São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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CHOQUE NO ORIENTE MÉDIO

Líder pretende unir "facções armadas palestinas" sob força única; Israel veta trânsito de deputados

Hamas quer formar Exército palestino

DA REDAÇÃO

Um dos principais líderes do grupo terrorista Hamas, vitorioso nas eleições parlamentares palestinas da última quarta-feira, afirmou ontem que o novo governo está pronto para "unir as facções armadas" (terroristas) dos territórios, incluindo a sua própria, "para defender os palestinos".
Em entrevista coletiva, Khaled Meshaal citou a possibilidade de formação de um Exército. A idéia, conforme for executada, contraria os acordos de Oslo (1993), que impõem aos palestinos limitações drásticas do uso de armamento, restringindo-o à garantia de sua segurança interna.
"Estamos ansiosos para formar um Exército como qualquer outro país, um Exército para defender nosso povo contra a agressão", disse Meshaal, do seu exílio em Damasco (Síria).
Meshaal é considerado pela inteligência de Israel como o chefe da ala terrorista do Hamas desde os assassinatos sucessivos do xeque Ahmed Yassin e de Abdel Aziz al Rantissi por Israel, há quase dois anos.
O líder exortou o mundo a respeitar a organização terrorista após a vitória esmagadora de sua ala política na quarta e rebateu críticas americanas e israelenses contra o Hamas: "O mundo ergue a bandeira da democracia e agora deveria respeitar os resultados da democracia".
Na entrevista de ontem, Meshaal também reiterou o desejo do grupo em formar um governo com todas as facções palestinas, incluindo o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, com quem afirma já estar em contato. "Acreditamos que está no interesse de todos tomar o trem do Hamas, pois esse trem irá alcançar [o seu destino]."
O Hamas, que conquistou 76 das 132 cadeiras do Parlamento, está diante de um "grande desafio" e "deseja uma associação" com o Fatah, disse Meshaal. O partido de Abbas obteve 43 assentos, perdendo a hegemonia de uma década da ANP.
Para Meshaal, os dirigentes do Fatah "se precipitaram" ao anunciar que não tinham intenção de governar com um movimento radical. O líder afirmou que a prioridade do Hamas é introduzir reformas no sistema político e reorganizar "a casa palestina", referindo-se à situação interna dos territórios, além de "manter a resistência palestina contra Israel".
"Resistência é um direito legítimo que nós praticaremos e protegeremos. Nossa presença do Parlamento irá fortalecer a resistência", disse Meshaal.
A carta de fundação do grupo tem entre seus principais artigos a destruição de Israel. Indagado se o Hamas poderia emendar o capítulo e respeitar os acordos selados pela Autoridade Nacional Palestina com Israel, Meshaal disse: "Nós não reconhecemos a ocupação israelense, mas somos realistas e sabemos que as coisas são feitas gradativamente".

Proibição de trânsito
O Ministério da Defesa israelense anunciou ontem que não permitirá que os deputados do Hamas circulem livremente entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
"Não há razão nenhuma para que Israel conceda salvo-condutos a palestinos que pertencem a uma organização que pede a destruição de Israel", disse Amos Gilad, conselheiro do ministro Shaul Mofaz.
Com relação à possibilidade de Meshaal retornar aos territórios palestinos, Gilad afirmou que ele seria "imediatamente detido" caso entrasse numa zona controlada por Israel. Segundo a imprensa palestina, Meshaal poderia voltar a Gaza já na próxima semana. Em 1997, ele foi alvo de uma tentativa de assassinato em Amã, quando agentes do Mossad (serviço secreto de Israel) lhe injetaram veneno.


Com agências internacionais


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