São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Em troca, procurados por Israel serão entregues à custódia internacional; gabinete de Sharon veta missão da ONU

Israel aceita levantar cerco a Iasser Arafat

Associated Press
Quatro palestinas observam casas destruídas no campo de refugiados de Jenin, palco de um massacre, segundo os palestinos, e de uma dura batalha, para Israel


DA REDAÇÃO

Israelenses e palestinos aceitaram ontem a proposta feita pelo presidente dos EUA, George W. Bush, para levantar o cerco ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, em seu quartel-general em Ramallah (Cisjordânia), em troca da guarda internacional de palestinos procurados por Israel.
Porém, ao mesmo tempo, os israelenses decidiram impedir que uma missão da ONU investigue o que aconteceu na ofensiva ao campo de refugiados palestinos de Jenin (Cisjordânia). Os palestinos esperam que o cerco a Arafat seja levantado amanhã.
Já Arafat estaria pretendendo que a permissão para sua livre circulação estivesse vinculada ao fim do cerco à igreja da Natividade em Belém, segundo disse para a agência de notícias France Presse Nabil Abu Rudeinah, assessor do líder palestino. No local, cerca de 200 palestinos, muitos deles armados, e 50 clérigos estão cercados por forças israelenses.
A proposta de Bush prevê que as forças israelenses deixem o quartel-general de Arafat, permitindo que ele possa voltar a se locomover pelos territórios palestinos. Em troca, os palestinos devem deixar seis homens procurados por Israel sob custódia de norte-americanos e britânicos em uma prisão palestina.
O cerco ao quartel-general se iniciou no dia 29 de março, no início de ofensiva de Israel em resposta a atentados contra israelenses. Porém Arafat está confinado em Ramallah desde dezembro.
Bush classificou a decisão de Israel e de Arafat como "esperançosa e construtiva" e disse que os EUA estavam trabalhando com os dois lados para implementar o plano. Os norte-americanos e britânicos que farão a guarda dos palestinos procurados por Israel devem chegar a Ramallah hoje.
Bush afirmou no seu rancho no Texas que Arafat deve aproveitar a oportunidade para mostrar liderança e combater o terrorismo e convidou o premiê de Israel, Ariel Sharon, para ir aos EUA discutir a situação na região.
Israel exigia a entrega dos seis procurados, entre eles os responsáveis pela morte do ministro de Turismo, Rehavam Zeevi, em outubro, para pôr fim ao cerco.
Uma corte militar palestina, formada dentro do complexo onde está Arafat, condenou na semana passada os responsáveis pelas mortes a penas que variam de um a 18 anos de prisão. Fuad Shubaki -suspeito de envolvimento no episódio do barco Karine A, em janeiro deste ano, que contrabandeava armas para os palestinos e foi interceptado por Israel- também ficará sob custódia de norte-americanos e britânicos.
A Frente Popular pela Libertação da Palestina, que reivindica a responsabilidade de ter matado o ministro israelense em resposta à morte de um de seus líderes, pediu a Arafat que rejeitasse o plano.
Ainda não está definido quando os homens procurados por Israel serão transferidos para a prisão.

Missão da ONU
O gabinete israelense anunciou ontem que a ONU não cumpriu as condições para que a missão da entidade investigue o que aconteceu no campo de refugiados de Jenin, onde, segundo os palestinos, aconteceu um massacre, com a morte de centenas de civis.
Israel, que inicialmente aceitou a missão aprovada por unanimidade no Conselho de Segurança da ONU, voltou atrás na semana passada, pedindo a inclusão de mais militares e especialistas em terrorismo na equipe, composta majoritariamente por civis.
A ONU alterou em parte a composição da equipe, mas Israel a considerou insuficiente. Israel afirma que 48 palestinos, a maior parte militantes armados, foram mortos, enquanto 23 soldados israelenses morreram. Durante a ofensiva, os israelenses impediram a entrada da imprensa e de organizações humanitárias.
Ontem o Conselho de Segurança da ONU se reuniu e decidiu que o secretário-geral da entidade, Kofi Annan, tem até hoje para resolver o impasse com Israel e para conseguir que a missão entre no campo de refugiados. O presidente do Conselho de Segurança, o russo Sergei Lavrov, não disse o que pode acontecer se Israel mantiver a sua posição.


Com agências internacionais

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