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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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Lula torce por Kirchner, mas não teme Menem

FÁBIO ZANINI
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Discretamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja a vitória de Néstor Kirchner no segundo turno da eleição presidencial argentina. Lula ficou satisfeito com a passagem do candidato da situação para a etapa final contra o ex-presidente Carlos Menem.
Oficialmente, o governo brasileiro não tem opinião sobre o pleito, uma vez que qualquer declaração poderia ser tomada como ingerência em assuntos internos do país vizinho.
Reservadamente, no Palácio do Planalto e no Itamaraty, no entanto, a torcida por Kirchner, apoiado pelo atual presidente, Eduardo Duhalde, não poderia ser maior.
Segundo apurou a Folha, o governo brasileiro avalia que a Argentina encontrou alguma forma de estabilidade social e econômica, o que seria mérito de Duhalde. Esse processo precisa da continuidade, representada por Kirchner, que promete inclusive manter no cargo o atual ministro da Economia, Roberto Lavagna.
Há outro componente. Lula e Menem nutrem inimizade histórica, com trocas de acusações de lado a lado.
O argentino, em 1998, declarou apoio a Fernando Henrique Cardoso na eleição de então e disse que o Mercosul estaria em risco se o petista vencesse. Já Lula afirmou, em janeiro deste ano, que Menem, que chegou a ser preso por autoridades argentinas, tomou parte em uma "roubalheira" na Argentina.
Assessores do presidente citam ainda a boa relação pessoal que Lula e Duhalde desenvolveram, principalmente após a visita do argentino ao Brasil, em março, como razão para a torcida por Kirchner.
Ontem, o presidente brasileiro ligou para seu colega argentino para cumprimentá-lo pela "lisura" no processo eleitoral.
O Itamaraty e o Planalto também consideram que Kirchner daria maior garantia de que trabalharia pela reconstrução do Mercosul e aprofundamento dos laços entre os dois vizinhos. Avalia-se que Menem, que em seus mandatos anteriores defendia "relações carnais" com os EUA, tem entusiasmo menor pela aliança regional.
Ao mesmo tempo em que há torcida por Kirchner, não existe pânico com a possibilidade de vitória de Menem, ainda que ela seja considerada menos provável devido a seus índices de rejeição.
Avalia-se no Itamaraty que o ex-presidente "mudou um pouco", tendo uma atitude hoje "mais positiva" quanto ao Mercosul. Quanto às ofensas trocadas, diplomatas afirmam que podem ser relevadas.


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