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Mídia americana muda previsões
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Parte da mídia acordou e percebeu que não era a tempestade de
areia, mas a resistência dos iraquianos, que retardava o cerco
anglo-americano a Bagdá.
Ainda na quinta-feira o secretário norte-americano da Defesa,
Donald Rumsfeld, afirmava-se
"impressionado" com o avanço
de suas tropas. Era uma postura
otimista. O almirante britânico
Michael Boyce, com rumo idêntico, dizia que a investida só dependia da melhora do tempo.
Ontem, no entanto, entrevistado pelo "The New York Times", o
general americano William Wallace, comandante das forças terrestres, disse de modo eufêmico
que "o inimigo está lutando de
um jeito diferente do das nossas
simulações". Citou como componente de surpresa a agressividade
das forças paramilitares.
Com uma abordagem mais direta, o site da BBC disse que está
em questão a doutrina Rumsfeld
elaborada para a guerra. Segundo
ela, uma força-tarefa relativamente reduzida, mas com ampla superioridade tecnológica, levaria ao
colapso militar do inimigo e estimularia o levantamento da população contra Saddam Hussein.
Era também o que pensava o vice-presidente Dick Cheney, homem bastante influente no círculo do poder norte-americano. A
guerra, disse ele há dias, seria "relativamente breve".
Ari Fleischer, porta-voz da Casa
Branca, recuava ontem do otimismo moderado que manifestou
nos primeiros dias de combate.
"Sempre dissemos que os confrontos poderiam ser demorados
e difíceis," afirmou.
Na quinta, o "The New York Times" já dizia que não se confirmava a previsão oficial de que os
iraquianos estavam desmotivados para guerrear e a população
civil receberia as forças anglo-americanas "com flores".
"Meus superiores disseram que
haveria pouca ou nenhuma resistência", disse o cabo norte-americano Joshua Menard, ferido e já
transferido para uma base norte-americana na Alemanha.
Tamanho da coalizão
Ainda entre os ingredientes da
guerra da informação: o presidente George W. Bush disse anteontem em Camp David que "a
coalizão que agora reunimos é
maior que a que tínhamos em
1991, em termos de número de
países participantes."
Vejamos. Na Guerra do Golfo,
eram 28 os países que se juntaram
contra o Iraque, entre eles Síria,
França, Alemanha e até Argentina. Praticamente todos tinham
condições de entrar em combate.
Vizinhos árabes do Iraque deram
bom suporte logístico.
Agora, segundo reportagem
quase irônica de terça-feira no
"The Washington Post", alguns
dos aliados não têm sequer forças
militares, como Palau, Costa Rica,
Islândia, Ilhas Marshall e Micronésia. Entre os quase 50 apoiadores nominais da iniciativa anglo-americana há o Marrocos, monarquia árabe que não mandou
soldados, mas ofereceu 2.000 macacos para testarem a existência
de minas enterradas.
Outro tópico de controvérsia
está na situação de Nassiriah, cidade que os norte-americanos
anunciaram sábado ter tomado e
pela qual continuavam a combater ontem à noite. A propósito, o
jornal "El País" cita um comentarista do canal britânico Sky News,
que se disse enfastiado pela quantidade de despachos que recebeu
com a informação de que Nassiriah não estava mais nas mãos da
ditadura de Saddam.
Outra incoerência, desta vez
dentro do Reino Unido: Tony
Blair disse anteontem que dois
dos soldados britânicos foram
"executados" por tropas de Saddam. O jornal "The Guardian"
noticia, no entanto, que familiares
de um desses militares fora informada pelas autoridades de que ele
morrera em combate. A diferença
é mais que uma sutileza.
Por fim, Jean-Pierre Raffarin,
primeiro-ministro francês, disse
que a guerra estava sendo "tão
sangrenta" quanto as demais do
século 20". A França é adversária
dos EUA no campo diplomático e
fará tudo para atrapalhar. Unid
Mubarak, ministro iraquiano da
Saúde, foi no mesmo sentido: são
tantos os feridos civis que os hospitais das grandes cidades correm
o risco de colapso.
Essa versão é negada pela Cruz
Vermelha. O presidente da seção
francesa, em debate no canal TV5,
disse estar surpreso com os relatos de que eram mínimos os danos físicos à população civil, tanto
que permanecia engavetado o
plano de reforço estrangeiro das
equipes de médicos que atuam
nos hospitais iraquianos.
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