São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

Brasil quer apuração de abusos na Síria

Governo apoia envio de missão do Conselho de Direitos Humanos ao país, palco de massacres nos últimos dias

Ditador Assad já teria massacrado mais de 500 pessoas em ações contra opositores, de acordo com ativistas

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O Brasil apoia o envio de uma missão do Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH) à Síria para averiguar as mortes de civis pelas forças de segurança nos protestos contra o regime do ditador Bashar Assad.
Um grupo de direitos humanos da Síria elevou ontem para 500 o número de mortos desde o início dos protestos, há seis semanas.
Uma sessão especial do conselho foi convocada para hoje, em meio à divisão dos países-membros entre uma condenação dura, proposta pelos EUA e pelos aliados europeus, e uma resolução menos incisiva, como defendem os países islâmicos.
O Brasil avalia que a Síria merece uma condenação, mas defende que seja aprovada uma posição intermediária entre as defendidas pelos dois grupos.
Segundo a embaixadora do Brasil na ONU em Genebra (responsável pelo CDH), Maria Nazareth Farani Azevêdo, o país prefere uma "abordagem gradual".
O envio de uma missão à Síria chefiada pela alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, seria um começo apropriado, acredita a embaixadora.
Há alguns dias, Pillay emitiu comunicado com duras críticas à violência do regime sírio. "A comunidade internacional exortou o governo sírio repetidas vezes a que pare de matar seu próprio povo, mas os nossos apelos não foram ouvidos", afirmou a comissária.

HERANÇA
O Brasil mantém boas relações com a Síria em Genebra, na ONU, e em geral.
É uma espécie de herança diplomática do ex-chanceler Celso Amorim, que esteve diversas vezes em Damasco.
Para enfatizar o nível de confiança, Amorim contava que, numa das visitas, foi portador de uma mensagem ao governo de Israel.
Os abusos do regime de Assad eram deixados de lado nas conversas de Amorim com o ditador.
Agora, a Síria é mais um teste para a diretriz da presidente Dilma Rousseff de ter nos direitos humanos o foco da política externa brasileira.
Até agora, a principal mudança com relação ao governo Lula foi a decisão de apoiar o envio de um relator especial para investigar abusos no Irã.
"A situação é séria? É. Civis estão sendo mortos? Sim. Mas temos que aplicar os remédios disponíveis ao conselho", diz Farani Azevêdo.
A sessão de hoje em Genebra será a segunda tentativa nesta semana de obter consenso sobre a Síria na ONU.
No Conselho de Segurança, em Nova York, isso não foi possível, já que China e Rússia não embarcaram na proposta americana de condenação do regime Assad.
Enquanto EUA, Alemanha e outros países defendem sanções caso a repressão continue, os britânicos puniram a Síria à sua maneira: o embaixador sírio em Londres foi "desconvidado" para o casamento real.


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