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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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ACUSAÇÃO

Ataque seria o segundo a atingir mercado da capital; bombardeios continuam intensos

Ataque a mercado mata 58, diz Iraque

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

Ao menos 58 civis iraquianos teriam morrido em um novo bombardeio atribuído pelo Iraque à coalizão anglo-americana num mercado popular em Bagdá, segundo as autoridades do país.
Se confirmado o que está sendo chamado pela mídia árabe de "O Massacre de Shula", o nome do bairro, será o segundo ataque em menos de 48 horas a matar civis na capital iraquiana.
A ação teria ocorrido no final da tarde de ontem, o dia santo dos muçulmanos. Na quarta-feira, um ataque atribuído por Bagdá aos EUA já havia atingido um movimentado mercado no norte de Bagdá, matando pelo menos 14 pessoas, ferindo outras 30 e causando grande revolta popular.
Até a conclusão desta edição, a Folha não conseguiu confirmar com o governo iraquiano o número exato de mortos e de feridos no novo ataque nem suas circunstâncias.
O médico Osama Sakhari, do Hospital Al Noor, um dos maiores de Bagdá, no entanto, disse que havia recebido 55 corpos e 47 pessoas feridas imediatamente após o bombardeio. Emissoras árabes, entre elas a estatal iraquiana, mostraram imagens de caixões sendo carregados para fora do Al Noor na noite de ontem.
Segundo a TV Abu Dhabi, mísseis de cruzeiro norte-americanos teriam atingido o mercado, deixado uma cratera numa das ruas e diversos carros queimados.
A TV Al Jazeera, do Qatar, mostrou imagens de corpos de mulheres e crianças que teriam morrido no ataque ao bairro comercial, no qual dois mísseis teriam atingido um conjunto de lojas movimentadas e incendiado diversas casas ao redor.
No final da noite de ontem, os ataques contra Bagdá foram retomados. Até a conclusão desta edição, pelo menos mais três alvos foram atingidos.
Durante toda a noite de anteontem e a madrugada e a manhã de ontem, a coalizão retomou a onda de fortes bombardeios que havia atingido Bagdá durante o fim de semana passado.
Pelo menos três estações de telecomunicações foram atacadas e destruídas por mísseis e bombas, todas entre 1h30 e 7h de ontem (19h30 de anteontem e 1h de ontem em Brasília). Os armamentos usados foram as bombas batizadas de "destruidoras de abrigos", lançadas por aviões B-2, invisíveis a radares.
São guiadas por satélite, foram usadas ontem pela primeira vez no conflito, pesam pouco mais de 2 toneladas cada uma e causam pequenos abalos sísmicos em um raio de até 1 quilômetro -daí serem conhecidas também como "chacoalhadoras de terra".
A Folha visitou os três locais. Um deles havia sido atingido já na quarta-feira. Trata-se do complexo chamado de Torre de Saddam, localizado na área de Al Mamooun. A torre em si foi poupada, mas o prédio de sete andares ao lado foi totalmente destruído.
Os outros dois foram o escritório central da companhia telefônica estatal, que recebeu uma bomba no topo e um míssil que deveria destruir suas instalações subterrâneas, mas que não atingiu seu objetivo por não ter explodido, e a central de atendimento.
No prédio, segundo o ministro das Telecomunicações e Transportes iraquiano, ainda havia corpos sob os escombros na manhã de ontem. Com os ataques às telecomunicações, cerca de um terço da população ficou sem telefone. A TV continua funcionando em estado precário, e a TV por satélite está fora do ar.
De acordo com o Ministério da Informação, sete civis foram mortos e 92 feridos nos ataques que começaram na noite de anteontem, sem contar os mortos no mercado. À tarde, ainda segundo o governo, mais oito civis teriam morrido quando um míssil demoliu um dos escritórios do Partido Baath, governista, em Bagdá.


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