio eloquente -o do México, que diz não ter escolhido o seu bloco: o de alinhamento aos EUA, que inclui Peru, Colômbia, Panamá e Costa Rica, que também reconhecerão a eleição "caso tudo corra bem"; e a aliança de Brasil, Chile, Venezuela, Argentina, Uruguai, Bolívia, e Nicarágua, para a qual reconhecer a votação sob os golpistas é um mau precedente para a região.
Os EUA divulgaram nota ontem em apoio à eleição e exortando o vencedor a dar continuidade às análises sobre a volta de Zelaya até o fim do mandato, como previsto em acordos. "Desejamos o melhor ao povo hondurenho na escolha de seus novos líderes e pedimos a todos que exerçam seus direitos pacificamente", diz o texto.
Na terça, a chanceler mexicana, Patricia Espinosa, disse que não se pronunciaria.
A hesitação do país já marca pontos para o bloco dos EUA, pois todos os chanceleres da região, à exceção do americano, reunidos na reunião preparatória da Calc (Cúpula América Latina e Caribe), que abriga o Grupo do Rio ampliado, já disseram que se oporiam à eleição.
Amorim, questionado pela Folha sobre o México, afirmou: "Não ouvi o silêncio do México. O México é o presidente do Grupo do Rio, que tem uma posição muito clara sobre isso. Mas cada um faz o que quiser".
O México tem outro desconforto: sediará a segunda Calc, em fevereiro -a primeira foi na Bahia, em 2008. Se resolver reconhecer o pleito, a chamada "OEA do B" sofre sério revés.
Ainda ontem, o presidente da Costa Rica, Oscar Árias, pediu o reconhecimento das eleições.
Embora sustentem que não reconhecer a eleição permitiria um perigoso precedente, diplomatas brasileiros admitem que a situação é de difícil solução.
O outro caso de silêncio é de El Salvador, vizinho de Honduras. O esquerdista Mauricio Funes, amigo do presidente brasileiro, decidiu que ainda não era hora de se pronunciar.


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