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Lula torce por Kirchner, mas não teme Menem
FÁBIO ZANINI
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Discretamente, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva deseja a
vitória de Néstor Kirchner no segundo turno da eleição presidencial argentina. Lula ficou satisfeito
com a passagem do candidato da
situação para a etapa final contra
o ex-presidente Carlos Menem.
Oficialmente, o governo brasileiro não tem opinião sobre o pleito, uma vez que qualquer declaração poderia ser tomada como ingerência em assuntos internos do
país vizinho.
Reservadamente, no Palácio do Planalto e no Itamaraty, no entanto, a torcida por Kirchner, apoiado pelo atual presidente, Eduardo Duhalde, não poderia ser maior.
Segundo apurou a Folha, o governo brasileiro avalia que a Argentina encontrou alguma forma de estabilidade social e econômica, o que seria mérito de Duhalde.
Esse processo precisa da continuidade, representada por Kirchner, que promete inclusive manter no cargo o atual ministro da
Economia, Roberto Lavagna.
Há outro componente. Lula e
Menem nutrem inimizade histórica, com trocas de acusações de
lado a lado.
O argentino, em 1998, declarou
apoio a Fernando Henrique Cardoso na eleição de então e disse
que o Mercosul estaria em risco se
o petista vencesse. Já Lula afirmou, em janeiro deste ano, que
Menem, que chegou a ser preso
por autoridades argentinas, tomou parte em uma "roubalheira"
na Argentina.
Assessores do presidente citam
ainda a boa relação pessoal que
Lula e Duhalde desenvolveram,
principalmente após a visita do
argentino ao Brasil, em março,
como razão para a torcida por
Kirchner.
Ontem, o presidente brasileiro
ligou para seu colega argentino
para cumprimentá-lo pela "lisura" no processo eleitoral.
O Itamaraty e o Planalto também consideram que Kirchner
daria maior garantia de que trabalharia pela reconstrução do
Mercosul e aprofundamento dos
laços entre os dois vizinhos. Avalia-se que Menem, que em seus
mandatos anteriores defendia
"relações carnais" com os EUA,
tem entusiasmo menor pela
aliança regional.
Ao mesmo tempo em que há
torcida por Kirchner, não existe
pânico com a possibilidade de vitória de Menem, ainda que ela seja considerada menos provável
devido a seus índices de rejeição.
Avalia-se no Itamaraty que o ex-presidente "mudou um pouco",
tendo uma atitude hoje "mais positiva" quanto ao Mercosul.
Quanto às ofensas trocadas, diplomatas afirmam que podem ser
relevadas.
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