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Cohn-Bendit qualifica de absurdo boicote de Jospin a atos anti-Le Pen
DO "LE MONDE"
"Isso não é apenas chocante,
mas absurdo e até idiota". É assim
que Daniel Cohn-Bendit, deputado verde no Parlamento Europeu
pela França, qualificou o fato de o
premiê francês, Lionel Jospin, ter
pedido a seus ministros que não
participem das manifestações anti-Le Pen programadas para o 1º
de Maio. Cohn-Bendit, que foi um
dos principais líderes do movimento estudantil de maio de 68
na França, falou ao jornal "Le
Monde" sobre a atual situação política na França.
Le Monde - O senhor acha que
Lionel Jospin demorou para pedir
aos franceses que "exprimissem,
pelo voto, a sua rejeição à extrema
direita" sem citar Jacques Chirac?
Cohn-Bendit - Eu compreendo
que Lionel Jospin tenha precisado
de tempo para refazer-se e assumir sua derrota pessoal. Mas é um
erro que ele só tenha falado em
"rejeição à extrema direita" implicitamente, às escondidas, e de
longe. Sua responsabilidade era
pedir explícita e publicamente,
pelo rádio, pela TV e nas ruas, o
voto para Jacques Chirac. Acho
que ele ainda não se reencontrou.
Fiquei indignado com o fato de
ele ter pedido a seus ministros para não se manifestarem no dia 1º
de Maio contra a Frente Nacional.
Isso não é apenas chocante, mas
absurdo e até idiota.
Le Monde - O senhor afirmou no
"Libération" de 26 de abril que teria votado em Jospin no primeiro
turno se tivesse podido prever o resultado. Isso significa que os verdes não deveriam ter lançado candidato no primeiro turno?
Cohn-Bendit - É claro que deveriam. Eu fiz campanha para Noël
Mamère. Minha afirmação foi
uma reação do coração. A razão
política me leva a apoiar Noël,
mas a emoção, vendo que Lionel
Jospin não passou para o segundo
turno, me leva a afirmar hoje que
eu teria votado nele. A verdadeira
questão é: por que o PS não conseguiu mobilizar seu eleitorado?
Lionel Jospin poderia ter conseguido os 200 mil votos necessários para estar no segundo turno,
se tivesse mobilizado suas tropas.
Le Monde - O senhor não considera, como muitos outros, que o
grande número de candidatos de
esquerda fez Jospin perder?
Cohn-Bendit - Colocou-se a carroça na frente dos bois. Se o PS,
dois anos atrás, tivesse decidido
introduzir um pouco de proporcionalidade nas eleições legislativas, teria sido possível e desejável
uma candidatura única da esquerda. A partir do momento em
que os partidos políticos não têm
outra alternativa para medir sua
audiência real na sociedade, o primeiro turno da eleição presidencial se torna logicamente a alternativa ao sistema proporcional.
Le Monde - Esse sistema também
favoreceria a extrema direita...
Cohn-Bendit - Eu sou um democrata. Não posso recusar um sistema mais democrático só porque o
partido que eu detesto e que combato também seria beneficiado. O
escrutínio majoritário, as instituições da 5ª República, não impediram a França de perder-se na situação que todos conhecemos.
Le Monde - E como fica a situação
se Chirac for eleito por um votação
esmagadora?
Cohn-Bendit - O sonho seria que
houvesse 90% dos votos contra a
guilhotina, o ódio, a intolerância,
o racismo, o anti-semitismo, a
cancerização [em francês, esses
termos formam um acróstico para Chirac]. Esse resultado ultrapassaria por ampla margem a direita e daria aos franceses o poder
de reequilibrar a República nas
eleições legislativas, em junho.
Le Monde - É plausível que haja
mais cinco anos de coabitação?
Cohn-Bendit - Concedo que isso
exigiria uma reviravolta política
que é muito difícil. A esquerda
precisaria reaprender, e em velocidade máxima, a colocar-se à escuta da sociedade, precisaria reinventar um reformismo libertário
que ela perdeu.
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