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SEGURANÇA
País que se orgulha de sua política de desarmamento constata alta acentuada do uso de armas de fogo por criminosos
Crime à mão armada dispara no Reino Unido
MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES
O número de assassinatos e crimes à mão armada no Reino Unido aumentou em escala preocupante para o governo em 2001. Segundo a polícia metropolitana
londrina, os 30 homicídios na capital entre abril e novembro do
ano passado significam aumento
de quase 90% em relação a 2000.
No mesmo período do ano passado, ladrões portavam armas de
fogo em pelo menos 667 assaltos,
contra 435 em 2000 (um aumento
de 53%). A tendência é que assaltantes cada vez mais jovens trocam a faca por um revólver.
Em Londres, ocorrem em média dois incidentes com armas de
fogo por dia. O assunto ganhou as
manchetes dos jornais no últimos
dias depois que uma adolescente
foi baleada na cabeça após se negar a entregar o seu telefone celular ao assaltante.
O roubo de celulares, aliás, é o
segundo fator responsável pelo
aumento no uso de armas no país,
atrás apenas das disputas entre
gangues de narcotraficantes negros. Dados recentes revelam que
700 mil aparelhos de telefone foram roubados nas ruas do Reino
Unido no ano passado.
As autoridades do país -que se
orgulha de ter uma das políticas
de proibição ao porte de arma
mais bem-sucedidas do mundo- buscam agora novas soluções para estancar os crescentes
índices de violência.
Segundo uma porta-voz da polícia metropolitana (braço londrino da Scotland Yard), o governo
estipulou uma meta de redução
em 2% no número de crimes à
mão armada na capital em 2002.
Com essa finalidade, pretende
fortalecer o policiamento e aumentar o investimento de verbas
públicas nos bairros onde há
maior desemprego e criminalidade ao sul e leste de Londres.
"Temos testemunhado uma
enorme escalada no crime armado em Londres, e as estatísticas
nos chocam", disse na semana
passada o prefeito da cidade, Ken
Livingstone. Além da capital, outros grandes centros britânicos,
como Manchester e Birmigham,
acompanham a tendência.
Na próxima semana, o "guru"
da política de "tolerância zero" da
polícia de Nova York, Bill Bratton,
fará uma visita a Londres. Numa
palestra, vai explicar aos chefes de
polícia de 43 regiões do Reino
Unido como conseguiu diminuir
em 36% as taxas de criminalidade
na metrópole norte-americana.
Em termos comparativos, a incidência de casos envolvendo armas em Londres ainda é bastante
baixa. Em Nova York, por exemplo, a polícia registrou 643 assassinatos em 2001, a maior parte deles praticada com armas de fogo.
Na cidade de São Paulo, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, 3.333 homicídios
dolosos (intencionais) foram cometidos entre abril e novembro
do ano passado, a grande maioria
deles com armas de fogo.
Ainda assim, na visão dos britânicos, o salto de 90% no índice de
mortes a tiros coloca em xeque
um dos principais fundamentos
da política nacional de segurança
pública: aquele que determina
que os policiais trabalhem nas
ruas desarmados, carregando
apenas algemas e cassetetes.
Polícia vulnerável
Com mais armas em circulação,
os guardas vêm se tornando mais
vulneráveis. "Os criminosos lá fora estão muito bem equipados",
disse à rede BBC um oficial da
unidade SO19, divisão armada da
polícia metropolitana chamada
como reforço em ocorrências em
que os assaltantes estão armados.
Há alguns anos, eram raros os
casos em que essa unidade de elite
saía às ruas. No ano passado, porém, chegou a atender de 20 a 30
ocorrências por dia. Seus integrantes reclamam que, enquanto
a criminalidade cresceu, seus quadros e equipamentos continuaram os mesmos.
"Precisamos de mais gente se
quisermos dar conta da situação a
longo prazo", disse um policial do
SO19. "Também precisamos nos
manter atualizados em termos de
equipamento." Segundo ele, em
vários casos a polícia se depara
com inimigos mais bem armados.
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