São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PEDAGOGIA CLINTONIANA
Bombardeadas pelas notícias, crianças perguntam sobre adultério e põem adultos em dificuldades
Explicar escândalo aos filhos desafia pais

CLÁUDIA PIRES
de Nova York


O escândalo envolvendo o presidente Bill Clinton está gerando alguns problemas para os pais que possuem filhos em idade escolar nos Estados Unidos.
Boa parte desses pais não sabe ao certo o que explicar às crianças sobre o que está acontecendo com o presidente.
"Ele me perguntou porque o presidente tinha dito que não tinha feito sexo com outra mulher. Fiquei meio sem palavras", afirma Jack Alvarez, 33, gerente de um hotel em Nova York. A pergunta foi feita por George, seu filho de oito anos.
"Eu não sabia que ele tinha outra mulher", disse George. A mãe afirma que tentou explicar que não está provado se o presidente tem ou teve outra mulher.
"Ele sabe o que é sexo oral, já me perguntou sobre isso antes. Mas, na verdade, não sei se entendeu muito bem o que está acontecendo agora."
Já o advogado Clifford Mason, 36, procura evitar o assunto em casa.
Ele tem duas filhas: Claire, 9, e Lisa, 7. "Elas me perguntaram o que estava acontecendo com o presidente, e eu respondi que ele estava sendo acusado de um ato que não cometeu. Mas não entrei em detalhes", afirma.
Mason disse ainda que explicou às crianças que esses problemas pessoais do presidente não vão interferir no governo do país.
"Eu acredito nisso. Temos que apoiar o presidente. Todos os outros países do mundo estão dando risada de nós neste momento", afirmou o advogado.
As crianças estudam em uma das escolas públicas de Nova York, em Upper West Side. Segundo a professora Lisa Andersen, muitas crianças estão perguntando sobre o presidente.
"Tentamos explicar apenas que ele está sofrendo acusações que ainda não foram comprovadas", afirma a professora.
Outros pais preferem não conversar sobre o problema com as crianças. "Eu não toco nesse assunto com meus filhos, não acho que temos o direito de discutir a vida particular do presidente. Continuo confiando nele, votei nele e votaria de novo. Ele está fazendo um ótimo governo", afirma Emma Ryan, 40, que tem uma filha de seis anos na mesma escola.
"Meu filho me perguntou o que está acontecendo. Eu disse apenas que não devemos nos preocupar. Acho um absurdo a maneira como estão misturando o governo com a vida pessoal dele. O que ele faz com a mulher ou com outras mulheres não deveria interessar a ninguém", afirma Anthony Carter, 38, que tem dois filhos pequenos, Mark, 6, e Michael, 10.
O que dizer?
Para Laurence Balter, professor de psicologia infantil da Universidade de Nova York, os pais e professores não devem introduzir o assunto ao conversar com as crianças. Balter é autor do livro "Who's in Control?" (quem está no controle?), que fala sobre a disciplina com as crianças.
"Mas eles não devem deixar de responder as perguntas, com a maior sinceridade possível."
Para ele, o ideal é dizer às crianças que o presidente está sofrendo uma acusação, mas que ainda não se pode provar nada contra ele.
"Afinal, essa é a verdade. Também acredito que é função dos pais e professores explicar o que é certo e errado. Se for provado que ele mentiu, então as crianças devem saber que isso é errado. Mas também devem saber que o presidente é humano e pode errar, como qualquer outra pessoa."
Quanto à questão sexual, Balter acredita que as crianças não terão muitas dúvidas. "A educação sexual nas escolas é muito ampla, principalmente por causa da Aids. Mesmo as crianças mais novas, de seis ou sete anos, já aprendem sobre sexo durante as aulas."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.