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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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AMÉRICA LATINA

Para analistas, estrutura política impede cumprimento da promessa

Corrupção é alvo, diz eleito paraguaio

ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

O presidente eleito do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, prometeu ontem priorizar o combate à corrupção, ao contrabando e à evasão fiscal em seu governo. As promessas, no entanto, são vistas com reservas pelos analistas, que apontam a estrutura de poder do Partido Colorado, que governa o país há 56 anos, como seu principal empecilho.
"A corrupção no Paraguai é uma forma de mediação política. Estão envolvidos com ela vários dos que têm poder político ou econômico", diz o cientista político Tomás Palau, do centro de pesquisas Base. "Se combater essas pessoas, o presidente perderá seu apoio político", afirma.
Duarte, que deve assumir o cargo em 15 de agosto, para um mandato de cinco anos, foi criticado também pelo analista político Carlos Martini, professor da Universidade Católica de Assunção e comentarista da TV Canal 13. Ao entrevistar Duarte, após o anúncio do resultado da eleição, Martini questionou-o por ter recebido, diante das câmeras, as felicitações de Oswaldo Domínguez Dibb, presidente do clube de futebol Olimpia, acusado de contrabandear cigarros ao Brasil. Domínguez, que disputou com Duarte a indicação do Partido Colorado para a candidatura à Presidência, entregou ao eleito uma cópia de seu programa de governo.
Segundo um ranking publicado pela organização Transparência Internacional, o Paraguai é o país mais corrupto da América Latina.
O presidente eleito defende a tese de que seu grupo político dentro do Partido Colorado -adversário do atual presidente, Luis González Macchi, que escapou de um processo de impeachment por corrupção no início do ano- poderá promover uma revolução interna, afastando os corruptos.
"A corrupção chegou a tal nível que é quase impossível combatê-la internamente, como propõe Duarte Frutos", diz Palau. "Se quiser fazer isso, terá de negociar com contrabandistas e traficantes de drogas e de armas."
A propalada força política do ex-general Lino Oviedo saiu abalada das eleições de anteontem. Além de ter visto seu candidato, Guillermo Sánchez Guffanti, ficar em quarto, Oviedo também perdeu aliados no Congresso.
Segundo projeções, o partido do ex-general, a Unace (União Nacional dos Cidadãos Éticos), dissidência do Partido Colorado, elegeu quatro ou cinco senadores e entre seis e oito deputados, contra sete senadores e 19 deputados (de um total de 45 senadores e 80 deputados) antes da eleição.
Oviedo, condenado por tentativa de golpe em 1996 e hoje exilado no Brasil, apostava numa possível vitória de Sánchez Guffanti e no crescimento de seu partido no Congresso como armas para ser anistiado e voltar ao Paraguai.
Duarte prometeu dar garantias a Oviedo de que terá direito a um processo judicial independente se retornar ao Paraguai.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou carta de felicitação ao presidente eleito do Paraguai e o convidou a visitar Brasília.


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