São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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MASSACRE

Estudante que matou 16 pessoas foi contido por professor, que tirou sua máscara e exigiu que ele o olhasse nos olhos

Autor de chacina em escola escondeu expulsão dos pais

DA REDAÇÃO

Os pais de Robert Steinhaeuser, o jovem de 19 anos que na última sexta-feira matou 16 pessoas e em seguida se suicidou numa escola secundária da cidade alemã de Erfurt, não sabiam que ele havia sido expulso por ter apresentado um falso atestado médico.
Segundo a polícia, ao sair de casa para praticar a carnificina, Steinhaeuser disse que iria ao colégio para uma prova de matemática.
Rainer Grube, o delegado que chefia o inquérito sobre o episódio, disse que o estudante gostava de jogos de computador com enredos bastante violentos.
Os pais dele disseram desconhecer que a escola o tivesse punido com a expulsão. O episódio teria gerado o desejo de vingança, que terminou com a morte do próprio implicado, de dois outros alunos da escola, de 13 professores e ainda de um policial.
Enquanto isso, outros alunos e seus familiares decidiram ontem que as atividades rotineiras seriam retomadas o mais rápido possível, provavelmente até quarta-feira, evitando que o edifício se transforme em memorial às vítimas do ato inédito de violência.
A decisão anterior era a de manter a escola fechada por no mínimo mais uma semana. A polícia, para suas investigações, tornou o prédio inacessível a seus ocupantes habituais.
Por sua vez, um professor de história deu um testemunho emocionado sobre como aparentemente conseguiu evitar que o banho de sangue fosse ainda maior. O professor se postou num corredor a partir do qual o assassino atirava. Aproximou-se dele e o empurrou para dentro de uma das salas de aula.
O professor, chamado Rainer Heise, disse em entrevista à ZDF, uma das emissoras regionais de TV pública, que se aproximou do ex-aluno armado e retirou abruptamente a máscara com que ele cobria seu rosto. "Puxe o gatilho agora, Steinhaeuser, mas se você decidir me matar, eu faço questão que você continue a me olhar no fundo dos olhos", teria dito.
Ao que o rapaz, baixando a pistola, respondeu: "Tudo bem, sr. Heise, agora basta por hoje".
O prefeito de Erfurt, Manfred Ruge, disse que a predisposição dos pais e alunos de voltar à normalidade reflete a vontade de superar de forma racional o choque a que todos foram submetidos.
Uma estudante do último ano colegial, Michaela Seidel, disse que "vão ser necessários muitos anos para que superemos o trauma". Mas afirmou ao mesmo tempo que "uma escola é uma escola, e não queremos que coloquem aqui na frente uma imensa placa que lembre a todos tudo o que aconteceu".


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