São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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De emergência em emergência, doentes se resignam

DA ENVIADA A PORTO PRÍNCIPE

Trinta estreitas estruturas de madeira se enfileiram na tenda branca sob o sol forte. Não há barulho ou conversa. Os doentes sobre elas olham para o lado ou o teto.
"Estou fraca", diz Ester Amecia, 15, que parece mais entediada que doente. Há dois dias ela se trata de cólera no centro de emergência da ONG Médicos Sem Fronteiras, na megafavela de Cité Soleil, em Porto Príncipe.
Amecia comeu um pedaço de milho, que um amigo trouxe. É a sua hipótese para ter contraído cólera, que voltou ao Haiti em outubro após mais de 50 anos sem que se registrasse nenhum caso. A epidemia já matou mais de 1.600 pessoas no país.
O coordenador da ONU para ajuda humanitária no Haiti, Nigel Fisher, afirma que há entre 60 mil e 70 mil infectados -mais do que os 50 mil reportados pelo governo.
O centro de emergência foi construído em dois dias, na semana passada, em resposta à chegada do surto à capital haitiana -são oito ao todo na megafavela, cada um com 266 camas.
Há esmero da estrutura temporária. As entradas tem controles sanitários, todos lavam mãos e pés com água clorada. O ambiente inteiro de um branco ofuscante.
Mas os doentes, feridos e expostos, não deixam esquecer, que a degradação é anterior ao surto, e que eles vêm de emergência em emergência há tempos .
Desimène Flerrestil apenas se mudou temporariamente da tenda onde vive com oito pessoas desde o terremoto de janeiro para a tenda maior da MSF. Sua filha Adelène Charles, 11, está com suspeita de cólera.
"É, foi um ano difícil", diz, com meio sorriso. Ela não trabalha, afirma que está doente. Tampouco o marido. Os filhos são pequenos. A comida vem de amigos "que moram mais longe" ou o que consegue -"banana, arroz".
A esperar que a nova emergência acabe.


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