São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2002

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SEGURANÇA

País que se orgulha de sua política de desarmamento constata alta acentuada do uso de armas de fogo por criminosos

Crime à mão armada dispara no Reino Unido

MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES

O número de assassinatos e crimes à mão armada no Reino Unido aumentou em escala preocupante para o governo em 2001. Segundo a polícia metropolitana londrina, os 30 homicídios na capital entre abril e novembro do ano passado significam aumento de quase 90% em relação a 2000.
No mesmo período do ano passado, ladrões portavam armas de fogo em pelo menos 667 assaltos, contra 435 em 2000 (um aumento de 53%). A tendência é que assaltantes cada vez mais jovens trocam a faca por um revólver.
Em Londres, ocorrem em média dois incidentes com armas de fogo por dia. O assunto ganhou as manchetes dos jornais no últimos dias depois que uma adolescente foi baleada na cabeça após se negar a entregar o seu telefone celular ao assaltante.
O roubo de celulares, aliás, é o segundo fator responsável pelo aumento no uso de armas no país, atrás apenas das disputas entre gangues de narcotraficantes negros. Dados recentes revelam que 700 mil aparelhos de telefone foram roubados nas ruas do Reino Unido no ano passado.
As autoridades do país -que se orgulha de ter uma das políticas de proibição ao porte de arma mais bem-sucedidas do mundo- buscam agora novas soluções para estancar os crescentes índices de violência.
Segundo uma porta-voz da polícia metropolitana (braço londrino da Scotland Yard), o governo estipulou uma meta de redução em 2% no número de crimes à mão armada na capital em 2002. Com essa finalidade, pretende fortalecer o policiamento e aumentar o investimento de verbas públicas nos bairros onde há maior desemprego e criminalidade ao sul e leste de Londres.
"Temos testemunhado uma enorme escalada no crime armado em Londres, e as estatísticas nos chocam", disse na semana passada o prefeito da cidade, Ken Livingstone. Além da capital, outros grandes centros britânicos, como Manchester e Birmigham, acompanham a tendência.
Na próxima semana, o "guru" da política de "tolerância zero" da polícia de Nova York, Bill Bratton, fará uma visita a Londres. Numa palestra, vai explicar aos chefes de polícia de 43 regiões do Reino Unido como conseguiu diminuir em 36% as taxas de criminalidade na metrópole norte-americana.
Em termos comparativos, a incidência de casos envolvendo armas em Londres ainda é bastante baixa. Em Nova York, por exemplo, a polícia registrou 643 assassinatos em 2001, a maior parte deles praticada com armas de fogo.
Na cidade de São Paulo, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, 3.333 homicídios dolosos (intencionais) foram cometidos entre abril e novembro do ano passado, a grande maioria deles com armas de fogo.
Ainda assim, na visão dos britânicos, o salto de 90% no índice de mortes a tiros coloca em xeque um dos principais fundamentos da política nacional de segurança pública: aquele que determina que os policiais trabalhem nas ruas desarmados, carregando apenas algemas e cassetetes.

Polícia vulnerável
Com mais armas em circulação, os guardas vêm se tornando mais vulneráveis. "Os criminosos lá fora estão muito bem equipados", disse à rede BBC um oficial da unidade SO19, divisão armada da polícia metropolitana chamada como reforço em ocorrências em que os assaltantes estão armados.
Há alguns anos, eram raros os casos em que essa unidade de elite saía às ruas. No ano passado, porém, chegou a atender de 20 a 30 ocorrências por dia. Seus integrantes reclamam que, enquanto a criminalidade cresceu, seus quadros e equipamentos continuaram os mesmos.
"Precisamos de mais gente se quisermos dar conta da situação a longo prazo", disse um policial do SO19. "Também precisamos nos manter atualizados em termos de equipamento." Segundo ele, em vários casos a polícia se depara com inimigos mais bem armados.



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