São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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SEM RUMO
Direitistas estão divididos a respeito do apoio recebido da Frente Nacional, partido acusado de xenofobia e racismo
Após racha, direita francesa busca reforma

MARIANE COMPARATO
de Paris

Duas semanas após as eleições regionais na França, a confusão continua reinando no cenário político. Semanas depois de a direita moderada ter rachado após vários de seus integrantes terem se aliado à Frente Nacional (FN), o cenário permanece indefinido.
Muitos dos filiados à UDF, um dos dois principais partidos de direita do país, aceitaram o apoio dos seguidores de Jean-Marie le Pen, líder da FN, para impedir a vitória da esquerda nas Regiões em que esta elegeu a maioria relativa dos conselheiros -os socialistas e seus aliados receberam a votação mais expressiva, mas não conseguiram metade mais uma das cadeiras.
O resultado foi que sete Regiões ainda não elegeram seus presidentes, três delas por falta de quorum (os direitistas não compareceram para impedir a vitória da esquerda). Nas outras quatro, os presidente de direita eleitos graças aos votos da FN se demitiram -dois deles imediatamente após a eleição e os outros durante a semana.
Le Pen afirmou à imprensa que o objetivo dele era justamente implodir a direita, para que seu partido se tornasse a única opção contra os "socialistas e comunistas".
Na segunda-feira passada, a UDF (União pela Democracia Francesa), partido ao qual pertencem os sete presidentes eleitos graças à FN, alertou que deserdaria todos que não pedissem demissão. Três ainda resistem. Bernard Harang, o último a pedir demissão, na última sexta-feira, disse que havia fortes pressões midiáticas que o forçavam a deixar a presidência da Região do Centro.
O jornal "Libération", um dos mais lidos na França, havia publicado na capa a foto desses presidentes com o título: "Demissões: então, é para quando?".
O presidente da Região Alpes-Ródano, Charles Millon, ainda não pediu demissão, mas deve cair em breve.
O próprio presidente da República, o direitista Jacques Chirac, se sentiu na obrigação de fazer um pronunciamento na televisão, na última segunda-feira, no qual denunciou o racismo e a xenofobia da Frente Nacional e pediu coesão de seus partidários.
Em resposta, Le Pen disse que se sentia "vítima de um complô dos outros partidos políticos". "Chirac se comportou como um chefe de clã e não merece mais a confiança dos franceses", afirmou.
O resultado foi um verdadeiro sismo na direita, que não tem outra solução senão remodelar-se drasticamente. Ainda assim, há discordâncias. O título do jornal "Le Monde" de sexta-feira passada foi "Os Dez Dias que Rasgaram a Direita", em alusão ao livro de John Reed ("Os Dez Dias que Abalaram o Mundo", sobre a Revolução Russa).
O presidente do partido de direita FD (Força Democrática), François Bayrou, foi à televisão na quinta-feira passada para propor o desmantelamento dos partidos de direita e a criação de um grande partido de centro-direita.
"Faltou coesão e autoridade: a direita pareceu hesitar sobre o essencial, e essa situação não pode continuar. A democracia francesa precisa de um partido forte e largo, unido e responsável, de preferência de centro-direita."
Desse modo, Bayrou definiu os membros do agrupamento que idealizou: "O novo partido político unirá os democratas, os republicanos e os liberais que se comprometeram a recusar qualquer aliança com a FN", completou.
É nesse ponto que há divisões. O presidente do partido Democracia Liberal, Alain Madelin, por exemplo, afirmou que se recusava a expulsar os presidentes de direita que se aliaram à extrema direita.
Ontem, nas principais cidades francesas, milhares de pessoas fizeram manifestos contra a aliança entre a direita moderada e a FN.



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