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NO CONTRA-ATAQUE
Presidente viaja pelo país em clima de campanha e destaca agenda social; avião atola na lama
Crise faz Clinton recorrer a populismo
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
Uma semana
depois do início
do mais grave
escândalo de sua
administração,
o presidente dos
Estados Unidos,
Bill Clinton, entrou em ritmo de campanha para
preservar sua Presidência, defendendo uma plataforma política
populista, com ênfase na missão
social do governo.
Com sua mulher, Hillary, voltando à carga pela TV contra a
"extrema direita" que, segundo
ela, "conspira para reverter o resultado de duas eleições", Clinton
foi para o interior do país ontem
repetir os temas do seu discurso de
terça sobre o estado da União.
No campus da Universidade de
Illinois, em Champaign, Clinton e
seu vice, Al Gore, fizeram inflamados discursos em favor da ampliação da previdência social, de mais
creches em locais de trabalho, do
aumento do salário mínimo, da diminuição do número de alunos
por sala de aula, da proteção ao
meio ambiente, temas tradicionais
de seu partido, o Democrata, mas
que haviam sido abandonados por
eles nos últimos anos.
A estratégia do casal Clinton está
funcionando bem, de acordo com
as pesquisas de opinião pública,
que mostram crescimento no nível
de confiança da população no presidente e encolhimento do número de norte-americanos que acreditam que ele tenha cometido crimes no caso de Monica Lewinsky.
Mas os problemas de Clinton estão muito longe de superados. Lewinsky, a moça que contou a uma
amiga ter feito sexo com o presidente e depois ter sido pressionada
por ele para mentir sobre o caso,
ainda pode fazer um acordo com o
promotor independente do caso,
Kenneth Starr, para contar sua história em juízo.
Atolado
Um incidente menor, mas cheio
de simbolismo, atrapalhou Clinton ontem. Seu avião ficou atolado
na lama quando se preparava para
deixar Champaign com destino a
La Crosse (Wisconsin), onde continuaria sua maratona populista.
O avião não era o Boeing 747 em
que ele geralmente voa, e sim um
Boeing 707, preferido ontem porque as pistas do aeroporto de
Champaign são curtas para o 747.
O 707 foi o que levou Richard Nixon de Washington para a Califórnia após a sua renúncia, em 1974.
Em entrevista à rede ABC de TV,
Hillary Clinton disse ser "evidente" que "forças profissionais da
extrema direita" estão por trás das
acusações contra seu marido e pediu que sejam "investigadas" as
"curiosas relações entre pessoas e
entidades" envolvidas no caso.
Segundo pesquisa da mesma rede ABC, 46% dos entrevistados
acreditam que o caso Monica Lewinsky seja o produto de uma
"conspiração da extrema direita", como alega Hillary Clinton.
Se Lewinsky contar a Starr em
juízo o mesmo que disse à amiga e
se o promotor provar que sua história é verdadeira, Clinton poderá
ser indiciado por falso testemunho
(porque acredita-se que ele tenha
negado ter feito sexo com ela no
depoimento que deu no processo
em que é acusado de assédio sexual
por Paula Jones) e obstrução da
Justiça. Os dois crimes podem levar à abertura de um processo de
impeachment contra o presidente.
Confiança em alta
Depois do discurso de Clinton na
terça-feira, no qual ele não tocou
no caso Lewinsky, diminuiu dramaticamente o número de norte-americanos que acreditam na
possibilidade de ele ter cometido
esses crimes: de 62% no dia 23 para
49%, segundo a ABC.
Outra pesquisa, da rede de TV
CNN, mostra que 78% dos entrevistados diziam confiar em Clinton anteontem.
O discurso sobre o estado da
União, exibido ao vivo pela TV, recebeu aplausos generalizados, até
dos adversários do presidente, pela forma descontraída, incisiva e
dignificada com que foi proferido.
Se Starr não tiver evidências ou
testemunhas com credibilidade
para provarem as acusações, o discurso pode ter iniciado mais uma
vitória do "garoto da volta por cima", um dos apelidos de Clinton.
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