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SEM RUMO
Direitistas estão divididos a respeito do apoio recebido da Frente Nacional, partido acusado de xenofobia e racismo
Após racha, direita francesa busca reforma
MARIANE COMPARATO
de Paris
Duas semanas após as eleições
regionais na França, a confusão
continua reinando no cenário político. Semanas depois de a direita
moderada ter rachado após vários
de seus integrantes terem se aliado
à Frente Nacional (FN), o cenário
permanece indefinido.
Muitos dos filiados à UDF, um
dos dois principais partidos de direita do país, aceitaram o apoio
dos seguidores de Jean-Marie le
Pen, líder da FN, para impedir a
vitória da esquerda nas Regiões
em que esta elegeu a maioria relativa dos conselheiros -os socialistas e seus aliados receberam a
votação mais expressiva, mas não
conseguiram metade mais uma
das cadeiras.
O resultado foi que sete Regiões
ainda não elegeram seus presidentes, três delas por falta de quorum
(os direitistas não compareceram
para impedir a vitória da esquerda). Nas outras quatro, os presidente de direita eleitos graças aos
votos da FN se demitiram -dois
deles imediatamente após a eleição e os outros durante a semana.
Le Pen afirmou à imprensa que o
objetivo dele era justamente implodir a direita, para que seu partido se tornasse a única opção contra os "socialistas e comunistas".
Na segunda-feira passada, a
UDF (União pela Democracia
Francesa), partido ao qual pertencem os sete presidentes eleitos
graças à FN, alertou que deserdaria todos que não pedissem demissão. Três ainda resistem. Bernard
Harang, o último a pedir demissão, na última sexta-feira, disse
que havia fortes pressões midiáticas que o forçavam a deixar a presidência da Região do Centro.
O jornal "Libération", um dos
mais lidos na França, havia publicado na capa a foto desses presidentes com o título: "Demissões:
então, é para quando?".
O presidente da Região Alpes-Ródano, Charles Millon, ainda não pediu demissão, mas deve
cair em breve.
O próprio presidente da República, o direitista Jacques Chirac,
se sentiu na obrigação de fazer um
pronunciamento na televisão, na
última segunda-feira, no qual denunciou o racismo e a xenofobia
da Frente Nacional e pediu coesão
de seus partidários.
Em resposta, Le Pen disse que se
sentia "vítima de um complô dos
outros partidos políticos". "Chirac se comportou como um chefe
de clã e não merece mais a confiança dos franceses", afirmou.
O resultado foi um verdadeiro
sismo na direita, que não tem outra solução senão remodelar-se
drasticamente. Ainda assim, há
discordâncias. O título do jornal
"Le Monde" de sexta-feira passada
foi "Os Dez Dias que Rasgaram a
Direita", em alusão ao livro de
John Reed ("Os Dez Dias que
Abalaram o Mundo", sobre a Revolução Russa).
O presidente do partido de direita FD (Força Democrática), François Bayrou, foi à televisão na
quinta-feira passada para propor
o desmantelamento dos partidos
de direita e a criação de um grande
partido de centro-direita.
"Faltou coesão e autoridade: a
direita pareceu hesitar sobre o essencial, e essa situação não pode
continuar. A democracia francesa
precisa de um partido forte e largo, unido e responsável, de preferência de centro-direita."
Desse modo, Bayrou definiu os
membros do agrupamento que
idealizou: "O novo partido político unirá os democratas, os republicanos e os liberais que se comprometeram a recusar qualquer
aliança com a FN", completou.
É nesse ponto que há divisões. O
presidente do partido Democracia
Liberal, Alain Madelin, por exemplo, afirmou que se recusava a expulsar os presidentes de direita
que se aliaram à extrema direita.
Ontem, nas principais cidades
francesas, milhares de pessoas fizeram manifestos contra a aliança
entre a direita moderada e a FN.
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