São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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REINO UNIDO

Sexo e bebidas fazem os liberais-democratas perderem eleitores

Escândalos afundam partido britânico

Stefan Rousseau/Associated Press
Charles Kennedy renuncia à liderança do partido, em Londres


FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

O Partido Liberal Democrata saiu das últimas eleições no Reino Unido, em maio do ano passado, esfuziante. As 62 cadeiras conquistadas no Parlamento configuraram seu melhor resultado desde os anos 20, e o crescimento proporcional em relação ao pleito anterior foi o maior entre os três grandes partidos britânicos, além do de trabalhistas (vencedores) e conservadores.
O avanço, obtido especialmente pela oposição à Guerra do Iraque, começou a ruir nas últimas semana, por força de uma sucessão de revelações da vida privada de três medalhões da sigla, envolvendo álcool, sexo e, claro, tablóides sensacionalistas.
Começou com Charles Kennedy, líder do partido desde 1999, um ruivo de cabelo pastinha que faz a alegria dos cartunistas do país. O meio político britânico sempre soube do gosto de Kennedy por bebida. A eleição do carismático David Cameron como novo líder conservador, que logo mostrou potencial para roubar parte do eleitorado "LibDem", aumentou a pressão sobre ele. "Charlie Champanhe", como é apelidado, foi minado internamente até vir a público, no dia 7 passado, e admitir que, sim, já tivera problemas com alcoolismo.
No dia seguinte à confissão, Kennedy já não era mais o líder.
Abriu-se a corrida para sucedê-lo, e surgiram quatro nomes para as internas de março. Um deles foi o de Mark Oaten, um promissor deputado de 41 anos, porta-voz para assuntos do Interior dos liberais-democratas, casado e pai de duas filhas.
Há uma semana, antecipando-se a uma reportagem que, ele já sabia, sairia no tablóide "News of the World", Oaten veio a público e confessou ter vivido um caso com um garoto de programa.
O político achou o michê na internet, em 2004. Por encontro, pagava-lhe 80 libras (cerca de R$ 320). Jamais revelou sua identidade, mas o amante um dia o reconheceu na TV. Oaten disse que era outra pessoa e, assustado, escafedeu-se, nunca mais procurou o garoto de programa. Mas o garoto procurou o "News of the World" -3,7 milhões de exemplares vendidos por domingo, o mesmo tablóide que meteu em encrenca o técnico da seleção inglesa, Sven-Goran Eriksson, com a pegadinha de um falso xeque árabe- e revelou toda a história.
Desnecessário dizer que Mark Oaten renunciou ao cargo no partido e à disputa pela liderança.
Em seu socorro veio o presidente dos liberais-democratas, Simon Hughes, outro postulante à liderança do partido. O mesmo que, dois dias depois, na última quinta, virou a bola da vez. Depois de negar incisivamente por meses ser homossexual (questão suscitada por sua solteirice aos 54 anos), Hughes revelou ao tablóide "The Sun" que já havia dormido com homens e mulheres.
Não deixou a disputa pela liderança, mas a maneira titubeante com que saiu do armário e a mentira que precedeu a verdade o tornaram alvo de críticas pesadas.
Percebendo a crise dos rivais, o "novo Partido Conservador" de Cameron, com seu discurso de centro, tem investido abertamente para atrair parlamentares e eleitores "LibDem", processo que começa a dar certo, pelo que indicam pesquisas recentes.
Após o resultado das eleições de 2005, Charles Kennedy afirmou que os britânicos entravam numa "era de três partidos". Depois do furacão dos últimos dias, o cenário aponta para o velho bipartidarismo mais forte do que nunca.


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